domingo, 28 de outubro de 2012

Marty e Papa: o grande amor pelo mundo




Nicole Kidmann e Clive Owen: caracterização perfeita, interpretação segura

Marty e Papa: na Finca Vigia em Cuba






Nove anos depois, Phillip Kauffmann voltou a dirigir. E fez um retorno  marcante. Com um excelente roteiro escrito por Jerry Stahl e Barbara Turner, US$ 27 milhões da HBO filmes  e um engajamento extraordinário  e raro do elenco estelar, onde despontam Clive Owen, Nicole Kidmann e até Rodrigo Santoro. O resultado é espetacular.

 Kauffmann conta a história de Ernest Hemingway e de Martha Gellhorne, sem ceder a apelos românticos, sem contemporizar com o perfil dos personagens e não leva em conta nem o fato de que, afinal, estava tratando de dois monstros sagrados para a telinha da televisão.

 Hemingway e Gellhorne é um tributo ao idealismo e a angústia permanente de pessoas que se dispõe a contar a verdade, ainda que tão impactantes como a vitória do fascismo na guerra civil da Espanha, a invasão stalinista na Finlândia ou a descoberta dos campos de extermínio na Europa, no final da Segunda Guerra Mundial.

 Uma coisa é certa, todos estavam na Espanha na guerra civil. Hemingway, Gellhorne, Robert Kapa, Orwell, Steinback e tantos outros. É neste cenário, sob as bombas alemãs que desabavam sobre Madri, que o genial e genioso Papa se apaixona por Marty. Ambos compartilharam a derrota dos republicanos.

 Hemingway se livra do seu segundo casamento com a chatíssima, mas marcante Pauline, mãe de dois dos seus três filhos, e vai viver com Marty em Cuba. Enquanto se entretinham com o trabalho  (Hemingway escreveu Por quem os sinos dobram na Finca Vigia) e percorriam o mundo – notável a história dos dois na China – no enfrentamento com o fascismo japonês ou alemão, tudo corria bem. Mas, nos intervalos marcantes pelo cotidiano do dia-a-dia, o confronto de personalidade dos dois se esgota.

 Entre os equívocos de Papa está a aversão aos mais de 300 gatos que Marty nutria; o assédio que Hemingway recebia do jet set americano (o que não aparece no filme, inclusive o episódio da nudez de Ava Gardner na piscina da Finca);  uma certa tendência ao politicamente incorreto e, sobretudo,   a culpa católica, herança de Pauline,  que lhe emprestava um sério sentimento de auto-destruição.    

 De todos os equívocos de Papa, o mais sério foi o confronto profissional com Marty para documentar a invasão da Europa em 44.

 Hemingway perdeu a mulher da sua vida  quando quis que ela ficasse em Cuba, enquanto ele estaria nas areias da Normandia. Para piorar, ele acabou ficando em Londres e Marty disfarçada de enfermeira foi para o front.

 O filme é perfeito, sobretudo na reconstrução de cenas, na utilização de imagens históricas. A beleza de Nicole Kidmann incomoda no começo. Kauffmann trabalhou muito para tirar o sex-appeal da atriz. Contou muito sua extraordinária interpretação e a vontade com que se entregou ao papel de Martha Gellhorn.
Vale a pena cascavilhar a programação da HBO e descobrir quando a emissora vai reprisar. Pelo menos até que a obra esteja disponível em DVD.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Há 50 anos, o mundo esteve por um fio


Kennedy e Kruschov: contiveram militares de seus paises queriam outra guerra






Este mês de outubro serve para comemorar 50 anos de uma efeméride cuja dimensão as novas gerações não alcançam. Foram 13 dias em outubro de 1962 em que a sobrevivência do gênero humano sobre este planeta esteve por um fio. O que me inquieta é que toda vez que eu conto esta história, meus filhos me olham com aquele ar de superioridade e aquela sentença terrível: “Papai, você é um exagerado. Imagina o mundo acabar. Isso não existe, nem nunca existiu”.

Para os jovens que nasceram na década de 80 e subsequentes, a guerra fria é algo tão distante quanto a Guerra da Criméia ou a invasão de Portugal pelo general Junot. Todos se riem muito do filme dr.Fantástico de Stanley Kubrick, mas acham que se trata de uma comédia ficcional, sem qualquer relação com a realidade.

