domingo, 13 de setembro de 2015

Bem-vindo à ópera Fernando Meirelles








Montagem de Meireles para Bizet: um desafio bem resolvido




Caro amigo Fernando Meirelles, seja bem-vindo ao mundo da ópera.

Nesta altura do campeonato você já deve ter percebido que a linguagem operística é uma evolução da linguagem teatral. Para quem admitiu que só conhecia uma meia dúzia de árias, até que você foi bem demais.

É verdade que você enfrentou um desafio e tanto. Esta Pescadores de Pérolas, de Georges Bizet, não é uma obra qualquer.  Composta ainda na fase de maturação do compositor, que mais tarde se tornaria famoso pela Carmem, ela confronta claramente o modelo francês da segunda metade do século XIX. Não tem balé, não tem trios, quartetos ou quintetos. Tem muito coro, muita música, muito exotismo.

Duas ou três árias do trio de personagens centrais: Leila, Nadir e Zurga. Dois duetos, um masculino (Nadir e Zurga) e outro de amor (Leila e Nadir).

Os franceses do século XIX sempre apelaram para o exotismo. Meyerbeer, Massenet, Gounod,  Saint Saens e Delibes entre outros adoravam os grandes balés e os cenários exóticos, da Índia, do Ceilão e até de Madagascar. Bizet flertou com o perigo em sua primeira ópera ao aceitar musicar o libreto de Michel Carré e de Eugene Cormon, que trata de um triângulo amoroso em meio a uma comunidade brahmani de pescadores de pérolas do Sri Lanka. Apelou para os coros e para muita, mas muita música. 

E aí, amigo, dá para entender que você sentiu falta de um coral lírico mais preparado, de uma orquestra mais refinada e de um regente mais aplicado.

Por outro lado, você contou com um trio maravilhoso de cantores: Fernando Portari é de longe o melhor tenor brasileiro da atualidade, Camila Titinger é uma de nossas melhores promessas e Leonardo Neiva fez um Zurga primoroso. Verônica Julian teve o mérito de fazer figurinos desojados, como convém a pescadores. Tenho certeza que você também encontrou respaldo no trabalho de Gilberto Chaves e de Mauro Wrona.

Foi uma grande noite a da estréia. E aqui vale fazer uma referência ao Teatro da Paz, de Belém. Foi construído em 1870, quando nem a Capital, Rio, nem São Paulo possuíam teatros deste porte. Era a época da borracha, dinheiro não faltava. Por alguma razão, quando voltou da Itália, consagrado como um dos maiores compositores do verismo, Carlos Gomes foi exilado na capital da Província do Grão Pará.

A borracha minguou e o Teatro da Paz, que ganhou este nome para comemorar o fim da Guerra do Paraguai, caiu no mais absoluto ostracismo. Ressurgiu agora.
Fernando não recuse novos desafios como este. O mundo da ópera precisa de talentos como o seu. Seria ótimo que diretores brasileiros de cinema e de teatro criassem coragem para montar óperas no Brasil.