Piscina do Sheraton Tel Aviv: Isaac fez um grande carneiro, nem tão grande assim |
Odeio escrever sobre meus
amigos que se vão.
Deste querido amigo, que
me deixa saudades, e um gosto amargo na boca, nem se fale.
Nosso querido Isaac
Corcias nos deixou.
Com ele, uma série de
receitas e de improvisações gastronômicas espetaculares. Coisa de um judeu
sefardi, nascido no Marrocos, que aprendeu desde criança a lidar com as
especiarias e os temperos e que fez fama no bar da piscina do Sheraton Hotel de
Telaviv.
Conta o Isaac que
preocupado em garantir o seu emprego
como chefe do bar daquele prestigiado hotel em Israel, desenvolveu um carneiro
assado, cujo perfume abria o apetite de qualquer mortal. O sucesso foi
imediato, com exceção de um de seus assistentes, um jovem palestino que
sentenciava implacavelmente: “Está muito bom. Mas, o do meu pai é melhor”.
Um dia, revoltado com a
sentença do palestino, pela enésima vez. Isaac avisou que se o carneiro paterno
era tão bom, ele fazia questão de experimentar.
No início de uma noite,
saíram os dois em direção aos acampamentos palestinos. Tomaram um ônibus,
venceram todas as barreiras militares, até que chegaram. Isaac foi colocado em
um quarto e como estava cansado, dormiu a sono solto.
Acordou no meio da
madrugada com o som de facas sendo afiadas. Olhou pela fresta da porta e viu
que vários punhais, facas e facões eram amolados até adquirir um fio
perfeito. Estaria prisioneiro dos
palestinos e seria descarnado vivo. Começou a lembrar que seu nome é Isaac,
portanto primogênito, como o de Abrahão, patriarca tanto de árabes como de
judeus. Chegou a ouvir o riso de Agar, quando já se encaminhava para o
cadafalso.
Quando o cutelo subiu por
sobre a sua cabeça, Isaac abriu os
olhos. Estava dormindo. Seu assistente palestino o acordava com um sorriso no
rosto e o perfume do carneiro assado. O pai com uma habilidade impar fatiava o
animal que girava e girava em um braseiro ávido. “Acho que nunca comi um
carneiro tão bom”, costumava dizer o bom Isaac. “Pena que o velho não me deu a
receita do tempero. Só me falou da importância de amolar as facas”.
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