sábado, 26 de outubro de 2013

150 anos da arte de correr atrás da bola


A essência: fazer passar um balão de couro por ma baliza de três paus.





Curiosa esta efeméride de hoje, os 150 anos da oficialização das regras do futebol. Alguns mais exagerados definiram como a maior invenção da Inglaterra Vitoriana. Também não é para tanto. Mas, aqueles senhores que se dirigiram ao Freemason’s Tavern, na Great Queen Street, naquela segunda-feira chuvosa de 26 de outubro de 1863, seguramente não imaginavam o que estavam prestes a criar.

Na verdade queriam tomar uma boa cerveja temperada pelo indefectível fish and chips, além de trocar idéias sobre este esporte maluco em que onze caras tentam fazer um balão de couro passar por três balizas de madeira. Não se negue, e ninguém nunca negou, o futebol nasceu da simplificação (ou complicação como querem alguns) do rugby, já bastante popular naqueles tempos, sobretudo no meio universitário.  

Nada de colocar a mão na bola. Só o goleiro e o ato de recolocar a bola em jogo pela linha lateral. Outra mudança importante: a bola passou a ser redonda, esférica, e passada livremente para frente ou para trás (no rugby o passe tem que ser feito obrigatoriamente para trás).

Estava feito o estrago. O livro de regras e o balão de couro passaram a percorrer o mundo e amealhar mais e mais adeptos. Na Alemanha, o futebol chegou a ser proibido, em meio aos rompantes bismarckianos de superioridade teutônica. Quem diria que 150 anos depois, a prática deste esporte tosco, praticado no inverno, seria difundido em todo o planeta, tornado sem dúvida o mais popular em todo o mundo.

Nunca fui um craque da bola. Mas, gostava de praticá-lo na minha juventude pelos campos de várzea da minha Moóca. Minha posição predileta era a lateral, de preferência a esquerda, e meus ídolos na posição eram o argentino Marzolini, do Boca Juniors, e o brasileiro Nilton Santos, do Botafogo. Minha fixação era o deus negro da lateral direita do Palmeiras, Djalma Santos, recém-falecido, seu controle de bola e a facilidade com que passava sempre com perfeição.

Pode parecer precoce demais, mas eu descobri o futebol com seis anos, durante a Copa da Suécia. Não havia transmissões televisivas. Era só o rádio e os jornais, sobretudo o Diário da Noite. Meu pai era um entusiasta de um centroavante do Palmeiras, apelidado Mazola, que eu descobriria depois era assim chamado em homenagem a um grande jogador italiano.

Mazola, na verdade José Altafini, oriundo como eu, nascido em Araraquara, nunca voltou da Suécia. Ficou e é famoso na Itália, onde defendeu praticamente todos os grandes times, a Internazionale, o Milan e a Juventus e até a seleção italiana.

Eram os tempos de Pelé, Garrincha, Nilton e Djalma Santos. De Zito e Dino Sani. De Didi. O futebol parecia um entretenimento simples que animava as noites de quarta-feira e as tardes de domingo. O bate-papo com os colegas de escola no recreio. Logo, as manhãs de domingo e as tardes de sábado passaram a ser consagradas à várzea. O campo dos Bois, a Bica e outras quebradas.

O Estadão de hoje arrisca uma seleção de todos os tempos. E com exceção do gênio húngaro Ferenc Puskas, eu praticamente vi todos jogarem. Eram realmente mágicos. O goleiro era o ucraniano Lev Yashin, chamado de Aranha Negra; na direita, Djalma Santos, claro. A zaga: o italiano Gaetano Scirea e o inglês Bobby Moore; na esquerda o alemão Paul Breitner. No meio de campo, no que se poderia chamar de formação suicida, o alemão Beckenbauer, chamado de Kaiser, o holandês Johan Crujff, o deus portenho Diego Maradona e o atleta do século, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. No ataque Garrincha, o driblador genial, e Puskas, o executor.    

Neste time, Yashin, Crujff e Puskas não foram campeões mundiais por suas seleções. Os ingleses inventaram o futebol e também o fair-play. O futebol é uma história que se representa em 90 minutos por 22 atores. E já foi muito bom de se ver.


Nenhum comentário:

Postar um comentário