terça-feira, 6 de novembro de 2012

A rede social e o ato de fazer a barba


O click e a postagem na rede: imagens sem nexo de um personagem sem sentido




Normalmente não escrevo aqui sobre temas relacionados com Educação, por razões óbvias. Mas, não há como passar ao largo desta questão dos candidatos ao ENEM-2012, que, mesmo diante da proibição de portar telefones celulares, levaram o equipamento para dentro da sala do exame. Pior: ainda se deram ao trabalho de tirar e postar fotos nas redes sociais. Resultado: 37 dançaram no sábado e 28 no domingo.

Confesso que foge a minha compreensão esta compulsão idiota de postar nas redes sociais fotos triviais do tipo “eu estou aqui” ou “o bebedouro onde vou beber”. Isso na versão mais singela. Há aqueles que postam desde a sobremesa do jantar, até detalhes da intimidade da sua última conquista. O que explica isso?

Qualquer analista, por mais rastaqüera que seja, dirá que se trata de um narcisismo exacerbado. Até aí, nenhuma novidade, estão aí os realitys shows com sucesso desmedido. Realmente o mundo está ávido por saber quem come quem e onde. Mas, quando um candidato joga todo um esforço da família por anos a fio pelo ralo, sabendo que está sendo monitorado. Sabendo que no dia anterior, outros se deram mal. Isso não é narcisismo, é burrice.  

Alguém dirá que as redes sociais, o telefone celular e o mundo digital devassaram completamente a intimidade das pessoas. A intimidade e a individualidade. E tem razão. É o enorme preço da modernidade. Para o bem e para o mal.

Quem dentre nós, diante de um espelho, com a cara cheia de espuma de barba, numa manhã ressacada, não olha para o passado (ou até para o presente) e não contempla um segredo? Uma maldade inconseqüente ou uma deliciosa transgressão que guardamos lá no fundo da alma.

Esta reflexão me levou a um livro que eu li há muitos anos. Chama-se Retorno de um Soldado e foi escrito pela britânica Rebecca West. Trata-se da história de um potentado inglês, arrogante e prepotente, senhor de terras, absolutamente insensível, agressivo, intolerante, de nome Chris Baldry. Ele partilhava o seu poder com a esposa Kitty, que se alimentava da sombra do marido.

Por alguma razão desconhecida, este animal acaba incorporado à força expedicionária britânica que vai lutar a primeira guerra mundial na Bélgica. Uma granada alemã explode na sua trincheira. Ele não apresenta nenhum ferimento aparente, mas mergulha numa amnésia dos últimos 15 anos.

Quando volta para a  Inglaterra, não é mais o homem prepotente e arrogante que saíra. É, de fato, o que ele era na verdade, um cara tímido, inseguro, que nutria uma paixão descontrolada pela namorada, uma camponesa de nome Margaret. Além disso era assediado pela prima ardente, Jenny.

O que mais impressiona no livro é que o Chris que volta não sabe do Chris que foi. E é feliz. Com os amores da camponesa e os jogos com a prima.

Desnecessário dizer que a esposa perpetra a suprema maldade de revelar a verdade a ele.

A versão cinematográfica de Alan Bridges não é tão boa quanto o livro. Mas, tem Alan Bates, como Chris, Julie Christie, como Kitty, a super deusa Glenda Jackson como a camponesa Margaret e, ninguém menos do que Ann-Margret, como a fogosa prima Jenny.

Na verdade, todo este volume de informações da intimidade e da individualidade das pessoas que circula pela infovia é apenas um reforço do exibicionismo de cada um. Os tais cinco minutos de fama, ou 1.500 seguidores que curtem estas imagens, a maioria sem nexo e sem sentido. A verdade de cada um, aquela do espelho pela manhã, esta ainda não inventaram nada que revele.   
  

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