Cenário cubano para O Velho e o Mar: inspiração máxima de Hemngway |
Cinquenta anos, exatamente hoje, da morte de um dos personagens mais atraentes e invejados no século XX: Ernest Hemingway. Um deus na arte de juntar palavras, prêmio Pullitzer em 1953 e Nobel de Literatura em 1954. Jornalista e aventureiro viveu entre os grandes com humildade e respeito, tornou-se ele também um dos maiores. Certamente o principal expoente da geração perdida.
O que mais me fascina em Hemingway é o desprendimento. Amou e foi amado. Compreendeu e nem sempre foi compreendido. Era obcecado pelo gosto da romã. Era expansivo, exagerado, mas tornava-se cirúrgico quando empunhava a velha Remington.
Aos 18 anos, mal havia acabado o ensino médio, Ernest largou a sua Oak Park (Illinois-USA) natal e tentou ingressar nas forcas expedicionárias americanas que aderiram a I Guerra Mundial. Não passou no teste oftálmico e tornou-se motorista de ambulância da Cruz Vermelha no front italiano do Friulli. Apaixonou-se perdidamente por Agnes von Kurowsky e testemunhou a famosa retirada de Trieste, o violento contra-ataque austríaco, do qual o meu pai também participou.
Oak Park não lhe cabia mais depois da experiência na Itália. Em 1929 escreveu Adeus as Armas, um romance doce, maravilhoso. Agnes transformou-se na enfermeira inglesa Catherine Barkley, até onde me lembro ele foi vivida por Jennifer Jones, Ava Gardner (como lembrança em As Neves do Kilimanjaro) e pela meiga Helen Hayes.
Hemingway na Espanha: lutou não só com as palavras |
Mas, Hemingway iria se apaixonar mais pela Espanha do que pela Itália. Se entusiasmou tanto com as touradas que se tornou um toureiro amador, em Pamplona, de onde extraiu O Sol Também se Levanta (1926). Esta paixão iria leva-lo ao entusiasmo incontido com a Guerra Civil em 1937. Como correspondente da North American Newspaper Alliance juntou-se as forças republicanas e lutou não só com as palavras. Esta experiência resultou num romance maravilhoso Por quem os Sinos Dobram, cuja versão cinematográfica traz a estonteante Ingrid Bergmann no papel da jovem Maria.
As mulheres são arquétipos fundamentais na vida de Hemingway ( dele também viu Lúcia Helena?). O primeiro casamento em 1921 com Elizabeth Richardson o levou a Paris nos estertores da Belle Epoque, onde ele se tornou amigo de Ezra Pound, Scott Fitzgerald e Gertrude Stein e se integrou ao frisson cultural europeu do pós-guerra. Era correspondente do Toronto Star Weekly.
De volta aos Estados Unidos casou-se de novo com Pauline Pfeiffer, uma importante jornalista de moda, com quem se instalou na pacata e paradisíaca Key West, na Flórida. Claro que não havia como dar certo.
Nos anos 30, mudou-se para Havana onde viveu por 23 anos em um apartamento do Hotel Ambos os Mundos, em Havana La Vieja (o bairro histórico da capital cubana). Totalmente preservado, tive o prazer de conhecer o apartamento em 2005, quando estive por lá. Arrepiante, até porque vi a velha Remington e a janela por onde ele divagava e de onde ele viu O Velho e o Mar, na minha opinião o melhor de seus romances. No cinema, serviu de papel para o grande Spencer Tracy, seguramente na sua maior performance.
Em Havana, Hemingway apaixonou-se por Jane Mason, esposa do diretor de operações de Pan American, tornaram-se amantes. Além disso, empreendeu uma viagem etílica de respeito. A ele se deve a consagração de coquetéis famosos como o Mojito e o Daiquiri.
Destemida: Martha Gelhorn engajou Hemingway na Guerra Civil |
Em 1936, a paixão por Jane arrefeceu quando ele conheceu a destemida jornalista Martha Gelhorn, com quem partilhou a cobertura da Guerra Civil na Espanha e com quem voltou para Cuba, em 1939, quando a Europa se preparava para a desgraça da Segunda Guerra Mundial.
Em 1946, Hemingway finalmente conheceu aquela que iria funcionar como um anjo na sua vida. A também jornalista Mary Welsh, que conseguiu compreender a essência de sua existência e ficou com ele até o desfecho final. Naquele desgraçado 2 de julho de 1961, quando ele atirou contra a própria cabeça com um rifle de caça.
Para não terminar este post assim tão para baixo, vale a pena lembrar um episódio que ocorreu no Maxim’s em Paris, nos anos 20, que ele gostava muito de contar. Estavam todos reunidos bebendo e comendo do bom e do melhor, quando finalmente chegou a conta e os valores transcendiam qualquer possibilidade de pagamento. Foi uma confusão danada e um enorme exercício de imaginação para sair da enrascada, quando o maitre retornou e acalmou a todos dizendo que “aquele” senhor havia pago a despesa. Na verdade, era Pablo Picasso. Ele divertiu-se muito com o sofrimento dos jovens. Desenhou alguma coisa no guardanapo e deu para o maitre, que ainda argumentou:
- O senhor não vai assinar?
- Não. Quero apenas pagar a conta dos rapazes, não comprar o estabelecimento.
Ernest Hemingway é um homem que viveu com intensidade a sua vida. Sofreu por amor. Vibrou por amor. Engajou-se nas causas justas. Merece a admiração de todos.
Nu:
ResponderExcluirExcelente texto!
Aguardo ansiosamente o post "Aniversario da Macarronada"!
Abraços do Tri-Campeão!
Seu filho, Marcelo.
Eu adorei conhecer um pouco mais dele pelos seus olhos professor! Adorei!
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