quarta-feira, 27 de abril de 2011

Conversa de bar ou de boliche

Madres Mayo: a mesma plataforma de luta de todas as mães latino americanas

Se há uma coisa ridícula que une brasileiros e argentinos no mesmo tom de agressividade é a disputa mútua, diria ódio mesmo.
Qual é a lógica?
No Brasil, argentinos são ridicularizados até em comerciais de televisão. São apresentados sempre como arrogantes e ultrapassados. Na Argentina, os brasileiros são prepotentes, exagerados e assim por diante.
Brasileiros e argentinos levam o campo de disputa esportiva para dentro de suas vidas. São intolerantes em relação ao vizinho, os aspectos mais comezinhos.
Mas, no fundo. No fundo mesmo. Admiram-se mutuamente.
Certa vez fiz um ponto com comunistas argentinos em Buenos Aires e fiquei perplexo com a descrição política que eles faziam do Brasil. Davam a entender que a revolução estava a um passo e que seria fruto da ousadia de costumes apresentada nas novelas da TV Globo.
Ficaram decepcionados e incrédulos quando eu disse que era mais fácil D.Pedro I se transformar no fantasma de D.Sebastião e passar a assustar a todos do que as classes proletárias brasileiras empreenderem uma revolução. Não entendiam porque Jorge Amado não era o grande motor da ânsia socialista e porque uma figura como Luís Carlos Prestes não tinha no Brasil o mesmo papel importante que desempenhava nos países da América Latina.
Outro dia me contaram que na gloriosa UnB, aqui de Brasília, professores desfilavam a tese esdrúxula de que o Brasil não faz parte da América Latina. Por suas peculiaridades históricas e pelo seu tamanho, ele se constituiria num continente próprio, lindeiro destes pobres países de fala espanhola.
Como se sabe, nós brasileiros sempre nos consideramos a bala que matou Kennedy. Assim como somos os melhores neste negócio de correr atrás da bola, somos também os campeões da desigualdade, do preconceito contra pobres, da concentração de renda e uma série de outros campeonatos. Esquecemos que a nossa história é trágica. Que nos livramos e mal da escravidão, aliás fomos um dos últimos países do planeta. Que empreendemos pelo menos uma guerra estúpida contra a Argentina. E que ganhamos o apelido de “macaquitos” por conta de uma dominação imensa em Buenos Aires, onde nossos valorosos soldados não deixaram uma única mulher intocada. Como nossos soldados eram negros alforriados...
Camponeses sem terra: no Brasil como em qualquer pais vizinho
Muita coisa une argentinos e brasileiros. A imbecilidade de suas classes médias, rigorosamente idêntica. O descomprometimento absoluto com a construção de seus países. O poder devastador da colonização cultural.
Outras coisas nos separam. A revolução educacional na Argentina se deu ainda com Sarmiento, no século XIX. No Brasil, efetivamente no início do século XXI. Quando nós conseguimos chegar eles já estão saindo. Resultado: os argentinos aproveitaram melhor o século XX. Nós o desperdiçamos.
Militares argentinos e brasileiros se odeiam, talvez por serem igualmente intervencionistas, reacionários, e estarem sempre a soldo de uma classe dominante corrupta e vendida aos interesses das potências colonialistas.
O Brasil é gigante, multirracial, primitivo em alguns aspectos. A Argentina é pequena, européia, sofisticada e praticamente centralizada em Buenos Aires.
Brasileiros tem um Atlântico quente e praias formosas. Argentinos tem a neve e a imponência da Cordilheira dos Andes.
Argentinos são italianos que falam espanhol e pensam que são ingleses. Brasileiros são um bando de loucos, preguiçosos, dependentes de um estado patrimonialista.
Deveríamos aprender uns com os erros e os acertos do outro. Deveríamos construir uma nação só, separada talvez e, afortunadamente, pela língua. Deveríamos conviver em paz e nos preocupar com nossos irmãos uruguaios, paraguaios, chilenos, bolivianos, peruanos, equatorianos, colombianos e venezuelanos. Deveríamos ter a modernidade de entender que nossos adversários são os mesmos: os países colonialistas que insistem em nos dominar e que não desistem. Deveríamos entender que juntos seríamos fortíssimos, absolutos, auto-suficientes.
Lula entendeu isso. Por isso tornou-se um padrão de orgulho brasileiro e latino-americano. Fernando Henrique nunca se preocupou com isso e ganhou o esquecimento. Dilma poderia propor derrubar de vez as barreiras alfandegárias entre nós. Que mal as economias vizinhas poderiam provocar na nossa?
Poderíamos intercambiar nossas políticas públicas. Ensinar e aprender. Derrubar o preconceito e a arrogância mútua.
É bom parar por aqui. Logo vai aparecer alguém e me chamar de bolivariano, ou de guevarista. Afinal, o Che disse com todas as letras, ainda menino, no Leprosário de São Paulo, no Peru, nas barrancas do rio Amazonas: “Saúdo este continente maravilhoso, do rio Grande a Patagônia, que se consolida em uma única nação multirracial e oprimida”.
Grande Guevara! Nascido na Argentina, herói cubano, cidadão do continente. Sempre à frente de seu tempo, com a visão terna e firme dos revolucionários.
Ainda temos muito para construir. O primeiro passo talvez seja acabar com esta rivalidade ridícula entre brasileiros e argentinos, peruanos e equatorianos, colombianos e venezuelanos. Terminar com as desconfianças mútuas, eternamente plantadas pelo colonizador, pode ser um bom começo.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