Pois acreditem. Foi por um fio. Na noite do dia 25 de outubro, Ken O’Donnel, o chefe de gabinete do presidente John F. Kennedy, abraçou sua esposa e bastante tenso proferiu a seguinte frase: “Se o sol aparecer amanhã, será unicamente por conta da boa-vontade dos homens”.

Apesar de ser irlandês. O’Donnel não exagerou. Na noite anterior, ele acompanhara o irmão do presidente, Bob, em uma audiência com o embaixador Dobronyn, que representava a União Soviética em Washington. Ambos entabularam uma jogada de altíssimo risco, que envolvia a retirada de mísseis estratégicos de Cuba e da Turquia e sustaram o ímpeto dos militares dos dois países que queriam acionar seus arsenais nucleares.

O'Donnel e Bob: protagonistas da crise
Tudo começou de forma singela. Um U-2, jato de reconhecimento da Marinha americana ao realizar um sobrevôo habitual sobre a ilha de Cuba, em um domingo, documentou fotograficamente a implantação de mísseis atômicos de médio alcance, capazes de em cinco minutos destruir todas as cidades da Costa Leste dos Estados Unidos, incluindo a capital. A informação açulou o ânimo guerreiro do Pentágono, sobretudo dos generais Maxwell Taylor – chefe do Estado Maior – e Curtis Lemay, comandante dos bombardeios táticos.

Os militares americanos acharam enfim o argumento que precisavam para justificar uma invasão a Cuba. Estavam em baixa por conta do fiasco da Baía dos Porcos, quando uma força paramilitar cubana, equipada pela CIA, tentou uma incursão militar contra Fidel Castro e quebrou a cara. Passaram a pressionar Kennedy para ter uma nova chance.

O presidente americano montou uma linha defensiva com o Secretário de Estado, Robert Mac Namara, seu irmão Bob, Adlai Stevenson  e Ken O’Donnel. Kennedy havia acabado de ler um livro intitulado Guns in August, de Barbara Tuchmann, que naquele ano arrebataria o Prêmio Pulitzer. Nele, a autora contava com detalhes como a arrogância dos militares franceses e alemães levou a conflagração da Primeira Guerra Mundial, de tal forma que quando o imperador Guilherme II quis suspender a invasão da Bélgica, já não conseguiu. Foram 13 milhões de mortos em quatro anos de um conflito que ninguém entende por que começou, mas cuja principal conseqüência foi a segunda guerra, com mais de 53 milhões de mortos.

Super espiao: Alexander Fomin
Kennedy estava, portanto, bem vacinado. O’Donnel que era um frasista de mão cheia, ao ver as fotos dos mísseis soviéticos, exclamou: “Interceptamos os porta-aviões japoneses a caminho de Pearl Harbour!”

Se, por um lado, há ampla documentação e até as gravações das reuniões de Kennedy com os militares americanos, do outro lado, ninguém sabe direito o que aconteceu no Kremlim. Uma das primeiras reações do presidente americano foi a de perplexidade: “Levando-se em conta que Kruschov não enlouqueceu e que, portanto, não quer levar o mundo a sua destruição, gostaria que alguém me explicasse o que isso tudo quer dizer”.

O super agente da KGB em Washington, Alexander Fomin (Feklisov), que desempenhou papel importante na crise, revelaria mais tarde que Kruschov teria sido vítima de um grupo de oficiais destemperados do Exército Vermelho. É bem provável. Mas, nunca saberemos ao certo o que ocorreu.

Fidel Castro: único protagonista vivo
Quando Fomin informou ao amigo Kruschov que Kennedy estava disposto a assumir publicamente o compromisso de que não invadiria nem daria guarida a quem quisesse invadir Cuba, desde que a URSS tirasse os mísseis de lá, o premiere russo escreveu a resposta de próprio punho. Mais tarde, a resposta formal do Kremlim, contraditou o mandatário soviético. Tal procedimento levou a CIA a concluir que os militares soviéticos haviam tomado o poder.

