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Anna Caterina Antonacci e Tatjana Vassiljeva: musas do canto e do arco, na mesma noite em São Paulo |
E não me refiro apenas a
pizza, a gastronomia, o pão ou as feiras livres. Noite de terça-feira, 5 de
agosto. Na sala São Paulo, a grande cantora Anna Caterina Antonacci, oferece o
segundo recital patrocinado pelo Mozarteum. No Theatro Municipal, a nossa
orquestra dirigida por Christian Arming, flamante regente austríaco, acompanha a
violoncelista Tatjana Vassiljeva, no Concerto para violoncelo de Edward Elgar.
Coração dividido. Falou mais
alto a minha paixão pela OSM. E pela
música sinfônica.
Edward Elgar (1857-1934) é
um dos compositores mais instigantes da passagem do século XIX para o século
XX. Britânico compôs uma série de marchas para comemorar a ascensão do rei
Edward Sétimo ao trono.
Em 1899, Elgar criou as
Enigma Variations, o bom e velho temas e variações, mas com uma ponta de
mistério, rara mesmo naquele momento. Ficava clara a sua condição de solidão,
afinal ele dialogava com os compositores continentais e não com seus compatriotas
insulares.
Em 1907, Elgar compôs uma
sinfonia e um concerto para violino. Com o advento da Primeira Guerra e a morte
de sua esposa, Alice, o compositor deixou de compor. Se sentia superado pela
carnificina no continente. Justamente esta perplexidade é facilmente
compreendida na sua segunda sinfonia. E de maneira genial em seu concerto para
violoncelo.
Nenhuma das duas obras foi muito bem aceito pelo público britânico. Na verdade, o concerto foi praticamente recomposto por
Jacqueline Du Pre e sir John Barbirolli, que captaram perfeitamente este
sentimento de vazio existencial e de perplexidade diante dos fatos.
Foi exatamente isso que
Tatjana Vassiljeva capturou em sua interpretação. Da nova geração de musicistas
que impõe ardor e vigor a sua interpretação, sem esquecer de fazer
ressaltar o fraseado e as nuances da fraseologia,
a violoncelista russa impressionou. E muito.
Christian Arming fez
ressaltar a delicadeza de nossa Sinfônica Municipal. Zelou pelos solos e
mostrou que lidava com um conjunto preparado para o desafio de tocar uma das
obras mais enigmáticas do século XX.
Mas, foi na segunda parte,
na Sinfonia em Ré Menor de César Franck, que Arming testou mesmo a Sinfônica
Municipal. Sua visão da obra de Franck não é de uma sinfonia. Arming não se
limitou aos andamentos duros. Encarou a obra como se fosse um poema sinfônico
de Franz Liszt, a quem Franck adorava. O
resultado foi espetacular.
Grande noite! Soube que La
Antonacci também foi brilhante. Principalmente a sua Chanson Boheme, da Carmem
de Bizet e as canções de Ravel e Berlioz.
Pena! Fica para uma outra vez.
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