quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

La Boheme, a ópera adotada por São Paulo





La Boheme/2013: o Municipal trilha sua vocação de ser uma casa de ópera



Dificil resistir a La Boheme, ainda mais esta que está em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo, tratada com zelo pelo maestro John Neschling e por toda a equipe da Fundação, com o competente José Herência à frente.

Vale dizer que La Boheme é a ópera de São Paulo. Razões efetivas, desconheço. Com efeito, a obra-prima de Puccini estreou em Turim, em 1896, e um ano depois era montada no antigo Teatro São José, onde hoje é o Shopping Light, com amplo sucesso de público e crítica. Embora o Municipal tenha sido inaugurado com Hamlet, de Ambroise Thomas, em 1911, no mesmo ano a cidade viu os personagens criados por Luigi Illica e Giacomo Giocosa desfilarem pelo palco da cidade.

Eu mesmo vi mais de uma dúzia de montagens. Já vi cenas de La Boheme acompanhadas apenas por piano, até em garagens. Lembro-me de uma com o maestro italiano Gigi Campanino, que trocava de camisetas coloridas a cada ato, durante o ensaio geral.

Vi La Boheme em Roma, na Royal Opera House do Convent Garden, no Colon, de Buenos Aires. Tenho uma meia dúzia de gravações. A que mais me agrada é uma jóia rara, regida por sir Thomas Beecham, com Jussi Bjoerling e Victoria de Los Angeles.

Esta Boheme/2013, em São Paulo, está sem dúvida entre as melhores que eu vi e ouvi. A começar pela concepção cênica, moderna, asfixiante como deve ser uma mansarda em Paris, larga como deve ser a festa de Natal no Quartier Latin, intimista como deve ser a cena dos limites da cidade.  O trabalho de Arnaud Bernard é irrepreensível.

A obra de Puccini é aparentemente singela sob o ponto de vista musical. Mas, trata-se de um solene engano. Não é. Ela exige muito da orquestra e do regente. Neschling foi perfeito. Soube conter a torrente melódica ao mesmo tempo em que ressaltava a voz e as nuances líricas dos cantores. Por outro lado, foi cirúrgico ao administrar a armadilha do final do segundo ato, quando a fanfarra entra em cena em um compasso distinto da orquestra e dos cantores.

Por falar em cantores, pela menos na versão que eu vi, que seleção maravilhosa. A meio grega Alexia Voulgaridou, detentora de uma voz quente e expressiva fez uma Mimi mágica, frágil e delicada como convém. A soprano romena Mihaela Marcu, no papel de Museta, seduziu a todos com uma cavatina imperiosa no segundo ato. Cheia de frescor e de humor. No terceiro ato foi assombrosa, perfeita no quarteto. O tenor brasileiro Atalla Ayan (Rodolpho) não possui uma voz tonitroante. Ao contrário é como um cristal, límpida, clara, com curvas perfeitas. Por outro lado, o barítono italiano Simone Piazzola (Marcelo) é vigoroso e potente. Felipe Bou (Colline) e Mattia Olivieri (Schaunard) perfeitos. O Coral Lírico, agora sob o comando de Bruno Greco Facio, está mais solto, mais alegre. Enfim, o Municipal está mesmo no caminho de se tornar uma verdadeira casa de ópera.

Esta La Boheme estará em cartaz no Municipal até o dia 29 de dezembro, sempre as terças, quintas, sábados e domingos. Evidentemente não haverá espetáculo dia 24.

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