Mais um dos grandes que vai para a eternidade: "Io ero Sandokan" |
Droga! Sinto-me cada vez
mais sozinho. Agora com a morte de Ettore Scola parece que um pedaço de mim
morreu também. Genial a manifestação do grande Juan Campanella: “Obrigado
Ettore, por ter mudado minha vida”.
Faço minhas as palavras
dele.
Parece incrível que eu ainda
me lembre da noite escura e chuvosa em que, um moleque besta como eu, desceu as
escadas do antigo Cine Coral na rua Sete de Abril, para ver um estranho filme
chamado “Nós que nos amávamos tanto”. Título engraçado pensei.
Quando eu sai do cinema,
duas horas e algumas existências depois, eu não era mais o mesmo. Nunca mais
seria. “Gianniiiiiiiii.....”
Assisti este filme mais de
50 vezes. Tenho uma cópia em DVD que deve estar até gasta. Nunca me canso. ...”E
io ero Sandokan!”
Scola abriu a minha mente.
Me ensinou que coisas sérias não precisam ser ditas com a tonitronicidade (xi,
inventei isso agora, quer dizer de forma tonitroante) do Sinai. E sim com bom
humor, humanidade e tolerância. Coisa que a esquerda latino-americana nunca
aprendeu. Sempre se levaram muito a sério.
Dois outros títulos de Scola
me impactaram sobremaneira. “Feios, sujos e malvados”, tranquilamente a melhor
interpretação de Nino Manfredi. E o abismal “Um dia muito especial”, em que
Marcello Mastroianni e Sophia Loren retratam angustia e ansiedade da forma mais
realista que eu já vi. Só um gênio de outro planeta para fazer uma dona de
casa, careta e fascista, estuprar um radialista, gay e comunista, no dia em que
Adolf Hitler visitava Roma.
Já falei de três filmes fora
de série, muito acima da média. Mas tem mais: “As aventuras do capitão Trovão”,
que consagrou o grande Massimo Troisi. E uma bobagem, “Casanova e a Revolução”,
fantasia sobre a fuga de Paris do famoso galanteador veneziano, decadente e
impotente, vivido por Mastroianni e co-estrelada por ninguém menos que Hanna
Schygulla.
Estes cinco, como dizem os
italianos, podem ser chamados de capo lavoro. Ao todo foram 40 filmes em uma
carreira brilhante que termina com a homenagem prestada ao grande Federico
Fellini, seu mestre e de nós todos, com o agradabilíssimo “Que estranho
chamar-se Federico”.
Tenho certeza que gênios
como Scola não desaparecem com a morte. O seu espírito, sua inteligência e sua
sagacidade devem ter ido para um lugar especial onde já estão, o próprio
Fellini, Monicelli, Pietro Germi, Pasolini, Visconti, entre outros.
E quando bateu na porta
deste lugar, Ettore ouviu do outro lado: “Giannnnnnnni.........”
Nenhum comentário:
Postar um comentário