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A essência: fazer passar um balão de couro por ma baliza de três paus. |
Curiosa esta efeméride de
hoje, os 150 anos da oficialização das regras do futebol. Alguns mais
exagerados definiram como a maior invenção da Inglaterra Vitoriana. Também não
é para tanto. Mas, aqueles senhores que se dirigiram ao Freemason’s Tavern, na
Great Queen Street, naquela segunda-feira chuvosa de 26 de outubro de 1863,
seguramente não imaginavam o que estavam prestes a criar.
Na verdade queriam tomar
uma boa cerveja temperada pelo indefectível fish and chips, além de trocar
idéias sobre este esporte maluco em que onze caras tentam fazer um balão de
couro passar por três balizas de madeira. Não se negue, e ninguém nunca negou, o
futebol nasceu da simplificação (ou complicação como querem alguns) do rugby,
já bastante popular naqueles tempos, sobretudo no meio universitário.
Nada de colocar a mão na
bola. Só o goleiro e o ato de recolocar a bola em jogo pela linha lateral.
Outra mudança importante: a bola passou a ser redonda, esférica, e passada
livremente para frente ou para trás (no rugby o passe tem que ser feito
obrigatoriamente para trás).
Estava feito o estrago. O
livro de regras e o balão de couro passaram a percorrer o mundo e amealhar mais
e mais adeptos. Na Alemanha, o futebol chegou a ser proibido, em meio aos
rompantes bismarckianos de superioridade teutônica. Quem diria que 150 anos
depois, a prática deste esporte tosco, praticado no inverno, seria difundido em
todo o planeta, tornado sem dúvida o mais popular em todo o mundo.
Nunca fui um craque da
bola. Mas, gostava de praticá-lo na minha juventude pelos campos de várzea da
minha Moóca. Minha posição predileta era a lateral, de preferência a esquerda,
e meus ídolos na posição eram o argentino Marzolini, do Boca Juniors, e o
brasileiro Nilton Santos, do Botafogo. Minha fixação era o deus negro da
lateral direita do Palmeiras, Djalma Santos, recém-falecido, seu controle de
bola e a facilidade com que passava sempre com perfeição.
Pode parecer precoce
demais, mas eu descobri o futebol com seis anos, durante a Copa da Suécia. Não
havia transmissões televisivas. Era só o rádio e os jornais, sobretudo o Diário
da Noite. Meu pai era um entusiasta de um centroavante do Palmeiras, apelidado
Mazola, que eu descobriria depois era assim chamado em homenagem a um grande
jogador italiano.
Mazola, na verdade José
Altafini, oriundo como eu, nascido em Araraquara, nunca voltou da Suécia. Ficou
e é famoso na Itália, onde defendeu praticamente todos os grandes times, a
Internazionale, o Milan e a Juventus e até a seleção italiana.
Eram os tempos de Pelé,
Garrincha, Nilton e Djalma Santos. De Zito e Dino Sani. De Didi. O futebol
parecia um entretenimento simples que animava as noites de quarta-feira e as
tardes de domingo. O bate-papo com os colegas de escola no recreio. Logo, as
manhãs de domingo e as tardes de sábado passaram a ser consagradas à várzea. O
campo dos Bois, a Bica e outras quebradas.
O Estadão de hoje arrisca
uma seleção de todos os tempos. E com exceção do gênio húngaro Ferenc Puskas,
eu praticamente vi todos jogarem. Eram realmente mágicos. O goleiro era o
ucraniano Lev Yashin, chamado de Aranha Negra; na direita, Djalma Santos,
claro. A zaga: o italiano Gaetano Scirea e o inglês Bobby Moore; na esquerda o
alemão Paul Breitner. No meio de campo, no que se poderia chamar de formação
suicida, o alemão Beckenbauer, chamado de Kaiser, o holandês Johan Crujff, o
deus portenho Diego Maradona e o atleta do século, Edson Arantes do Nascimento,
o Pelé. No ataque Garrincha, o driblador genial, e Puskas, o executor.
Neste time, Yashin, Crujff
e Puskas não foram campeões mundiais por suas seleções. Os ingleses inventaram
o futebol e também o fair-play. O futebol é uma história que se representa em
90 minutos por 22 atores. E já foi muito bom de se ver.