O enigma de Jesus Cristo

Fim de semana com Enrico e Bianca comigo e uma constatação óbvia. Como é bom beber os filhos. Saborear o que eles têm de melhor: a vida e o futuro. E até para não fugir do óbvio, como hoje é Sexta-Feira Santa, vale uma reflexão sobre a mais importante figura da humanidade, independente de se acreditar na sua divindade, no seu poder ou na confusa teoria agostiniana do Deus filho.
É preciso reconhecer que alguém que jamais escreveu uma linha sequer, jamais frequentou uma escola, criou-se em meio à ocupação político e econômico romana, na periferia do Levante, no reinado de um Herodes corrupto e depravado, e ainda assim teve o poder de servir de marco zero da civilização ocidental, a ponto de dividir o tempo entre antes do seu nascimento e depois, este sujeito é poderosíssimo, sem dúvida.
Sou do tempo em que a quaresma era um período de trevas, em que os santos da igreja eram cobertos, em que na semana santa não se podia ouvir o rádio alto, os cinemas mostravam sempre na sexta-feira a Paixão de Cristo. As procissões eram seríssimas, a do enterro marcadamente solene, onde o ponto alto era a canção da Verônica com a impressionante toalha com a forma do rosto do Cristo desenhado com o seu próprio sangue.
Outro dia conversava com o meu irmão Luís Massonetto sobre a liturgia da missa da vigília da Ressureição. Não sei como é hoje e tenho calafrios só de pensar como os carismáticos encaram este desafio. Mas, era um ritual enorme, sofrido, com uma homilia, obrigatoriamente calcada no Evangelho de São João, capaz de provocar reflexões tremendas.
Jesus teria sido apenas vítima da intolerância judaica? Soa engraçado, mas muito provável, que o Messias tenha sido punido, na verdade, não por heresia, mas por ter atentado contra o poder econômico ao interferir no comércio da sinagoga, expulsado os vendilhões, e mexido na “boquinha” da turma de Caifás. Tinha que morrer. O cara se diz filho de Deus, defende os pobres, prega um novo reino de paz e justiça social e ainda quer acabar com o “por fora” dos manda chuvas.
Messadie: cronologia minuto a minuto da Paixão
Uma das leituras que mais me impressionou nos últimos anos foi O Enigma Maria Madalena, do jornalista, historiador, ensaísta e romancista francês Gerald Messadie. O livro está disponível ainda no site da Americanas.
Messadie reescreve a saga de Jesus de uma maneira curiosíssima e, ao seu estilo, com uma racionalidade impressionante, garante que ele não morreu na cruz. Teria sido salvo por uma conjunção de interesses femininos, onde desponta o poder financeiro de Maria Madalena e a conversão da mulher de Pôncio Pilatos.
Jesus teria sido dopado com doses cavalares de láudano tão logo chegara a fortaleza de Jerusalém, na noite de quinta-feira, o que explicaria a capacidade extraordinária de ter  apanhado tanto da soldadesca. O doping explicaria também porque ele aceitou tudo de forma tão resignada, sem uma única palavra.
Messadie analisa minuto a minuto os episódios da sexta santa e conclui que Jesus não morreu na cruz. Os argumentos são no mínimo inquietantes. Levando-se em conta que o episódio do Lava Mãos tenha ocorrido nas primeiras horas da manhã e que a via sacra tenha demorado no mínimo duas horas, a crucificação não teria se concluído antes das 10 horas da manhã.
Pois bem a morte por crucificação se dá por asfixia. Ou seja, com a exaustão dos músculos dos ombros provocada pela postura, o próprio esqueleto acaba por provocar o estrangulamento. Este processo demora dias, numa agonia lenta e inclemente.
Alguns historiadores dizem que o eclipse solar que marca a execução de Jesus se deu por volta do meio dia. Outros que foi perto das 15 horas. O certo, entretanto, é que José de Arimatéia se apresentou para Pilatos com o requerimento pelo corpo do Messias , por volta das 11 horas, antes portanto dele morrer.  
Romanos, naquela época, tomavam banho de sabão de coco e escovavam os dentes com Cândida, ou seja, eram pão, pão, queijo, queijo. Como poderiam conceder o corpo de um condenado antes dele morrer? O mais surpreendente é que Pilatos concedeu.
Na versão de Messadie, Jesus é tirado da cruz desacordado, mas vivo. O que explicaria a ressureição e as aparições futuras.
Isso tem alguma importância? Nenhuma. Não diminui, nem relativiza o que Jesus ensinou. É verdade que a consubstanciação de Deus no homem, expressa pelo fenômeno da assunção dele aos céus é o que o transforma no profeta dos profetas, e lança as bases do surgimento da era cristã.  Isso nos leva a mesma conclusão que o Judas Escariotis alcançou no livro A Última Tentação de Cristo, do escritor grego Nikos Kazantzakis, de 1951.
Kazantzakis: tentação do demônio
 Na versão dele, Jesus tinha se livrado da cruz pelos poderes de um anjo e vivia confortavelmente com Maria Madalena, quando foi descoberto pelo apóstolo. Horrorizado, Judas mostra ao Messias que a tentação da sobrevivência era do diabo e que se ele quisesse se perpetuar e fundar uma nova civilização, tinha que voltar para a cruz.
Messadie não tem a pretensão de derrubar mitos ou de diminuir o poder do Cristo. Apenas conta uma história muito bem contada e, diria, inquietante.
Independente destas elucubrações, é agradável celebrar a Páscoa, a Passagem dos Judeus, a libertação da escravidão no Egito e a ressureição do Cristo, junto com os filhos, a família e com um pensamento de paz para os amigos. Boa Páscoa para todos!

