Nicole Kidmann e Clive Owen: caracterização perfeita, interpretação segura |
Marty e Papa: na Finca Vigia em Cuba |
Nove anos depois, Phillip
Kauffmann voltou a dirigir. E fez um retorno
marcante. Com um excelente roteiro escrito por Jerry Stahl e Barbara
Turner, US$ 27 milhões da HBO filmes e
um engajamento extraordinário e raro do
elenco estelar, onde despontam Clive Owen, Nicole Kidmann e até Rodrigo
Santoro. O resultado é espetacular.
Kauffmann conta a história de Ernest Hemingway
e de Martha Gellhorne, sem ceder a apelos românticos, sem contemporizar com o
perfil dos personagens e não leva em conta nem o fato de que, afinal, estava tratando
de dois monstros sagrados para a telinha da televisão.
Hemingway e Gellhorne é um tributo ao
idealismo e a angústia permanente de pessoas que se dispõe a contar a verdade,
ainda que tão impactantes como a vitória do fascismo na guerra civil da Espanha,
a invasão stalinista na Finlândia ou a descoberta dos campos de extermínio na
Europa, no final da Segunda Guerra Mundial.
Uma coisa é certa, todos
estavam na Espanha na guerra civil. Hemingway, Gellhorne, Robert Kapa, Orwell,
Steinback e tantos outros. É neste cenário, sob as bombas alemãs que desabavam
sobre Madri, que o genial e genioso Papa se apaixona por Marty. Ambos
compartilharam a derrota dos republicanos.
Hemingway se livra do seu
segundo casamento com a chatíssima, mas marcante Pauline, mãe de dois dos seus
três filhos, e vai viver com Marty em Cuba. Enquanto se entretinham com o
trabalho (Hemingway escreveu Por quem os sinos dobram na Finca Vigia) e
percorriam o mundo – notável a história dos dois na China – no enfrentamento
com o fascismo japonês ou alemão, tudo corria bem. Mas, nos intervalos
marcantes pelo cotidiano do dia-a-dia, o confronto de personalidade dos dois se
esgota.
Entre os equívocos de Papa
está a aversão aos mais de 300 gatos que Marty nutria; o assédio que Hemingway
recebia do jet set americano (o que não aparece no filme, inclusive o episódio
da nudez de Ava Gardner na piscina da Finca);
uma certa tendência ao politicamente incorreto e, sobretudo, a culpa católica, herança de Pauline, que lhe emprestava um sério sentimento de
auto-destruição.
De todos os equívocos de
Papa, o mais sério foi o confronto profissional com Marty para documentar a
invasão da Europa em 44.
Hemingway perdeu a mulher
da sua vida quando quis que ela ficasse
em Cuba, enquanto ele estaria nas areias da Normandia. Para piorar, ele acabou
ficando em Londres e Marty disfarçada de enfermeira foi para o front.
O filme é perfeito,
sobretudo na reconstrução de cenas, na utilização de imagens históricas. A
beleza de Nicole Kidmann incomoda no começo. Kauffmann trabalhou muito para
tirar o sex-appeal da atriz. Contou muito sua extraordinária interpretação e a
vontade com que se entregou ao papel de Martha Gellhorn.
Vale a pena cascavilhar a
programação da HBO e descobrir quando a emissora vai reprisar. Pelo menos até
que a obra esteja disponível em DVD.
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