O SR. EMILIANO JOSÉ (PT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, nos últimos dias uma onda crítica se levantou contra as políticas públicas do Ministério da Educação e contra o ministro
Já ouvimos muitas manifestações enfáticas na crítica a esse livro dos defensores da norma culta da língua. Sugiro, convido, no entanto, a todos que acessem o portal do MEC, pois verão que vários integrantes da comunidade acadêmica brasileira também defendem com pertinência a postura do livro da ONG Ação Educativa, que, como explicaremos, não é contra a norma culta.
Outro convite que eu faço é que acessem o site da Ação Educativa e leiam o capítulo que tanta polêmica provocou. Terão a oportunidade de constatar que, primeiro, o livro destina-se a estudantes do EJA — Educação de Jovens e Adultos — , ou seja, de alunos que, por qualquer razão, perderam o ciclo habitual e que buscam a escola com a formação peculiar da vida, com aquilo que a vida lhes ensinou. Segundo, ninguém está ensinando ninguém a falar ou escrever errado. Apenas se constata que, sim, há variação, como é óbvio, entre a linguagem oral e a norma culta. Tanto que no livro a professora propõe um exercício para a conversão da forma errada para a forma correta.
Trata-se, no livro, apenas de uma forma didática de tratar o confronto entre a forma de se falar e a de se escrever. Seria o caso de voltar a uma formulação antiga: A teoria é cinzenta, verde é a exuberante árvore da vida.
Quem quiser ler o livro verá que não há qualquer aconselhamento para que se desrespeite a norma culta ou estímulo para que ela seja contrariada. Apenas, insisto, se constata a diferença entre a fala de tantos brasileiros, a oralidade, e a norma culta.
Outra tentativa clara, Sr. Presidente, de atingir o Ministério da Educação e seu ministro é esta incompreensível ansiedade provocada pelo chamado kit anti-homofobia do Programa Escola sem Homofobia.
A origem de tudo é uma emenda Parlamentar da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que destinou 1,8 milhão de reais para um trabalho, cujo objetivo precípuo era formar professores de ensino médio para a discussão do comportamento de estudantes em relação àqueles que têm preferências sexuais diferentes da maioria.
Quero crer que ninguém seja favorável à violência. Era isso que o Ministério da Educação e as ONGs envolvidas na produção do kit queriam evitar. Evitar a violência. Educar para a paz, para a convivência solidária entre diferentes. Respeitar os diferentes, sempre.
Fez-se um tremendo escarcéu em cima do kit anti-homofobia. Tudo isso, na minha opinião, Sr. Presidente, é parte de uma onda direitista, e não há outra palavra possível, que cresceu desde a última campanha presidencial no Brasil, quando o candidato Serra cuidou de desenvolver ataques pesados contra a autonomia da mulher no Brasil. No caso do kit anti-homofobia, divulgou-se um material inapropriado e outro que sequer havia sido alvo de análise do próprio Ministério.
Esses equívocos, se foram equívocos, é o que fez gerar tanta celeuma e levou o ministro
Não foi suficiente. O deputado Anthony Garotinho chegou ao absurdo de anunciar que o kit já havia chegado à Prefeitura de Campos, administrada por sua esposa, e que, diante da negativa em distribuir o material, ela teria sido ameaçada, deputado Assis, de não receber recursos do FUNDEB — as calúnias chegam a tanto. Essa afirmação, obviamente, não corresponde à verdade. Nunca o ministério ou ministro cometeriam tal indignidade. Não sei como o deputado Garotinho pôde dizer isso, não sei quem lhe passou essas inverdades.
Também é um absurdo culpar-se o ministro
Essa é uma posição de qualquer educador sério, posição que vigora em qualquer sociedade democrática, fundada em princípios da solidariedade, da fraternidade, da boa convivência entre as pessoas.
Quero dizer, Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, que devemos partir de uma base comum quanto a isso. Primeiro, todos reconhecemos que há preconceito nas escolas. Segundo, todos somos contra a violência e contra a homofobia. E, terceiro, que, por isso, trata-se apenas de uma questão de forma, não de conteúdo ou de necessidade. Estamos, imagino, todos unidos contra o preconceito, contra a violência, contra a homofobia. É necessário educar contra a homofobia. Educar a favor da diversidade.
Finalmente, alguns deputados e senadores estão inconformados porque alguns livros didáticos registraram o que todos já sabem. Que o presidente Lula saiu da Presidência da República com o maior indicador de aprovação da história do Brasil, ao contrário de seu antecessor, e ainda tendo elegido a sua sucessora. O que há de errado no fato de os livros registrarem isso? Nada. É da história, do ensino da história, e não há como contrariar a história.
O Programa Nacional do Livro Didático, como já foi explicado inúmeras vezes, é apolítico e impessoal. Não se consegue entender porque tanta indignação diante do fato de o Presidente Lula aparecer, como de fato é, como o maior presidente da nossa história, pelas políticas públicas que levou a cabo à frente da Presidência da República.Destaco ainda que muitos dos livros de história publicados pelo MEC foram elaborados pela Editora Attica Cipione, do Grupo Abril, e não me consta que esse grupo, em algum momento, tenha revelado qualquer simpatia política pelo governo ou pela pessoa do presidente Lula. Os editores apenas não têm como negar a história.
Não consigo entender por que o ministro
Os programas bem sucedidos das bolsas para estudantes pobres e negros do Brasil; a reformulação do financiamento estudantil; a valorização do professor; o piso salarial; a educação sendo levada a sério, longe da tentação privatista, tão forte, que existia no governo tucano; o crescimento do ensino tecnológico, cujos institutos cresceram em oito anos quase duas vezes o que havia crescido em um século; as 14 novas universidades federais; e o fato de as universidades terem dobrado o número de vagas. É importante lembrar tudo isso.
Sr. Presidente, é importante lembrar também, face a esses ataques, que não podemos esquecer a natureza laica do Estado. Nenhum Estado Democrático pode se submeter a qualquer religião. Deve respeitar todas as religiões, todas, e ao mesmo tempo ser um Estado laico que contempla os interesses das maiorias e não os interesses desta ou daquela religião, cuidando sempre de protegê-las e dar liberdade ao culto de cada uma dessas religiões.
O ministro
Vamos continuar com nosso trabalho. Com a melhoria permanente da educação, perseguindo esse objetivo, como vem fazendo o ministro
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Quem é Emiliano José? Professor aposentado da Faculdade de Comunicação (FACOM), da Universidade Federal da Bahia; Jornalista da Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia, O Estado de São Paulo, O Globo, Alternativo Baiano Invasão, e revistas Afinal e Visão; Colaborador dos jornais Opinião e Movimento; Um dos fundadores do jornal Em Tempo; Atualmente , escreve artigos, resenhas e ensaios para a revista Caros Amigos, A Tarde e Carta Capital. |
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