domingo, 17 de abril de 2011

Siga el baile....

O que esconde a crise da OSB: interesses corporativos e o maestro Neschling?

Tinha prometido a minha esposa Rejane que não voltaria ao assunto. Ela ficou assustada com a reação de alguns professores da OSB ao meu post Orquestra de Chinelinhos. Sem poder usar argumentos racionais, dita a regra que se deve atacar o interlocutor. Com 40 anos de jornalismo estou bastante acostumado com isso.  Todos os que me criticaram preferiram me dizer que eu não sabia do que estava falando.  A crise, entretanto, está longe do desfecho.
Insisto na comparação com o Ensaio de Orquestra, de Fellini. O que está em discussão é a mais primitiva discussão corporativa. É a boquinha ameaçada, o pânico que se instala diante da possibilidade de um teste de avaliação.
No Globo de hoje, meu compadre Ancelmo Gois informa que por trás de tudo pode estar o maestro John Luciano Neschling. Não acredito.
Trocar Minczuk por Neschling é trocar seis por meia dúzia. Aliás, diria que o ex-marido da Lucélia é ainda mais rigoroso, menos afeito aos apelos corporativos e mais exigente.
Na sexta 15, os músicos da OSB deram conhecimento de sua pauta de reivindicações. Achei até tímida. Eles querem apenas que o Minczuk desapareça e que os colegas afastados ou demitidos pela insurreição contra o tal teste de avaliação sejam reincorporados. De resto, como diz aquela canção argentina Siga el baile...Siga el baile.
Gostaria de sugerir aos professores da OSB que incorporem algumas questões mais específicas às suas reivindicações, a saber:
1.   O fim da figura do regente, que seria substituído por um metrônomo gigante, como no filme do Fellini;
2.   A proibição de qualquer crítica, partindo do pressuposto que ninguém sabe do que está se falando.
3.   A manutenção da falácia de que a OSB é uma das melhores orquestras do mundo. No caso de alguém discordar, prevalecerá imediatamente o item anterior.


1.   

