O apocalipse chegou aos portugueses: 1o. de novembro de 1755 |
No dia 1º de novembro de
1755, a população crente e pia de Lisboa, a capital do reino de Portugal,
estava quase toda recolhida nas dezenas de igrejas da cidade para a missa do
Dia de Todos os Santos. Eram 9 e 30 da manhã. Como se estivessem sincronizados,
os sacerdotes haviam acabado de proferir a homilia, sempre dura voltada aos
impiedosos e hereges, e iniciavam a preparação da eucaristia.
Eis que um terremoto de
proporções inimagináveis assolou toda a cidade. A bela Lisboa transformou-se em
três minutos em um amontoado de escombros. Matou quase todos os devotos nas
igrejas. Alguns sobreviveram por sorte ou pela habilidade de escapar ao
desmoronamento dos templos. Quinze minutos depois, entretanto, um outro tremor
na mesma intensidade, acabou por destruir toda a cidade. Mais quinze minutos e
um tsunami vindo pelo Tejo, fez um strike com os barcos que estavam no porto e
invadiu a cidade pela praça do Comércio, com tal intensidade que as águas passaram
fácil pela Cidade Baixa e chegaram onde hoje é o início da avenida Liberdade
(que naquele tempo não existia).
Mas, a desgraça não parou
por ai. Um incêndio de grandes proporções tomou os escombros e durou dias. Mais
de 80 por cento da população foi praticamente dizimada. A descrição
impressionante está no livro do escritor e jornalista americano Nicholas
Shrady, The Last Day, traduzido e editado no Brasil pela Objetiva.
No meio de tanta desgraça,
o reino de Portugal que vivia encravado no século XIV, com o Estado misturado
com a Inquisição e o poder praticamente nas mãos dos jesuítas, assistiu ao
proselitismo cristão de que a mão de Deus havia castigado a cidade por sua
licenciosidade e por seus pecados. O rei, D.José I, temente e inseguro imaginava
mudar a capital para Coimbra ou para a Cidade do Porto, enquanto abrigava a
família real em tendas de pano em Belém.
O conde de Oeiras no auge do poder: o estado positivista |
Eis que surge do nada, a
figura mirrada e desgastada de um político, na verdade uma espécie de primeiro
ministro, que ninguém dava importância. Sebastião José de Carvalho e Melo,
filho de um militar medíocre, dedicado a diplomacia e ao comércio exterior, com
passagens por Londres, Paris e Madrid, em tempos de obscurantismo e
absolutismo, havia conseguido a proeza de ler mais do que um livro na vida.
D.José literalmente sem
ação confiou a Sebastião todas as ações para salvar o reino. E aí surgiu o
estadista, o gênio político, o visionário.
O então conde de Oeiras, dobrou as mangas rendadas de sua camisa e a
partir de um objetivismo raro lançou-se a missão de enfrentar a desgraça. Sua primeira
ordem foi: “Enterrem os mortos e alimentem os vivos”.
A situação era tão séria
que não havia gente suficiente para enterrar os mortos e os corpos putrefatos
provocavam epidemias, doenças e saques. Sebastião então, confrontou a santa
madre pela primeira vez e ordenou que os corpos fossem lançados ao mar, como
forma de apressar a limpeza da cidade.
A reconstrução de Lisboa,
ainda que tenha sido uma obra maiúscula, foi o pretexto para Sebastião enfrentar
o anacronismo de Portugal, separar a Igreja do Estado, abolir a escravatura
(que só foi tolerada nas colônias)e acabar com a separação entre judeus novos e
judeus convertidos.
O conde de Oeiras
tornou-se um verdadeiro “príncipe” no sentido maquiaveliano. Assumiu o estado,
perseguiu os inimigos, protegeu os apaniguados, acabou com a Inquisição,
expulsou os jesuítas e inseriu Portugal no século XVIII. Com a morte de D.José I, em fevereiro de
1777, ascendeu ao trono D.Maria I, que a história consagrou como Maria Louca.
Pombal: monumento vislumbra a cidade |
Sebastião já com o título
de Marques de Pombal foi torpemente perseguido. Destituído, processado, acabou
em desgraça. Antes, articulou com seu amigo o Ouvidor Geral da Colônia, Cláudio
Manuel da Costa, as bases do que seria a Inconfidência Mineira. Seu pupilo
direto, Thomas Antônio Gonzaga foi enviado a Vila Rica, como reforço
intelectual para o movimento que pretendia a independência da colônia.
Em menos de 30 anos,
Sebastião criou o que se chama de Era Pombalina. Tinha simpatia pelos
positivistas franceses e pela independência americana. Morreu em profunda
solidão, abandonado por todos. Sobrou dele um impressionante monumento em
Lisboa, onde ele vislumbra a Cidade Baixa, ao lado de um leão (símbolo de
poder).
Nenhum comentário:
Postar um comentário