O clássico isqueiro Zippo: uma séria ameaça a segurança aérea |
Alguém já disse que
atividades de inteligência não combinam com a ação burocrática da polícia do
Estado. Por esta razão, a entrada ou saída de um aeroporto – e esta não é
necessariamente uma característica latino-americana – é sempre uma surpresa.
Por exemplo, qual a razão para que se tire um lap top ou um tablete na hora de
passar no raio-x. Ou, porque um isqueiro tipo zippo é considerado um perigoso
instrumento que atenta contra a segurança de um voo internacional?
Como dizem os argentinos,
nada!
Não há uma maldita
explicação para isso. Apenas algum gênio do alto da sua sabedoria e da sua
postura burocrática, decretou que um isqueiro é um perigo, mesmo que seja um
bic. E pronto.
Certa vez, embarcava em
Brasília e durante o raio x implicaram com um tubo de desodorante. Tomaram.
Andei menos de 10 passos. Entrei na Free-Shop e comprei exatamente o mesmo
frasco, com o agravante que estava cheio, e embarquei sem nenhum problema. Qual
é a lógica?
Não há lógica. Há sim uma
clara intenção de criar constrangimento. Se o meu tubo de desodorante era um
atentado de tal maneira violento que permitia ao agente do estado se apropriar
dele. Por que o mesmo tubo comprado na free-shop não era?
Nunca vou me esquecer de
uma cena que testemunhei na ponte da amizade, em Foz do Iguaçu, na fronteira
com a República del Paraguay. Uma excursão de avós caiu provavelmente no mau
humor do delegado de plantão, que decidiu que as velhinhas seguramente estavam
atentando contra a economia nacional. Todas desceram do ônibus já escoltadas
por agentes com coletes a prova de bala, bombas de efeito moral, metralhadoras
e fuzis de repetição. Levadas para uma sala foram obrigadas a abrir todos os
presentes que compraram no comércio de Ciudad del Leste, para netas, noras,
genros, filhos e assim por diante. Os agentes com uma delicadeza jamais vista,
rasgavam os pacotes e os embrulhos. Certamente imaginaram ver nas páginas dos
jornais a manchete: Polícia Federal descobre conexão sexagenária na fronteira.
Que pasó? Nada.
As velhinhas voltaram para
o ônibus com seus presentes totalmente decompostos. A maioria com a pressão
arterial bem alterada e o alívio da sensação de que seriam condenadas a viver
seus últimos dias em um presídio sobre a acusação de contrabando.
Aliás, são comuns as
batidas em ônibus fretados exclusivamente em São Paulo, Curitiba, Rio ou
Brasília para transportar as famosas sacoleiras. Enchem os bagageiros com
bagulhos de toda a sorte, para revender com pequeno lucro e desconto das
despesas de viagem. Os valentes agentes da Receita Federal, defensores
intransigentes da equidade republicana, não raro confiscam tudo. Como se estas
pobres famílias suburbanas, muitas das quais sem encontrar outro meio de
subsistência, fossem perigosos contrabandistas, tentáculos de máfia ou dos
cartéis colombianos de drogas.
Em Brasília, capital da
República, existe uma célebre Feira de Importados, também batizada de rua do
Paraguay, onde se pode comprar desde uma cafeteira italiana, lap tops e todos
os produtos made-i n-paraguay que se pode imaginar. Tudo muamba! Mas,
curiosamente há até uma agência do Banco do Brasil, praça de alimentação, os
lojistas são bem organizados, etc... É uma das grandes atrações turísticas da
capital. Assim, bem medido, instalada a cinco quilômetros da sede da Receita
Federal.
Nada contra.
O problema é que a minha
mãe ou a minha tia podem ser suspeitas de promover contrabando em Foz do
Iguaçu. E ao mesmo tempo podem comprar o mesmo produto na rua do Paraguay em
Brasília. Eu posso ser confundido com um perigoso terrorista árabe porque
tentei embarcar com um tubo de desodorante ou com um zippo, instrumentos que
certamente me permitiriam sequestrar um avião e lança-lo contra, vejamos, pelo
meu humor atual, o centro de treinamento do Palmeiras na Barra Funda.
Quando trabalhava na Infraero
dei de frente com um projeto inspirado pelo glorioso comando da Força Aérea
Brasileira que pretendia colocar barreiras especiais nos portões dos aeroportos
brasileiros. Estas engenhocas, quando acionadas, fariam surgir pontas de aço
cujo propósito seria dilacerar os pneumáticos de qualquer viatura.
Não lembro exatamente quanto
dos recursos públicos seria investido nesta indispensabilíssimo equipamento que
permitira, por exemplo, impedir que sequestradores do Al-Queada, muito
frequentes nos aeroportos brasileiros, pudessem ganhar as seguríssimas ruas e
avenidas das cidades brasileiras. Mas, era uma baita grana. Outra coisa que me
chamava à atenção era que a metragem dos portões nunca batia. Coisa que, aliás,
parece recorrente na administração pública: a eterna dificuldade em conviver
com o sistema métrico-decimal.
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