sábado, 16 de abril de 2011

De volta para o passado

Imponência no Ibirapuera: prédio original da Assembléia Legislativa de São Paulo

Esta semana estive de volta a um cenário muito marcante na minha formação profissional. Os mais novos podem achar impossível, mas acreditem a Assembleia Legislativa de São Paulo já foi um polo de grandes ideias, de debates políticos, celeiro de grandes lideranças e palco de eventos marcantes.
Um café na sala de imprensa sempre rendia uma boa pauta. O ambiente era agradável e quase sempre rolava uma informação de cocheira. Alguns políticos da esfera federal, o então senador Montoro, por exemplo, tinha o hábito de prestigiar o legislativo estadual e toda a segunda-feira antes de embarcar para Brasília dava uma “canja” por lá. Não que eu me lembre dele ter feito alguma revelação bombástica, ou passado uma informação de derrubar quarteirão, mas sempre era um bom papo.
Era difícil cobrir a política de São Paulo no final dos anos 70 e início dos anos 80. Era preciso frequentar um circuito curioso, que começava na Assembléia, passava pelo escritório de engenharia de Mário Covas, pelos escritórios de advocacia de Gastone Righi e Almino Afonso, pela casa do presidente Jânio Quadros no condomínio Acapulco, no Guarujá, pelo escritório da dupla Airton Soares e Luís Eduardo Greenhalg, na Bela Vista, e finalmente no Palácio dos Bandeirantes, onde uma singela provocação ao governador Paulo Maluf, rendia lead seguro.
Figueiredo e Maluf: com essa os militares não contavam
Maluf é mesmo uma figura. Lembro-me até hoje do dia da sua eleição indireta na Assembleia. Eu estava designado para fazer a cobertura, mas quando sai da redação de IstoÉ a capa da revista estava pronta e a matéria redigida. A dupla Armando Salém e Francisco Barreiros havia convencido o editor Tão Gomes Pinto e o diretor Mino Carta de que a eleição de Laudo Natel era favas contadas.
Os argumentos da dupla eram de uma segurança impressionante: “O Golba (Golbery do Couto e Silva) e o Alemão (o presidente Ernesto Geisel) articularam com as bases do ademarismo, bla-bla-bla”.
Não era a informação que eu tinha. Maluf vinha como um tsunami. Mas, ninguém iria dar ouvidos a um borra-botas. Pelas dúvidas, o Tão me mandou para a Assembleia com a missão de ligar confirmando o resultado da votação.  Nada mais. Bastava dar um telefone e a revista seguiria para a impressão.
Como todos sabem, Maluf deu uma sonora lavada em Laudo Natel. E como só e acontecer, ocorreu de tudo. Cortaram a luz, o candidato sentou-se sobre as urnas. Foi um circo inesquecível. Da minha parte, guardo até hoje a lembrança do tal telefonema:
- Alo, Tão? É o seguinte, avisa o Mino que é para ele jogar a revista toda no lixo, porque o Maluf ganhou.
- Como ganhou?
- Acredite, ele teve mais votos que o Laudo. Mas, a gente pode criar uma realidade alternativa.
- Deixa de viadagem e vem logo para a redação.
Prestes: o Poeta e o Capitão
Foi na Assembleia, mais precisamente na sala de imprensa, que eu conheci pessoalmente um dos mitos que habitava o meu ser. O mitológico Luís Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança,  um personagem que era a própria história do Brasil do século XX.
Ele voltava do exílio e ao chegar a São Paulo decidiu que o legislativo paulista seria sua primeira parada. Havia uma grande ansiedade entre os coleguinhas e ele chegou simples, humilde, acompanhado de outro monstro, Gregório Bezerra. Houve um momento de um silêncio profundo, respeitoso, quando ele sentou-se em uma cadeira e nós nos organizamos em círculo ao redor dele.
Metido como sempre, quebrei o silêncio e perguntei:
- O senhor nos desculpe, mas como devemos tratá-lo?
Prestes me olhou no fundo dos olhos, coçou o queixo, sorriu com orgulho e respondeu:
- Como senador. O último cargo público que eu conquistei e que me foi outorgado pelos trabalhadores de São Paulo.  
Foi um grande momento, uma grande entrevista, que se prolongou por mais de duas horas. Quem quiser conhecer mais sobre Prestes, recomendo o documentário do meu amigo Toni Venturi, “O Velho”, uma obra prima de sensibilidade, disponível, eu espero, nas grandes livrarias e sites de DVDs. Também recomendo a passagem sobre ele em “Confesso que vivi”, do genialíssimo Pablo Neruda, onde ele conta que veio a São Paulo homenagear o cavaleiro da esperança no Estádio do Pacaembu, quando de uma de suas inúmeras libertações. Meu amigo Jorge de Oliveira fez um vídeo maravilhoso sobre este episódio tão pouco conhecido das novas gerações.  Chama-se “O Poeta e o Capitão”.
Na quarta-feira passada acompanhei o ministro Fernando Haddad a uma audiência pública com mais de 20 entidades do movimento social na Assembleia Legislativa de São Paulo, sobre o Plano Nacional da Educação. Estava escudado pelas minhas jovens assessoras Emle e Luciana e de quebra ainda ganhei a companhia da minha filha Bianca. Lidei com a nova geração da imprensa paulista. A bela e competente Mariana Mandelli, o eficientíssimo Luciano Máximo, o impetuoso Rafael Targino e a sóbria e cirúrgica Fernanda Nogueira, que publicou notável entrevista com o ministro da Educação no G1, na manhã seguinte.
Mas, voltei para Brasília com uma trava na língua. Queria ter contado para eles que aquele cenário já havia sido grande e respeitoso. Não sei se eles iriam acreditar ou se estavam dispostos a ouvir. Como diz, uma das minhas mais amadas colegas, a Karina Yamamoto, ninguém está interessado mais em arqueologia jornalística.
- Para você ter uma ideia, eu sou veterana! – disse a pequena.
- E eu então? Sou jurássico! 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Assim é, se lhe parece...


