quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Viver em São Paulo tem suas vantagens


Anna Caterina Antonacci e Tatjana Vassiljeva: musas do
canto e do arco,  na mesma noite em São Paulo


E não me refiro apenas a pizza, a gastronomia, o pão ou as feiras livres. Noite de terça-feira, 5 de agosto. Na sala São Paulo, a grande cantora Anna Caterina Antonacci, oferece o segundo recital patrocinado pelo Mozarteum. No Theatro Municipal, a nossa orquestra dirigida por Christian Arming, flamante regente austríaco, acompanha a violoncelista Tatjana Vassiljeva, no Concerto para violoncelo de Edward Elgar.

Coração dividido. Falou mais alto a minha paixão pela OSM. E pela  música sinfônica.

Edward Elgar (1857-1934) é um dos compositores mais instigantes da passagem do século XIX para o século XX. Britânico compôs uma série de marchas para comemorar a ascensão do rei Edward Sétimo ao trono.

Em 1899, Elgar criou as Enigma Variations, o bom e velho temas e variações, mas com uma ponta de mistério, rara mesmo naquele momento. Ficava clara a sua condição de solidão, afinal ele dialogava com os compositores continentais e não com seus compatriotas insulares.

Em 1907, Elgar compôs uma sinfonia e um concerto para violino. Com o advento da Primeira Guerra e a morte de sua esposa, Alice, o compositor deixou de compor. Se sentia superado pela carnificina no continente. Justamente esta perplexidade é facilmente compreendida na sua segunda sinfonia. E de maneira genial em seu concerto para violoncelo.

Nenhuma das duas obras foi muito bem aceito pelo público britânico.  Na verdade, o concerto foi praticamente recomposto por Jacqueline Du Pre e sir John Barbirolli, que captaram perfeitamente este sentimento de vazio existencial e de perplexidade diante dos fatos.

Foi exatamente isso que Tatjana Vassiljeva capturou em sua interpretação. Da nova geração de musicistas que impõe ardor e vigor a sua interpretação, sem esquecer de fazer ressaltar  o fraseado e as nuances da fraseologia, a violoncelista russa impressionou. E muito.

Christian Arming fez ressaltar a delicadeza de nossa Sinfônica Municipal. Zelou pelos solos e mostrou que lidava com um conjunto preparado para o desafio de tocar uma das obras mais enigmáticas do século XX.

Mas, foi na segunda parte, na Sinfonia em Ré Menor de César Franck, que Arming testou mesmo a Sinfônica Municipal. Sua visão da obra de Franck não é de uma sinfonia. Arming não se limitou aos andamentos duros. Encarou a obra como se fosse um poema sinfônico de Franz Liszt, a quem Franck adorava.  O resultado foi espetacular.


Grande noite! Soube que La Antonacci também foi brilhante. Principalmente a sua Chanson Boheme, da Carmem de Bizet e as canções de Ravel e Berlioz. 

Pena! Fica para uma outra vez.

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