domingo, 3 de março de 2013

A música e a Guerra Fria



Wolfgang Sawallisch: regente competente, morto em 22 de fevereiro 






Na árida leitura dos jornais dominicais, cada vez mais cáustica, chamou-me a atenção uma reportagem de João Marcos Coelho, competente crítico de música erudita, com o registro de três passamentos terríveis: o da organista francesa Marie Claire Alain, do pianista americano Van Cliburn, e do excepcional regente alemão Wolfgang Sawallisch.

 O artigo está publicado no Estadão de hoje, no Caderno 2. Não conheço João Marcos pessoalmente. Mas, costumo corroborar suas críticas. Na leitura de hoje, me chamou a atenção o seu cuidado em definir o que foi a Guerra Fria: “ Conflito político-ideológico entre Estados Unidos e União Soviética, as duas superpotências do pós-guerra, que usou armas atômicas como um cutelo pairando sobre todos os habitantes do planeta por quase meio século, entre 1947 e 1989”.

E eis que, de repente, me dei conta que as novas gerações realmente precisam destas informações. Tão mal informadas que são, poderiam por exemplo imaginar uma guerra comercial entre fabricantes de refrigeradores.

João Marcos diz que os três músicos desaparecidos recentemente afirmaram suas carreiras durante a Guerra Fria. E ele tem razão. Van Cliburn, por exemplo, foi chamado de o Sputinik americano. Nunca apreciei suas performances. Sempre as considerei pirotécnicas. E admito que não estou preparado para falar de Marie Claire, embora tenha ouvido algumas interpretações dela, sobretudo de Bach, onde mostrou talento e perfeição técnica. Já do bávaro Sawallisch, posso arriscar aqui algumas linhas.  

Grande regente. Sobretudo na discrição e diria até na humildade. Não se deixou levar pelo sucesso efêmero. Sua interpretação para a Segunda Sinfonia de Brahms está entre as mais perfeitas que eu conheço. Também merece destaque o ciclo das quatro sinfonias de Robert Schumann, uma notável leitura de O Navio Fantasma, de Richard Wagner. Honestamente, nunca vi nele qualquer ponto de tangência política. Mas, acho muito feliz o contraponto que ele estabeleceu entre reger ópera e música sinfônica em entrevista ao João Marcos, em 2003: “Pessoalmente, sempre gostei dos dois gêneros. Cada um tem desafios diferentes: as longas frases das óperas de Wagner, Mozart, Strauss e Verdi, com longas respirações, me ajudaram a fazer o mesmo na música sinfônica de Bruckner e Mahler. Por outro lado, a performance muito mais concentrada nas sinfonias me ajudou a ser mais preciso durante uma ópera”.

Simples assim!

Com relação à Guerra Fria, uma análise histórica vai provar que a humanidade perdeu o seu tempo e jogou boa parte de suas riquezas em um confronto ridículo Leste-Oeste, quando desde sempre o dualismo foi Norte (rico) e Sul (pobre). Hoje sabemos que nem o american-way-of-live avançou em coisa nenhuma, muito menos a onda vermelha revolucionária tinha muito a dizer. Parece que foi tudo uma grande trama dos militares dos dois lados para manter seu poder de influência nos dois regimes e assegurar investimentos absurdos em tecnologia.

A história dirá. Com certeza. 

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