Oficiais alemãs assinam rendição incondicional em Reims: a notícia estrava embargada |
“Se você dá a alguém uma
caneta e a autoridade de um censor, estranhas coisas acontecem”. Edward Kennedy.
Impressionante o artigo de
Dorrit Harazin no Globo de hoje. Faz a gente pensar. Sobretudo nós jornalistas.
Reproduzo um trecho:
“Eram 3h24 da tarde de 7
de maio de 1945, quando o escritório da agência de notícias Associated Press
(AP) em Londres recebeu o telefonema que acabou com a guerra antes do
combinado. A ligação chegara através de um canal militar não sujeito à censura,
e tinha o chefe do escritório de Paris da AP do outro lado da linha. “Aqui é o
Ed Kennedy. A Alemanha capitulou incondicionalmente. Repito: capitulou
incondicionalmente. É oficial. Coloque Reims, França, como procedência e solte
a notícia já”.
A notícia explodiu como
uma bomba. E menos de 60 minutos depois, distribuído pelo escritório de Nova
York, as principais rádios do mundo passaram a reproduzir o despacho de Ed
Kennedy. Milhões de almas em todo o
planeta se aquietaram com o final, pelo menos de parte, da maior carnificina
que se tem notícia. Somados os números da guerra no Pacífico e com a desgraça
de Hiroshima e Nagasaki, que ainda não havia ocorrido, a Segunda Guerra Mundial
ceifou mais de 50 milhões de vidas.
Qual jornalista no mundo
não gostaria de dar esta notícia?
Ed Kennedy quebrou o embargo: censura para que? |
Mas, a ousadia de Ed
Kennedy custou muito caro. A ele e a instituição do jornalismo como um todo. É difícil
acreditar que havia um “combinado” de 17 correspondentes de guerra de segurar a
informação. Eles haviam assinado um termo de sigilo a bordo do avião militar
que os levou de Paris a Reims para testemunhar a assinatura da rendição alemã. Havia sido acordado que a notícia só seria divulgada
depois que os alemães participassem de ato semelhante em Berlim, com a
capitulação perante os russos, 36 horas depois.
Kennedy burlou a censura
militar aliada e ao avaliar que o estrago da sua divulgação era político, não
provocaria a morte de ninguém, ao contrário, salvaria vidas, porque ainda havia
combates na Iugoslávia e na Itália, na Tchecoslováquia e na Costa da Escócia,
mandou o acordo para o espaço. Certamente levou em conta a demarcação feita
pelo presidente americano Franklin Delano Roosevelt: a censura só é justificada
se estiver a serviço da proteção das forças aliadas em combate.
Ed Kennedy se arrebentou
de verde-amarelo-azul e branco. Foi expulso da Europa pelo comando supremo
aliado. Virou redator-chefe no Santa Barbara News-Press, depois tentou como
publisher do Monterrey Peninsula Herald.
Morreu em um acidente de automóvel aos 58 anos de idade.
Concordo com a Durrit, o
livro Ed Kennedy’s War: V-E Day, Censorship
and the Associated Press é leitura obrigatória para todo jornalista no
planeta. Espero que o Luiz Fernando Emediato, dono e editor da Geração
Editorial, não perca tempo e lance logo a versão em português. O episódio se deu em maio de 1945, mas o assunto
é mais do que atual. Atualíssimo diria.
Como assim segurar a
informação de que a Segunda Guerra Mundial na Europa tinha acabado? Que diabos
de cartório é esse? Nada menos do que 16 jornalistas concordaram com esta
bobagem e apenas um a violentou e só agora 67 anos depois se resgata isso?
Impressionante como não encontramos artigos como esse em sites de notícias ou periódicos. Muito obrigado por trazer essa empolgante história para o povo da web
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