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Svetlana Aksenova, na cena da carta: declaração de um amor juvenil |
O que se espera de uma
ópera?
Tem gente que vai ao
teatro em busca de montagens luxuosas, figurinos extraordinários, um grande
baile, a possibilidade de fazer um selfie na escadaria, ver e ser visto.
Eugene Oneguin é a quarta
produção deste ano do Theatro Municipal de São Paulo. A primeira foi Otello, de
Verdi, depois o Homem Só, de Camargo Guarnieri, e Ainadamar de Osvaldo Golijov.
A ópera de Tchaikovsky é extremamente frequente em todos os teatros do mundo e
é uma opção segura para o repertório russo.
O texto original do poeta
Alexander Pushkin surgiu no ápice do romantismo e foi publicado em série, como
uma novela, entre 1825 e 1832. Trata-se de um romance em versos, que fez um
sucesso tremendo na Rússia e, de resto, em toda a Europa, com versões em
alemão, francês e inglês.
Tchaikovsky escreveu a
música da ópera, que estreou em 1879, como um grande exercício para os alunos do
Conservatório de Moscou. A orquestração para os moldes tchaikosvikianos é
tímida, sem contra-fagote, nem tuba, nem percussão. Sem as madeiras dobradas,
como nas suas sinfonias ou na maioria dos seus balés. Em compensação exigiu e
muito do coro e dos cantores.
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Cena do coro no primeiro ato: sentimentos extravasados |
Nesse sentido, a montagem
do nosso Theatro esteve irrepreensível. Bruno Facio fez com que as vozes do
coro extravasassem os sentimentos.
Svetlana Aksenova, Alisa Kolosova, Larissa Diadkova
e Alejandra Malvino fizeram, no primeiro elenco, um quarteto de vozes perfeito.
A cena da carta, monólogo de quase 20 minutos de Tatiana, foi encarado por
Aksenova com uma naturalidade surpreendente.
Aliás, Aksenova e Kolosova
deram aos personagens de Tatiana e Olga aquele vigor e aquele calor tão típicos
dos personagens dos romances russos.
Larissa Diadkova fez a ama Felipevna, como uma matruska apaixonada por
sua pupila. Seu passarinho como ela diz.
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Fernando Portari e Andrei Bondarenko: cena do duelo perfeita |
O barítono ucraniano Andre
Bondarenko fez um papel título correto, introvertido, sofrido mesmo, como
compete ao personagem. O brasileiro Fernando Portari, por seu lado, fez um
Vladimir Lenski maravilhoso, esfuziante e apaixonado. Venceu com tranquilidade
toda a dificuldade em cantar em russo. Jacques Delacôte impôs uma regência
suave. Como sempre, a orquestra ofereceu
solos perfeitos, notadamente no naipe das trompas, e teve uma performance
perfeita.
Muito bem, para quem quer ver
e ouvir boa música este Eugene Oneguin merece todas as recomendações. Marco
Gandini, o diretor de cena, apresentou
uma versão espartana, mas muito moderna e apropriada.
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