segunda-feira, 1 de junho de 2015

Um triângulo, um duelo e um fora gigantesco


Svetlana Aksenova, na cena da carta: declaração de um amor juvenil



O que se espera de uma ópera?

Tem gente que vai ao teatro em busca de montagens luxuosas, figurinos extraordinários, um grande baile, a possibilidade de fazer um selfie na escadaria, ver e ser visto.

Eugene Oneguin é a quarta produção deste ano do Theatro Municipal de São Paulo. A primeira foi Otello, de Verdi, depois o Homem Só, de Camargo Guarnieri, e Ainadamar de Osvaldo Golijov. A ópera de Tchaikovsky é extremamente frequente em todos os teatros do mundo e é uma opção segura para o repertório russo.

O texto original do poeta Alexander Pushkin surgiu no ápice do romantismo e foi publicado em série, como uma novela, entre 1825 e 1832. Trata-se de um romance em versos, que fez um sucesso tremendo na Rússia e, de resto, em toda a Europa, com versões em alemão, francês e inglês.

Tchaikovsky escreveu a música da ópera, que estreou em 1879, como um grande exercício para os alunos do Conservatório de Moscou. A orquestração para os moldes tchaikosvikianos é tímida, sem contra-fagote, nem tuba, nem percussão. Sem as madeiras dobradas, como nas suas sinfonias ou na maioria dos seus balés. Em compensação exigiu e muito do coro e dos cantores.


Cena do coro no primeiro ato: sentimentos extravasados
Nesse sentido, a montagem do nosso Theatro esteve irrepreensível. Bruno Facio fez com que as vozes do coro extravasassem os sentimentos.

Svetlana Aksenova, Alisa Kolosova, Larissa Diadkova e Alejandra Malvino fizeram, no primeiro elenco, um quarteto de vozes perfeito. A cena da carta, monólogo de quase 20 minutos de Tatiana, foi encarado por Aksenova com uma naturalidade surpreendente.

Aliás, Aksenova e Kolosova deram aos personagens de Tatiana e Olga aquele vigor e aquele calor tão típicos dos personagens dos romances russos.  Larissa Diadkova fez a ama Felipevna, como uma matruska apaixonada por sua pupila. Seu passarinho como ela diz.

Fernando Portari e Andrei Bondarenko: cena do duelo perfeita
O barítono ucraniano Andre Bondarenko fez um papel título correto, introvertido, sofrido mesmo, como compete ao personagem. O brasileiro Fernando Portari, por seu lado, fez um Vladimir Lenski maravilhoso, esfuziante e apaixonado. Venceu com tranquilidade toda a dificuldade em cantar em russo. Jacques Delacôte impôs uma regência suave.  Como sempre, a orquestra ofereceu solos perfeitos, notadamente no naipe das trompas, e teve uma performance perfeita.


Muito bem, para quem quer ver e ouvir boa música este Eugene Oneguin merece todas as recomendações. Marco Gandini, o diretor de cena,  apresentou uma versão espartana, mas muito moderna e apropriada.

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