O flautista Murilo Moss Barquette ficou absolutamente indignado com o post anterior, Orquestra de Chinelinhos. É um direito que ele tem. E eu respeito isso. Admito até que ele me chame de insano. A democracia é assim, quem fala o que quer, ouve o que não quer.
Entretanto, quero deixar claro que não tenho procuração, nem conheço o maestro Minczuk. Admiro os mestres Nelson Freire, Cristina Ortiz, Marlos Nobre e, com certeza, o maestro Isaac Karabtchevsky. Por outro lado, segue no ar a pergunta que não tem resposta: por que os músicos da OSB, como ocorre com qualquer orquestra do mundo, e em praticamente todos os ramos da atividade humana, não querem se submeter a um processo de avaliação?
Desqualificar-me não responde a pergunta. Citar outros músicos tampouco.
De qualquer maneira, Murilo, agradeço a sua audiência ao meu blog. Não o considero medíocre, nem acho que suas palavras são ridículas. Você tem todo o direito de defender o seu ponto de vista, o ponto de vista da sua corporação, da sua turma, ou seja lá o que você representa. Assim como eu tenho o direito de questionar a todos eles.
Democracia é a arte de conviver com posições contrárias e respeitá-las. Cumprimento-o pela coragem de se expor.
Só não tenho certeza que emergirá uma solução para o problema. Insisto que as orquestras brasileiras, com raras exceções, são corporativas, ensaiam pouco, estudam menos ainda e se apresentam bem menos do que deveriam. Enquanto isso. Como no filme de Fellini, o prédio balança diante da eminente demolição.

domingo, 10 de abril de 2011

Orquestra de chinelinhos

Ensaio de Fellini: orquestra toca em meios aos escombros da demolição
O grande Federico Fellini decidiu homenagear seu amigo Nino Rota e realizou um pequeno filme para a televisão chamado Ensaio de Orquestra. Claro que o maior gênio italiano do cinema não coube na telinha da RAI e ganhou salas em todo o mundo.
Trata-se de um filme inquietante, onde os músicos de uma orquestra se sublevam contra um maestro tirânico, ao mesmo tempo em que a sala onde ensaiam chacoalha diante de uma demolição alheia aos sons ou ao valor artístico e arquitetônico do local.
Ao final, machucados, desgastados, desunidos, os músicos retomam o ensaio em meio aos escombros da demolição.
Eis uma sugestão para o diretor da Orquestra Sinfônica Brasileira, Eleazar de Carvalho. Faça com que seus músicos apreciem o discurso felliniano e reflitam afinal sobre a patetada que estão empreendendo. Isso para não falar do suicídio artístico e do ridículo de cancelar um concerto com o teatro cheio.
Para quem não sabe do que eu estou falando, o maestro Roberto Mincsuk, com a direção da OSB, decidiu empreender uma série de avaliações com os músicos daquele conjunto musical, com o objetivo de separar o joio do trigo, aprimorar os naipes, dar formação a quem precisa e se livrar dos habituais enganadores. Isso acontece em todas as grandes orquestras do mundo, com efeito em todas as corporações sérias, até em redações de jornais. Só não acontece no serviço público, mas essa é outra história...
É claro que os músicos se sublevaram. Fizeram uma campanha insidiosa, cancelaram contratos, agendas e assim por diante.
Vamos por partes. A OSB é uma orquestra de renome internacional, de um timbre magnífico, uma afinação extraordinária?
Não. É medíocre. A ponto de regentes convidados reclamarem que os músicos não se preparavam para os ensaios.
Complicado. Os professores começaram a acreditar nos adjetivos fáceis, nos elogios neófitos e perderam o senso crítico. Ser uma das melhores orquestras brasileiras não quer dizer muita coisa.  
O músico brasileiro deve ser um ser perturbado. Deve ter uma alma confusa. O exercício da sua profissão, do seu metiere, deve ser um sofrimento tremendo.
Claro, claro, ele é mal pago, não tem o seu valor reconhecido, enfrenta problemas existenciais, vive na dúvida se toca em uma churrascaria ou em um casamento. Se é bom o suficiente para tocar na Filarmônica de Nova York, ou na Lyra Sinfônica de Campos.
Tsk,tsk,tsk... Quem de nós, profissionais das mais variadas atividades e dos mais variados níveis não enfrentamos estes problemas?
Lígia Amadio: regente brilhante
Uma das boas coisas que o meu amigo Fernando Haddad me propiciou foi conhecer a maestrina Lígia Amadio. Mulher extraordinária, olhos vivos e brilhantes,  idealismo à flor da pele. A pobre estava confinada à direção da Orquestra Sinfônica Nacional, a antiga orquestra da Rádio Nacional, que, por um destes descaminhos do poder público, agonizava na Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
Com o apoio do Ministério da Educação, decidimos fazer o que se espera de uma orquestra, fazê-la tocar. Encomendamos uma série de DVDs e CDs para documentar a produção musical brasileira e colocamos o conjunto para viajar.
Apresentaram-se em Brasília, em Ouro Preto, no Municipal do Rio, em Buenos Aires. Íamos fazer turnês pelo Nordeste do Brasil e até pela Europa, Porto, Paris, Florença.
Os músicos se rebelaram e colocaram a Lígia para fora. Até hoje eu não tinha entendido por quê. Agora sei. Cometemos o ato impensável de fazê-los trabalhar, de exigir ensaios, de estudar partituras. Nossa, que pecado!
Nem sei se a OSN retomou seus concertos. Sei que até hoje o posto de regente titular está vago. E deve continuar assim.
O problema dos músicos da OSN e da OSB é o mesmo. Eles têm que tocar. Vai ter gente que gosta e gente que não gosta. Gente que elogia e gente que critica. Emergirão músicos bons e outros nem tanto. Tudo muito complicado.
Em tempo, Ligia Amadio é a regente titular da orquestra da USP, da Sinfônica de Campinas e da Filarmônica de Mendoza, na Argentina. Nos últimos meses, se apresentou em Israel, na Tailândia e em diversos países da Europa. É reconhecida como uma das melhores regentes brasileiras da nova geração.    

