O nascimento de Jesus: o ano zero do mundo ocidental |
É Natal!
Certa vez escrevi uma frase bastante polêmica, que me
valeu uma gloriosa rejeição de toda a família: se dependesse de mim, revogaria
o Natal, o Revellion e o Carnaval.
Claro que não me referia à celebração da efeméride do
aniversário de Jesus de Nazareth, de longe o mais polêmico, insinuante e ousado
ser humano que colocou os pés neste planeta.
Para se ter uma idéia do poder desta criatura, tirante os
dogmas etc e tal, ele veio ao mundo num pedaço de terra ocupado por um exército
estrangeiro, dividido pela incompetência e pela corrupção de um governo
dividido entre o fundamentalismo e, digamos o Herodes way of live, jamais
escreveu uma linha sequer, não tinha internet, televisão, rádio ou sistema de
amplificação de som. Ainda assim provocou um racha tão grande no pensamento
dominante, que o nascimento dele marca o ano zero do mundo ocidental.
Gosto de ver o cristianismo pela ótica histórica: a
oficina de marcenaria em Nazareth, a caminhada, a simplicidade de seus
seguidores e a pregação meridiana. Depois o cisma com o judaísmo, patrocinado e
elaborado sobretudo por Paulo, o surgimento da Santa Madre e em seu nome as
barbaridades que se perpetraram.
Mais uma vez, o poder de Jesus é impressionante. A Igreja
erigida em seu nome ungiu tiranos, patrocinou massacres, dizimou civilizações,
apoiou a escravidão do homem pelo homem, perseguiu a ciência e o conhecimento,
demonizou o progresso e a evolução. Mas, nada disso colou no homem de Nazareth,
afinal o que a história mostra são as atrocidades feitas em seu nome, por
homens comuns. Não por ele.
Jesus não teria se mantido vivo, não fosse a Igreja que
surgiu como guardiã de seus ensinamentos. E esta Igreja não teria se mantido
com poder e influência sobre 40% da humanidade, não tivessem seus integrantes,
digamos, manipulado estes cânones de acordo com seus interesses, nem sempre
diga-se, cristãos ao pé da letra.
Antes de Jesus, outro profeta, Moisés, precisou de um código
rigorosíssimo para conduzir os judeus por 40 anos no deserto. Seria
interessante ouvir a opinião do Príncipe do Egito sobre a sua Canaã, hoje
transformada na Faixa de Gaza.
Aqui tem outra digressão curiosa. Árabes e judeus, todos
descendentes de Abrahão, sempre se deram as mil maravilhas, até 1948, com o
surgimento do Estado de Israel. Os cristãos por sua vez passaram dois mil anos
perseguindo os judeus a quem chamam de deocidas e aos árabes a quem acusam de
usurpar a Terra Santa.
Nem Moisés, nem Jesus, têm nada a ver com isso. Embora o código
do primeiro tenha servido para a acusação que culminou no martírio do segundo.
A Santa Madre precisou de 1.960 anos para definir a opção
preferencial pelos pobres. E mais algumas décadas para fazer uma auto-crítica
sobre as barbaridades que perpetrou na história da humanidade.
Outro dia, acompanhei o prefeito Fernando Haddad a um
almoço no SBT. Fomos recebidos com notável simpatia por Guilherme Stoliar e
pela herdeira Patrícia. Sempre tive simpatia por Silvio Santos. O menino judeu
pobre, que aproveitou o timbre da sua voz para conseguir um emprego de locutor
nas balsas de Niterói. Depois camelo em São Paulo. Radialista
e inventor do genial Baú da Felicidade, fonte e origem de toda a sua fortuna.
Haddad perguntou a Patrícia como ela tratava a questão
religiosa na família. Filha que é de pai judeu e mãe evangélica. Humilde e
serena a menina não perdeu a simpatia e saiu-se com essa:
- Nós praticamos o judaísmo messiânico.
Na essência, como diz o meu irmão Luiz Massonetto,
trata-se do cristianismo. Mas, na prática, como o Brasil é a terra do sincretismo
e da tolerância aos dogmas, acho que deve ser mesmo algo como um cristão que não
come presunto.
Jesus como se sabe era judeu. Ao se revelar como filho de
Deus, deu o pretexto para Caifás condená-lo por heresia e levá-lo à cruz. Mas,
ao que se saiba, nunca degustou carne de porco.
Feliz natal para todos!