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O Aedes Aegipti: vilão de doenças, legado que os portugueses trouxeram da Africa |
Houve um tempo em que as
crianças iam para cama, ajoelhavam-se antes de dormir e pediam ao papai do céu
que zelasse para que os malucos da Casa Branca, em Washington, ou do Kremlin,
em Moscou, não acabassem com o mundo e a humanidade em algum surto de madrugada. Foram tempos duros que começaram no dia que
os americanos explodiram as duas bombas no Japão em Hiroshima e Nagasaki, 6 de
agosto de 1945.
Esta neurose acabou nos
anos 90, quando enfim o Muro de Berlim foi para o chão e a chamada Guerra Fria,
ocidente-oriente, leste-oeste, capitalistas-comunistas, azuis-vermelhos, acabou.
Pessoalmente sempre achei
que a humanidade era uma construção extremamente elaborada para que um maluco
acabasse com tudo ao apertar um botão. Mas, acho que o mundo pode acabar de
forma muito mais prosaica, por conta de um mosquito como o Aedes Aegypti ou uma
maldita pulga de um rato.
O Aedes é um inimigo
antigo do Brasil e do mundo. Ele foi
responsável, por exemplo, pela epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro no
início do século XX. Este ser infeliz chegou ao país no século XVII, provavelmente
em navios negreiros, que, claro, vinham da África. Mais uma herança genial dos
portugueses. As vezes acho que o terremoto de 2 de novembro de 1755, foi pouco
pela desgraça que os lusitanos impuseram ao mundo.
Os primeiros casos de
febre amarela surgiram em 1685 no Recife e, em 1692, em Salvador. Entre 1849 e
1850 surgiu a primeira grande epidemia, que atingiu quase todo o pais.
No final do século XIX um
cientista cubano, Carlos Juan Finlay descobriu que a porcaria da febre amarela
era transmitida pelo Aedes Aegypti . Não tinha nada a ver com o clima, o solo
ou os ares. Entre 1880 e 1889 o aedes vitimou com a febre amarela 9.376
pessoas.
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Oswaldo Cruz: brigadas sanitaristas |
O sanitarista brasileiro Oswaldo
Cruz conhecia o trabalho do dr.Finlay e sabia que o presidente Rodrigues Alves
havia perdido um filho para a febre amarela. Por isso não foi muito difícil convence-lo
de que o combate sem quartel ao mosquito era a única forma de livrar o Rio de
Janeiro da febre amarela.
Nomeado diretor do
Departamento Nacional de Saúde Pública, o sanitarista paulista criou as
brigadas do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, formada por sanitaristas,
que não tinham nenhum prurido em invadir residências e propriedades privadas
para atacar os focos do Aede Aegypti. Lavavam caixas d’água, jogavam inseticida
em ralos e bueiros, limpavam telhados e calhas, instalavam redes de proteção. E
se encontrassem alguém doente ou contaminado pela doença processavam
imediatamente o seu isolamento.
Foi uma gritaria danada.
Mas, o danado do Aedes foi para o espaço. O Rio se livrou da febre amarela.
Mas, Oswaldo Cruz ainda teve que lidar com a varíola e com gripe espanhola, que
vitimaram milhares de brasileiros. Em tempo: o presidente Rodrigues Alves
tombaria morto, vítima da gripe
espanhola.
O Aedes voltaria apenas
nos anos 80. Este desgraçado é o responsável pela dengue. E agora pela
chicungunha e pelo zika vírus, que entre outras coisas, provoca má formação de
cérebros, a chamada microcefalia, e a Síndrome de Guillan Barret, uma estranha
doença que simplesmente liquida com as membranas que delimitam as células
musculares. Uma beleza!
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Rodrigues Alves: vítima da gripe espanhola |
São Paulo deve ter no
próximo ano, segundo cálculos baratos, mais de 150 mil casos de dengue. Há
focos do maldito mosquito em toda a cidade. Cerca de 80% deles dentro do
ambiente residencial. Ou seja, se cada
morador tiver um mínimo de bom senso e seguir as normas mais que conhecidas:
não deixar água parada, cobrir reservatórios, cuidar de vasos, plantas e
flores, pneus abandonados, calhas, etc... A gente acaba com o maldito.
Não vai acontecer. Tem
gente que se nega inclusive a permitir que os agentes sanitários entrem nas
casas para verificar. Tem gente que apesar dos mais de 100 ecopontos, prefere
jogar lixo na rua. São Paulo gasta mais de R$ 1 bilhão por ano apenas para
varrição de vias públicas (!!!!!!!!) Absurdo total.
Como as crianças do tempo
da guerra-fria, agora é rezar para o inverno chegar logo e rigoroso. A única
coisa que acaba com este infeliz é uma sequencia de cinco dias com temperaturas
abaixo dos 15 graus centígrados. Foi o inverno rigoroso de tempos de antanho
que manteve São Paulo longe da febre amarela.
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