As duas faces do grande desafio

Os presidentes Lula e Mujica em evento em Foz: Brasil precisa assumir que é líder

José Mujica (*)


Todos os países enfrentam dificuldades para se adaptar a um mundo cada vez mais globalizado, com muitos centros e periferias.
Em consequência disso, as formas tradicionais de produção e distribuição mudaram. As empresas transnacionais influem sobre uma parte importante do comércio mundial e indicam as regras às quais temos que nos adaptar. Para responder a esses desafios, o mundo está se organizando em grandes blocos.
Da América Latina, vemos que dois blocos grandes se erguem na Ásia, em torno da China e da Índia, competindo com as potências tradicionais, e nos perguntamos: "O que podemos fazer? Qual pode ser nosso peso, negociando fragmentados em muitas repúblicas distintas, sem a criação de um espaço comum?".
Até mesmo os maiores países de nossa região precisam do peso econômico e político do restante dos países. Isso se aplica também ao Brasil, o primeiro país latino-americano que saiu para atuar em nível mundial. Esse é um de seus enormes méritos, mas é também um desafio. Precisamos acompanhá-lo.
O Brasil precisa ter consciência de sua responsabilidade, e nós precisamos ter consciência de que precisamos nos agrupar em volta dele.
Por essa razão, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram em 1991 o Tratado de Assunção, para criar o Mercado Comum do Sul, o Mercosul. Hoje, Bolívia e Venezuela estão em processo de incorporação, enquanto Chile, Colômbia, Equador e Peru são Estados associados. Essa zona abarca quase 12 milhões de quilômetros quadrados, tem 380 milhões de habitantes e, além disso, possui imensos recursos humanos e naturais.
Somos conscientes das assimetrias do Mercosul e de seus defeitos, mas acreditamos que o modo de equilibrar essas assimetrias consiste em promover políticas de aproximação e inclusão do maior número possível de países sul-americanos.
A incorporação da Venezuela como membro pleno aguarda a aprovação do Senado paraguaio, onde existe certa resistência a Hugo Chávez. Meu governo é a favor da postulação de Caracas. Em primeiro lugar, porque não se deve confundir um país com um regime. Os governos passam, os países ficam.
Além disso, a Venezuela é um elemento compensatório em termos econômicos e de recursos naturais de todo o rio da Prata, porque ela precisa daquilo que nós produzimos. Por essa razão, sua inclusão no Mercosul serviria para reduzir as diferenças existentes.
Precisamos da Venezuela e dos outros países sul-americanos no Mercosul porque a potência do subcontinente é infinita, se somarmos a energia venezuelana e a água doce das reservas dos pampas do sul, o rio Amazonas e a experiência de nossos povos. A meta é construir uma nação que abarque todo o subcontinente. Outro grande problema que precisamos enfrentar com a integração e a inserção internacional é a redenção dos pobres da América Latina e a incorporação à civilização de enormes massas que precisamos incluir no crescimento, em um crescimento para dentro.
Tal desafio nos obriga a multiplicar a riqueza, os recursos e os conhecimentos, mas isso, por si só, não resolverá os problemas de uma humanidade dividida. Não há uma América Latina, há várias.
Há os esquecidos da terra, os condenados das favelas e as grandes capitais. Na luta pela expansão econômica e social, o maior mercado potencial está justamente na inclusão dos pobres. E, embora essa região tenha progredido muito na última década, ainda temos uma dúvida colossal com os pobres de nossos países.