Para quem não sabe, data de outubro de 1962 este estúpido bloqueio econômico que até hoje atormenta a República de Cuba. A União Soviética não existe mais. A Guerra Fria também não. Todos os personagens envolvidos, exceto Castro, já morreram. Mas, esta maldade com o povo soberano daquela pequena ilha do Caribe ainda continua.

Há quem diga que Kennedy levou um balaço na cabeça de Lee Oswald em Dallas como retaliação da comunidade cubana nos Estados Unidos. Há mesmo quem diga que os militares não se conformaram com a enquadrada que levaram do então primeiro mandatário americano, que salvou o mundo da destruição nuclear. Meu mestre, o jornalista Elio Gaspari, apaixonado como eu por este período histórico, não acredita. Ele acha que Oswald agiu por conta própria. É um tema apaixonante.

Kennedy quando enfim resolveu a questão dos mísseis disse para Bob e Ken: “Agora já posso ir ao teatro”. Referia-se ao Teatro Ford, onde Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth ao final da Guerra de Secessão. Mas, só encontraria seu algoz em 22 de novembro de 1963, um ano e um mês depois.   

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Integração ou morte!

Convidado pela Associação Brasileira de Anunciantes para apresentar o "case" MEC de Comunicação Integrada, escrevi o texto a seguir que serviu de guia para minha apresentação. Claro que não me ative a ele. Mas, acho que dá uma boa visão do que entendo por comunicação pública.


Fernando Haddad lança PDE em Natal: integração a partir de uma ação de RP



Desde que assumi a Comunicação Social da Infraero, em janeiro de 2003, e agora no Ministério da Educação, onde desempenho o comando da Comunicação Social desde 2006, a integração das ferramentas tem sido uma tônica de todo o processo.

Com efeito, em termos de Comunicação Pública, a despeito das melhorias sensíveis conquistadas nos últimos dez anos, ainda trabalhamos muito mais apoiados no empirismo nosso de cada dia, do que baseados em relatórios de avaliação e de recall que nos possibilite avançar com segurança na implementação da arte de comunicar as políticas públicas do governo.

Integrar as ferramentas exige, sobretudo, uma disposição muito grande em enfrentar a solidão do cargo que exercemos nós, os comunicadores do governo, invariavelmente convencidos, não raro por nossos superiores, a não inventar moda e seguir a velha fórmula da publicidade e da assessoria de imprensa.

Esta fórmula bem batida da exposição aos órgãos de comunicação, apoiada por uma campanha publicitária, dirão os historiadores, remonta ao tempo do imediato pós-guerra, ou seja mais de meio século. Não vou me alongar nisso, não se preocupem.

Vou apenas chamar a atenção para, primeiro, as modernas ferramentas de relações públicas e sua implicação direta na mídia regional, e, sobretudo, a revolução digital, cuja maior característica é romper com a barreira do tempo.

Posso atestar que 80% das demandas de imprensa que chegam hoje ao Ministério da Educação – e são muitas, acreditem – se resolvem através do portal da Internet, um gigantesco paquiderme que tira o meu sono, mas que contém todas as informações relevantes das políticas públicas desenvolvidas.

Ter integrado o portal à política de comunicação foi uma vitória conquistada à duras penas. Afinal, todo técnico em computação, designer ou arquiteto de portal, ou especialista em TI, acha que a ferramenta é um brinquedinho com o qual eles se divertem, jogando o conteúdo sem qualquer conceito de urgência ou destaque.

Convencê-los de que há uma técnica relacionada a urgência e importância, que as informações respondem a uma prioridade jornalística, foi muito, mas muito difícil.

No Ministério da Educação nós conseguimos esta vitória e o portal do MEC passou de parcos 500 mil acessos, em 2006, para seis milhões hoje. Em momentos de pico, como o Enem, Prouni ou SISU, chegamos a barbaridade de 25 milhões de acessos, o que nos coloca entre os principais portais de conteúdo do país.

Quem me conhece sabe que não sou de dormir sobre os louros. Por isso mesmo, luto com a burocracia do Estado na tentativa de dar mais dinamismo e torná-lo ainda mais amigável. É um desafio e tanto.

Quando eu cheguei no MEC, um pouco antes da reformulação do ENEM, presidi uma reunião em que a área técnica do INEP me pedia a impressão de oito milhões de cartilhas com instruções sobre a prova. Diante da minha negativa, os diretores da autarquia argüiram que lançar mão dos meios digitais seria condenar o exame ao fracasso total.

