Guerra e Paz no Memorial da AL em S. Paulo: orgulho de ser compatriota de Portinari |
Manhã fria de sábado,
escuto o ciclo Die Schone Mullerin,
de Franz Schubert, na voz do barítono alemão Dietrich Fischer-Dieskau, quando
leio no jornal que ele morreu. O cantor é claro! Aos 86 anos, em sua casa na
Baviera.
Dieskau não era um
barítono tonitroante, como Titta Rufo. Ao contrário era discreto, tinha uma voz
pequena, muito bem moldada tanto para a cena como para o concerto. Sua versão
para o ciclo Das Knaben Wunderhorn,
de Mahler, é definitiva. Assim como todos os personagens mozartianos que ele
interpretou com brilho.
A tecnologia é capaz de
fazer um morto cantar na minha sala. Que bobagem! Como a minha filha Bianca me
disse hoje de manhã: “Pai você está perigosamente perto do surrealismo”. O
comentário se deveu ao fato de que eu a acompanhei ao aeroporto vestido de
pijamas e de roupão, o que a levou ao conto célebre de Cortazar.
O frescor da manhã me fez
pensar na minha amiga Pilar a tomar café com cuscuz de tapioca em Serra Grande,
uma pequena localidade na Costa do Cacau da Bahia, feliz com o flerte da vida
alternativa, que foi uma marca ponderada da nossa geração. Surrealismo, sem
dúvida!
E daí?
Meu irmão Luiz Massonetto,
por outro lado, feliz da vida, saboreia
uma Paris primaveril e me informa de lá: “Em dois dias de Hollande aqui já se
sente uma mudança de humor e de conteúdo dos franceses, que não se via há muito
tempo”.
A caminho de Roma, Luiz controla a ansiedade
para sua primeira viagem para a cidade eterna. Mais surrealista que os romanos,
impossível! Ainda mais que um italiano, Nanni Moretti, preside o júri do mais
importante festival de cinema do mundo, o de Cannes. Toni está na Riviera e
Waltinho Moreira Salles é o cineasta mais badalado do certame.
Por aqui, Lula se encontra
com Dilma em São Paulo. Comem bacalhau cozido acompanhado pela análise da crise
na Europa. Depois abrem a exposição da obra maiúscula de Cândido Portinari, Guerra e Paz, no Memorial da América
Latina. Não dá para ver na foto do Ricardo Stuckert, mas dá para sentir aquele riso
debochado do mestre Leon Tolstoi. Quem diria que um filho de Brodowsky iria
representar tão magnificamente a saga napoleônica na Rússia.
Há momentos em que ser
brasileiro me provoca um orgulho tremendo. Portinari é um destes momentos.
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