domingo, 16 de dezembro de 2012

Os fantasmas de São Paulo



Pátio do Colégio: sementes de dois padres jesuítas





Uma amiga querida, muito querida, costumava me dizer sempre que São Paulo sentia a minha falta. Notório exagero muito mais atribuído à amizade e a saudade do que a verdade.

A minha volta a São Paulo, não posso esconder, me encheu de orgulho e de satisfação. Principalmente pelo fato de integrar a equipe do novo prefeito, este Arthur genial, que tirou Excalibur da pedra, e reuniu em torno de uma mesa redonda os cavaleiros de boa vontade decididos a salvar o Reino.

Otimismo e orgulho à parte, reencontrei um cenário de pesadelo. Aliás, recorrente. Sempre me vejo a caminhar em uma cidade em escombros, verdadeiro túmulo urbano, com prédios abandonados e pessoas vivendo e se alimentando da decadência. O que me aturdiu nestes primeiros dias foi o silêncio. O mais ensurdecedor silêncio que eu já vi.

Da minha janela no prédio da Caixa Econômica Federal na praça da Sé posso divisar toda a rua Direita. Incrível. As pessoas, poucas, andam de um lado para outro, na maioria das vezes aparentemente sem um destino fixo, em profundo silêncio. Nem o velho camelo com voz rouca que bradava todo o tempo:

- Barbeador americano. Lâmina Chic.

Sai para uma volta solitária, em um final de tarde quente, como tem sido todos estes finais de tarde. O charme e a pujança da antiga City Paulistana não existem mais. Alguns fantasmas me acorreram. Aqueles senhores de gravata borboleta na Casa Beethoven, no largo da Misericórdia, os quase artesãos da rua do Comércio, que em pequenos locais consertavam brinquedos, isqueiros, cachimbos ou canetas tinteiro, tipo Parker 24. Aquele pessoal de avental branco, que trabalhava na farmácia Viado D’Ouro ou na Casa Fretin. A estátua abandonada do patriarca, com ar de perplexidade, ou a tristeza de Giuseppe Verdi, ainda e sempre inspirado por um anjo a soar a lira da criação.

Todos estes doces fantasmas me receberam com carinho. Até a voz do pregador, sob uma caixa de madeira, a anunciar o apocalipse, parecia fora de sintonia.

São Paulo, esta Avalon adormecida, pode começar a se espreguiçar. Levanta e ocupa o teu papel de metrópole pulsante. De cidade líder em um continente que emerge. Rompe com os grilhões dos guetos. Enche os teus filhos de orgulho. Respira e assume o papel de Meca do ainda Novo Mundo.

Um comentário:

  1. assim espero ! sair das Brumas é o que São Paulo mais quer- assumir seu lugar de liderança será um premio a conquistar !e merecido!

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