terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

É difícil ser católico no século XXI




Bento XVI: decisão de profunda humildade, coerente com sua objetividade




Confesso que fiquei bastante surpreso  com a decisão do papa Bento XVI de apresentar sua renúncia, na última segunda dia 11. Depois ao refletir melhor, cheguei à conclusão de que foi uma atitude muito própria da racionalidade e do pragmatismo inerentes a essência de Joseph Ratzinger. Difícil mesmo é suportar o festival de asneiras que pensadores proto-ateus, não católicos, neófitos de uma maneira geral, derramaram na rede social e nos meios de comunicação.

Certa vez, conversando com d.Helder Câmara em Itaicy, em torno de uma chávena, ele me dizia que um dos problemas do catolicismo residia no fato de que boa parte de seus fiéis queriam na verdade mudar a essência da doutrina. “Isso será o fim da Igreja”, proclamava ele.

É bem verdade que o Concilio Vaticano II, convocado por João XXIII e aprofundado por Paulo VI deu uma arrumação importante na Igreja pós revolução francesa. O rito deixou de ser em latim, instituíram-se as pastorais, abriram o espaço para os leigos, a opção preferencial pelos pobres, o ecumenismo deixou de ser uma teoria. Mais recentemente, até por obra do próprio Ratzinger, então eminência parda de João Paulo II, chegamos a um impensável pedido de desculpas pelos erros históricos, os equívocos sanguinários, a segregação da ciência e outros absurdos.

A Igreja romana evoluiu entre a morte de Pio XII e a renúncia de Bento XVI, ou seja pouco mais de meio século,  muito mais do que em dois milênios de existência. Tornou-se mais social, mais atuante, mais viva e mais presente. Para isso contaram a coragem de João XXIII, a firmeza de Paulo VI, o poder midiático de João Paulo II e a lucidez de Bento XVI.

Entretanto, este avanço não inclui aspectos doutrinários fundamentais: a igreja católica estuda o marxismo, mas não é materialista, nem dialética; preocupa-se com a fome no mundo e com os imensos contingentes populacionais, mas é contra o controle da natalidade; não aceita nenhuma revisão dos seus sacramentos, por isso, ainda sustenta que o matrimônio é indissolúvel; entende que o homossexualismo é um desvio de comportamento e não aceita o sacerdócio feminino.

Pessoalmente acho que a Igreja erra, sobretudo na questão do controle da natalidade e na indissolubilidade do casamento. Mas, quem sou eu para confrontar dois mil anos de sabedoria¿

Bento XVI queria uma igreja menor e mais centrada no que chama de fundamentos. Em outras palavras: ninguém é obrigado a ser católico, mas se for tem que aceitar o dogma como base. Roma não vai se curvar ao mundo.  É, exatamente o contrário, e não foi ele quem inventou isso, mas o apóstolo Paulo quando fundamentou a Igreja.

É claro que o Vaticano sabe os problemas que enfrenta: a crise vocacional, a pedofilia, os desmandos em suas finanças, a pressão de uma sociedade em crise e, por isso mesmo, em evolução perene. Mas, também não é a primeira vez que passa por isso, nem será a última.

Ratzinger tomou uma decisão de profunda humildade. Concluiu, por qualquer razão, aparentemente por questões físicas, que não tem condições de enfrentar estes desafios. E que a indicação de um sucessor poderia poupar milhões de fiéis de uma agonia imensa e de um imobilismo indesejável. Foi coerente e objetivo:  não é fácil ser católico no século XXI. 

Um comentário:

  1. Um filme a ser visto é "As Sandálias do Pescador", que mostra exatamente o que é ser um Papa.

    É mais do quer somente "O Escolhido de Deus", mas vejo como o designado para o povo. Ser de Deus é ser do Povo.

    E é isso que Ratzinger é e o Papa Lakota seria...

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