quinta-feira, 27 de julho de 2017

A praia que existe no coração de cada um


A retirada de Dunquerque: a verdadeira, não a cinematográfica





O  general prussiano Carl von Clausewitz, morto em Breslávia, na Polônia, em 1831, é um personagem obrigatório para quem quer entender a guerra franco-prussiana de 1870 e os dois conflitos mundiais do século XX.

Clausewitz escreveu um livro chamado “Da Guerra” e nele definiu a doutrina da guerra relâmpago, empreendida de forma tão rápida que os inimigos não teriam tempo nem de trocar os pijamas, ou as camisolas.

Foi baseado na doutrina Clausewitz que o general Helmuth von Moltke, o jovem Moltke, convenceu o Kaiser Guilherme II que a Primeira Guerra Mundial estaria resolvida antes do final da primavera de 1914. Não contavam com a resistência do rei Alberto da Bélgica, o que atrasou a invasão da França e quase permitiu que os russos chegassem a Berlim.

Também se esqueceram que a Bélgica era um protetorado inglês e a não concordância dos belgas em permitir que os alemães passassem por seu território para chegar a França era um ato de guerra, o que trouxe a Força Expedicionária Britânica para o conflito. Resultado: a tortura das trincheiras e um embate militar travado que durou quase cinco anos.

Quando Winston Churchill se apresentou para o rei George VI, em maio de 1940, no Palácio de Buckinghan, ele não era nem de longe o tipo de político que a casa real gostaria de lidar. Estava acostumada com a pasmaceira de Neville Chamberlain e os conservadores ainda achavam que havia um certo exagero na análise do belicismo alemão.

Churchill foi cirúrgico. Abriu um mapa e mostrou ao rei que os alemães isolariam cerca de 340 mil soldados britânicos, franceses e belgas numa praia chamada Dunquerque e que depois disso, o arquipélago estaria completamente desprotegido. Até a gagueira do rei parou.

A operação de retirada foi uma das páginas mais dramáticas da segunda guerra. Cálculos otimistas davam conta de tirar 30 ou na melhor das hipóteses 40 mil soldados. Churchill montou um gabinete de coalisão com os trabalhistas, seu vice foi Clement Attlee. Fez um apelo a Nação. Toda e qualquer embarcação, cargueira ou de lazer, deveria se apresentar em Dunquerque.

As condições eram totalmente adversas. O calado da praia era muito pequeno. Destroiers e navios cargueiros não conseguiam se aproximar. Para piorar cerca de 50 mil soldados estavam feridos e tinham dificuldade de locomoção.

No memorável discurso de posse no parlamento inglês, Churchill faz uma forte referência a operação. Lembrou que não se ganham guerras com evacuações. Mas, celebrou o seu sucesso.

Dunquerque, obviamente é uma referência na Segunda Guerra, mas o cinema nunca retratou o episódio. A única vez que vi alguma coisa a respeito, foi numa série documental da BBC. Christopher Nolan está perfeitamente equipado para contar esta história. Mais ainda se mostrar que existe uma praia destas no interior de cada um de nós. Alguns tem o privilégio de ter um comandante como Winston Spencer Churchill, outros não. Esta é a diferença.