Uma coisa é certa, desde que Graham Bell inventou esta máquina infernal chamada telefone, o jornalismo ganhou um up-grade e uma velocidade inimagináveis. Como pensar em apurar, transmitir ou checar uma informação sem os préstimos deste instrumento.
E não há redação que se preze sem um montão de telefones tocando ao mesmo tempo. E um bando de pessoas atordoadas sem saber qual atender ou atendendo todas simultaneamente.
É bem verdade que os tempos mudaram. O telefone não é mais preto e pesado. O toque também não é mais tão estridente. A internet veio para aliviar e o telefone celular para simplesmente arrebentar tudo, com a estranha e inimaginável capacidade de juntar telefone e computador móvel. Um assombro!
Mas, esta história que eu vou contar é do tempo em que os telefones tocavam estridentes e os fios se emaranhavam, os repórteres se engalfinhavam e se fazia jornalismo de verdade. Me foi contada por ninguém menos que o genialíssimo Elio Gaspari.
Uma bela tarde de 1962, os telefones na redação do Dallas Daily News, tocavam e tocavam, em meio a uma balburdia descomunal e ninguém atendia nem entendia nada do que estava acontecendo. Até que um dos estafetas decidiu atender um deles. Do outro lado da linha, uma senhora muito calma fez um pedido:
- Meu filho, será que o jornal poderia me pagar uma passagem de Huston para Dallas? Pode ser de ônibus mesmo.
- Minha senhora – disse o estafeta com o peito estufado – isso aqui é o Dallas Daily News. Não é uma agência de viagens.
A velhinha ainda insistiu:
- Mas, eu precisava tanto ir para Dallas.
- Olha minha senhora, a coisa aqui ta bem confusa, porque a senhora quer vir para cá?
- Porque acabaram de matar o presidente da República e eu acho que o assassino foi o meu filho.
A velhinha veio de avião, ainda naquela tarde.
Moral da história: atende, porra! Atenda sempre ao telefone. Nunca se sabe.
A genial Zezé
Outra genial foi uma daquelas minhas aventuras na Guerra das Malvinas, em 1982. Eu estava em Bahia Blanca , tinha uma matéria extraordinária e precisava avisar a redação em São Paulo. Naquele tempo, falar da Argentina, ainda mais do Interior, para qualquer lugar do planeta, era muito difícil.
Pedi a ligação com urgência para a operadora argentina, que me pediu três horas de prazo para concluir a ligação.
Finalmente ela me retornou e me passou a operadora brasileira da Embratel.
Passei o número em São Paulo e fiquei esperando a conexão por 20 minutos com o telefone na orelha.
Na redação da Istoé havia uma instituição chamada Zezé. Sempre eficiente, pronta a acompanhar o ritmo e o trabalho daqueles malucos que se diziam jornalistas.
Pois bem, o telefone tocou e eu ouvi a voz da Zezé:
- Revista Istoé, boa noite!
E a operadora:
- De Bahia Blanca, o senhor Nunzio está chamando a cobrar.
E a gloriosa Zezé do alto do seu discernimento:
- Nunzio, não! Ele está cobrindo a guerra na Argentina.
E desligou o telefone.
Outra famosa.
Revista fechada, nos finalmentes, madrugada de quinta-feira. O Tão anuncia que vai para casa e passa o fechamento da revista para este idiota aqui. Me lembro que chovia e muito.
- Só me chame em caso de extrema, extrema necessidade. Está tudo desenhado, tudo fechado. Só coloque as legendas e revise a edição.
Era uma quinta rara. Três horas da manhã, tudo encaminhado.
Eis que toca o telefone direto.
- Tão?
- Não. Nunzio. Tão já foi. Quem fala?
- Aqui é o Conde de Oeiras. Poderia me dizer que dia fecha a redação?
- Ué! Hoje, quinta, estamos fechando.
- Que pena!
E desligou.
Conde de Oeiras era uma das fontes que o Tão tinha no Palácio do Planalto. Ele estava careca de saber que a revista fechava as quintas-feiras. Não era grave! Era gravíssimo. Alguma coisa de muito sério estava para acontecer.
Respirei fundo, acendi o cigarro e liguei para o Tão.
- Chefe?
- Nunzio, espero em Deus que seja algo muito, mas muito grave mesmo.
Gelei.
- Olha ligou aqui o Conde de Oeiras e perguntou que dia fechava a revista.
Silêncio de alguns segundos.
- Estou a caminho.
No dia seguinte, o general Golbery do Couto e Silva demitiu-se por conta do atentado da OAB. Um quilombo sensacional. Passamos a noite em claro e saímos na madrugada de sábado. Tudo por culpa do telefone.
que coisa, neh?
ResponderExcluirna redação da Folha, tinha um poster do Samuel Wainer atendendo um telefone com uma frase tipo
pode ser a "noticia do ano"....
não seria Dallas Morning News o jornal da velhinha noticia-bomba?