(*) José Mujica é o presidente da República Oriental del Uruguay. E este texto está publicado na edição de hoje da Folha de S.Paulo.

sábado, 9 de abril de 2011

O Rio chorou. De novo.

Estive ontem com o ministro Fernando Haddad em Realengo, no cenário desta tragédia impressionante. Chamou-me a atenção o volume de cadeados e grades. Como era de se esperar, o clima no local era terrível, notadamente entre professores e funcionários da escola. Fernando Haddad, como sempre foi brilhante, lúcido, comedido, cirúrgico na sua intervenção. Não estava ali para se exibir, nem para coisa nenhuma. Colocou a posição do Estado com serenidade:
- Não sei que tipo de escola seria, se a segurança a mantivesse de tal forma apartada da comunidade, a ponto de impedir a frequência de um ex-aluno.
Haddad disse ainda que a melhor forma de garantir a segurança de uma escola é, justamente, o envolvimento da comunidade.
O país está chocado e com razão.
Da minha parte, entretanto, além do susto que eu tomei, quando recebi a notícia, fiquei impressionado com o volume de batatadas e os rompantes de imbecilidade que apressados especialistas trouxeram à tona.
Para começo de conversa, o único ineditismo deste malfadado incidente foi o fato dele ter acontecido dentro de uma escola. Execução absurda de crianças não é novidade no Brasil.
Corpos da Candelária: exibição do massacre na porta da Igreja 
Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, a gloriosa Polícia Militar do Rio de Janeiro executou sem piedade seis menores e dois maiores, moradores de rua, no entorno da Igreja da Candelária. As razões do crime hediondo, estúpido e inacreditável, tanto quanto o de Realengo, até hoje são desconhecidas. Fala-se em retaliação pelo fato dos meninos terem atirado pedras em viaturas da PM. Ou de vingança por um dos meninos ter assaltado a mãe de um oficial da corporação.
Na década de 80, cobri um episódio absurdo, ocorrido no centro velho de São Paulo. Um garoto de rua bateu uma singela correntinha de ouro de uma perua que vagava pelo entorno do Largo de São Francisco. Um bando de marmanjos querendo se exibir, deu perseguição ao menino de nove anos, alcançaram-no, recuperaram o bendito cordão, e lhe impingiram uma surra tão grande que o menino morreu.
Realengo: cenário da nova tragédia
Em outras palavras, a vida de um ser humano vale menos do que uma correntinha de ouro.
Quanto ao pobre imbecil que empreendeu a matança em Realengo, o Globo de hoje esclarece que a besta havia sido vítima de um bullying (termo da moda) terrível em seus tempos de estudante na Tasso da Silveira. Estranho no comportamento, tímido e afeminado, o cara teria sido alvo de uma maldade impressionante por parte, sobretudo, das meninas da escola, que o provocavam com falsos assédios para provocá-lo.
Tal maldade incutida dentro de uma mente originalmente perturbada, mais alguns comportamentos como a obsessão religiosa, ele era adepto da radicalíssima seita Testemunhas de Jeová, mais o acesso a sites estranhos ligados ao fundamentalismo, uma vida reclusa, o acesso fácil a armas e ao seu manejo, pronto.
Nada justifica o que ele fez. E nunca saberemos o que havia de fato na caixa preta deste cara. Mas, que esta receita é capaz de produzir um monstro, é.
Realengo é um subúrbio simpático na rota de Padre Miguel e Bangu. As casas são cuidadas, as ruas são limpas. Seu nome deriva da deformação de Real Engenho. Como não cabia na placa do bonde, foi abreviado para Real Engo. As pessoas se conhecem, conversam na rua. No século XIX, o glorioso Exército Brasileiro construiu lá uma fábrica de cartuchos. O Ministério da Educação, nesta gestão, transformou a bela edificação, cercada de mangueiras e outras árvores frutíferas em unidade do Colégio Pedro II.
Como este é um país onde prospera o FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País) gostaria de fazer coro ao brilhante editorial da Folha, no dia seguinte aos fatos: “Onde estão agora os energúmenos que defenderam e votaram pela manutenção do direito dos cidadãos manterem livremente armas em seu poder?” 

