O Paraíso de Moisés: a base da visão creacionista do mundo. |
Os
dados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE esta semana são estarrecedores. Nada
menos do que 22% dos brasileiros se disseram adeptos de seitas evangélicas: 30%
deste total na Assembléia de Deus; 5% na Congregação Cristã no Brasil e 4% na
Igreja Universal do Reino de Deus. Em 1980, 7% dos brasileiros se diziam
pertencer ao Povo do Evangelho. Do jeito que vão as coisas, em 30 anos, os
evangélicos chegaram a 50% da população.
O
que isso representa em termos de retrocesso comportamental é um absurdo de
proporções inimagináveis. A começar pelo fato de que estas seitas levam a Bíblia
ao pé da letra. Isso quer dizer, por exemplo, que o genial livro de Moisés, A Gênese,
o primeiro do Pentateuco, deve se sobrepor a toda a ciência. Ou seja, o mundo
nasceu de Adão e Eva e toda aquela história maravilhosa do Éden.
O
creacionismo não prospera nem entre os judeus, para quem, aliás, o livro foi
escrito. Tragicamente, na mente dos pregadores evangélicos Darwin, Charles
Darwin, é a própria reencarnação do demônio. E a partir desta tese maluca de
que o mundo se resolve no Velho e no Novo Testamento, toda a conquista científica
e a evolução comportamental da humanidade vão para o ralo, direto para as
profundezas do nada.
Se
em termos científicos o retrocesso é patente, em termos comportamentais chega a
ser insólito. Evangélicos, por exemplo, não aceitam a homossexualidade. Para
eles trata-se de um desvio dos cânones divinos, uma doença. É bem verdade que
mesmo a Igreja Católica Apostólica Romana ainda se enrola na questão do aborto
e, sobretudo, na indissolubilidade do matrimônio. Mas, não se pode negar que
Roma avançou e muito não só nas relações sociais como políticas depois do
Vaticano II.
Não
se trata aqui de discutir Lutero, Calvino ou outros pensadores que discordaram
do pensamento romano. Ou ainda das religiões ancestrais como o judaísmo, o
budismo, o islamismo ou o bramanismo. Estamos diante de uma onda de retrocesso,
uma meia-sola da fé, que prega a teologia da prosperidade e a individualidade.
Uma maneira cruel de abstrair os fiéis da modernidade. No Brasil, ainda há um
tempero gravíssimo, uma dose tremenda de conformidade diante dos desígnios de
Deus.
Uma
coisa é certa, sem uma utopia para buscar, sem imaginar um paraíso coletivo,
igualitário, onde a felicidade é uma conquista social, a juventude brasileira
parece presa fácil do lero-lero ameaçador deste puritanismo de meia-tigela. Na
dúvida, preferem inibir o senso crítico e sequer se dão conta que mergulham
desde já na mais terrível de todas as formas de dominação: a culpa.
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