Hoje cinco anos depois, todo o processo de inscrição e de informações do ENEM é feito digitalmente. E o exame é um sucesso, este ano coletou nada menos do que 5,7 milhões de estudantes.

Eu poderia ficar falando aqui de uma dezena de casos como esse. Mas, acho que falar das maravilhas da revolução digital e como ela transformou o processo de comunicação seria chover no molhado. Todos nós sabemos disso.

A ferramenta que realmente integrou todos os meios do Ministério da Educação e tornou-a bastante efetiva, entretanto, foi a Relações Públicas. Claro, com públicos tão definidos, como professores e gestores, além de uma rede rigorosamente capilar de 200 mil escolas, dois milhões de professores e 53 milhões de estudantes, 60 se contarmos os universitários e pós-universitários, 27 secretários estaduais de educação, mais de 5.500 secretários municipais, 27 conselhos estaduais de educação, dois mil conselhos municipais de educação, 59 universidades federais e 39 institutos federais de educação, eu posso dizer que, pelo menos o público primário do MEC, eu sei onde está.

Por esta razão, a integração das ferramentas relações públicas, publicidade e propaganda e jornalismo + internet funciona no MEC, mais ou menos como bula de remédio.

Para citar um caso de sucesso, e apenas a nível de ilustração, quando do lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação, um conjunto de 42 ações da creche a pós-graduação, que dependia da adesão de 27 governadores e consequentemente de 27 secretarios estaduais de educação, mais de cinco mil prefeitos e de outros cinco mil secretários de educação, além de diretores, gestores e professores, entreguei o planejamento da ação ao meu coordenador de Relações Públicas, que por acaso é o meu imediato no MEC.

O planejamento do Ary, em linhas gerais, estabelecia a realização de jornadas nos estados, com a presença em algum momento do governador e do ministro, mais os secretários envolvidos, dirigentes do MEC . Ao jornalismo competia a mobilização da imprensa local, com destaque para os comunicadores das rádios locais que receberam um tratamento especial. Receberam material específico, agenda de serviços, um quem é quem no ministério, uma longa explicação minha, ladeado pelos diretores locais da Abert e um almoço com entrevista do ministro.

A área de divulgação do MEC, ia com a precursora e bombardeava os meios de comunicação locais, jornais e tevês com material explicando o plano, as implicações, indicadores educacionais e etc... Claro que tivemos problemas com o amor próprio e com o regionalismo: os baianos, por exemplo, ficaram indignados em saber que o analfabetismo era o maior problema do estado, mesmo sendo a terra natal de Ruy Barbosa; os gaúchos ficaram inconformados em saber que o seu modo de vida não se refletia nas práticas educacionais como eles imaginavam.

Foi só a partir dos resultados da caravana pela educação que a publicidade passou a trabalhar uma campanha nacional de mobilização, envolvendo todos os atores do processo educativo.

Os resultados foram bastante expressivos. Tivemos a adesão de todos os governadores e de praticamente todos os prefeitos. Acho que menos de uma dezena decidiu que não iria firmar o acordo, por razões diversas.

Muito bem! Para concluir, se é que vocês ainda agüentam tanta cascata, quero retomar um tema que insinuei no começo da minha apresentação: a solidão do gestor da comunicação pública.

Com a evolução das ferramentas de comunicação social, a revolução digital e a velocidade de circulação das informações, já passou da hora do mercado reformular a sua base de negócios. Não dá mais para ficar elocubrando sobre mídia específica, público segmentado, ferramentas de relações públicas e de internet, formas eficientes de gestão de crise, divulgação propositiva de notícias e assim por diante, mas na hora do vamos ver aparecer apenas as soluções habituais: anúncio na tevê e em revistas e jornais.

Já padecemos pela falta de uma teorização efetiva sobre a comunicação pública. As vezes falamos para as paredes até dentro do próprio governo. Temos um regime de terceirização que não difere o fosfato do fósforo. Não temos como atrair as melhores cabeças do setor e ainda enfrentamos um regime de negócios de nossos parceiros que confronta com a inovação básica de integrar as modestas ferramentas de comunicação de que dispomos.

Muito obrigado.