sábado, 2 de abril de 2011

Os rios que desaguam as almas

O Tevere  ou Tibre: histórias do surgimento da civilização ocidental na Urbi 
Dizem que os cursos d’água carregam para o mar as esperanças frustradas e as angústias humanas. Tomara.  Na geografia do planeta a relação dos rios com a história dos habitantes de suas margens é bastante reveladora.
É claro que há de se começar pela Urbi, onde desponta discreto, porém marcante, o Tevere ou Tibre, testemunha do surgimento da civilização ocidental. Ele fraciona a cidade. Porém deixa perceber ao observador atento que esteve sempre no cenário da glória romana. O Vaticano na sua margem direita, a Sinagoga à esquerda; o Castelo de Santo Ângelo e a Civita Vecchia.
As águas do Tevere serviram de espelho para as reflexões de Petrônio e lavaram o sangue desperdiçado pelo delírio de cônsules e imperadores.  Tudo isso passou, mas suas águas correm lépidas e atravessam a cidade, como se desafiassem a temporalidade da história.
O Arno, em Florença: reflexo da exuberância do Renascimento
Um pouco ao norte, o Arno é fogoso. Suas águas barrentas parecem voluptuosas. Da ponte construída por Benvenutto Cellini, a poucos metros da Gallerie dele Uffici, ele se ri da fragilidade de uma Florença que já engolfou por mais de uma centena de vezes.
O Arno é vaidoso. Carrega consigo o reflexo da nostalgia do Dante e a prepotência genial de Lorenzo, o Magnifico. Testemunha do Renascimento e do florescimento da ciência do conhecimento, ele desdenha de tudo e se anima nas ruelas milenares, construídas pelos etruscos, para irrigar vinhedos e olivais.
O Sena por sua vez é garboso. Como tudo em Paris parece pouco preocupado com o que pensam dele.  O grande Victor Hugo deu-lhe a incumbência de servir de mortalha para Javert, um estranho personagem obcecado pelo papel que o Estado lhe conferira, e que por anos a fio persegue Jan Valjean, um pobre miserável condenado por roubar um pedaço de pão.
O Sena em Paris: mortalha para um personagem de Victor Hugo
O Sena reflete ainda a Notre Dame e seu Quasímodo, as Tulleries, a Plaza de la Concorde com sua guilhotina inclemente. Na sua margem esquerda abrigou o pensamento revolucionário do século XIX, os sonhos republicanos de Davi, a angústia dos impressionistas, o vigor de Picasso, Rodin e o desespero de Modigliani.
Claro. Não poderia faltar nesta viagem o Tâmisa e pelo menos três referências marcantes. A Ópera dos Três Vinténs, de Bertold Brecht, concebida nas suas docas, Dickens e o realismo pós vitoriano. E o célebre cadáver que boiava nas primeiras cenas de Frenezi, de sir Alfred Hitchcock.
Todo este exercício geográfico, diria lenga-lenga, tem na verdade o objetivo de introduzir uma experiência que eu vivi na juventude. Onírica e sugestiva. Por razões que eu até hoje não entendi me coube o papel de levar importantes documentos para um grupo de brasileiros exilados em Praga, na época a capital da República da Tchecoslováquia. Foi uma jornada de, talvez, 24 horas, mas que me marcaria por toda a vida. Ainda me lembro do frisson na estação ferroviária de Munique e o medo que me acometia de atravessar a Cortina de Ferro.
Foi literalmente em pânico que no meio da madrugada eu me esforcei muito para dizer a um ameaçador oficial de fronteira, com meu alemão de cervejaria, que eu era brasileiro e queria apenas conhecer a terra de Kafka. Depois disso, à medida que o trem avançava lentamente, mas resoluto, pela escuridão dos vales tchecos, o medo deu lugar a uma estranha resignação.
O Moldávia em Praga: lembrança dos tempos tristes da dominação
Era madrugada ainda quando o trem superou por uma grande ponte de ferro, lentamente, um enevoado rio Moldávia. Vieram a minha mente, imediatamente os acordes mágicos de Smetana, a imagem de castelos e de corredeiras.  Um sentimento de paz e tranquilidade me inundou o coração. O rio levara consigo o medo e a resignação.
Quando eu fui a Praga, o sovietismo havia arrasado o país. Os tchecos passavam fome. Tudo que eu comi foi um pedaço de um pão velho com um naco de queijo embolorado e duro. Mas, também conheci uma das minhas maiores paixões. Foi engraçado porque em meio a tanta pobreza, me serviram um copo de cerveja quente.
Do que se trata, perguntei. “Local beer!” – me responderam, com desdém.
A tal “local beer” era uma Pilsner Urquell. Uma cervejaria secular erigida as margens do rio Pilsner, onde um monge, há  muitos e muitos anos, decidiu empregar o lúpulo para manter a fermentação e criou a melhor cerveja do mundo.
Nesta manhã de sábado me acometeu a nostalgia e a lembrança de alguns rios e da história, cujo reflexo, eles guardam em silêncio. Poderia falar do Potomac, do Moscou, do Tejo e de tantos outros.  Minha alma, na essência, espera mesmo que um singelo ribeirão guarde consigo os meus sentimentos. Se não servirem para nada, que sirvam apenas para aguar alguma plantação de milho.