quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Puxa! Bem que o final podia ser outro



Colin Firth e Emily Blunt: brilhantes como rea a tradição britânica de atores




As vezes a surpresa vem por acaso. Numa noite tensa a gente descobre um filme de título não inspirador “Meus Anos Incríveis”. Na verdade o filme se chama “Arthur Newman”. Com um par de atores britânicos que para dizer o mínimo estão arrebentando a boca do balão: Emily Blunt e Colin Firth. A tv a cabo, principalmente estes pacotes gratuitos tipo Telecine Play, tem a vantagem de permitir arrependimentos e até adiamentos.
O roteiro de Beck Johnston é bastante animador: um cara que pretende largar a vida anônima de alto executivo do Federal Express em Orlando-Flórida, onde segundo ele mesmo dirigia um andar, as lembranças ou lambanças de um casamento que se desfez; um filho que o considerava um chato renomado; a namorada bancária cuja maior tarefa na vida era conferir os extratos dos depositantes. Para tanto, ele engedra o sonho recorrente de qualquer mortal, ganhar uma segunda chance. Matar, literalmente, a existência atual e abraçar outra, novinha em folha, ou no mínimo com pouco uso.
Não se trata digamos de uma sacada nova. Antonioni fez isso em Profissão Repórter, com Jack Nicholson e Maria Schneider; Pirandello escreveu o maravilhoso As Duas Vidas de Matias Pascal, que Mastroianni e Monicelli fizeram para a TV italiana.
Firth tem se revelado um ator brilhante. É bem verdade que tem filmado demais. Blunt é simplesmente divina. Honra a tradição britânica de atrizes competentes e desgraçadamente belas e sensuais.
As primeiras linhas de sua personalidade são interessantíssimas. Ela vai presa por roubar um carro de um caso eventual e se livra porque ameaça contar a esposa dele o que havia ocorrido. Como se não bastasse toma uma overdose de um xarope a base de morfina e vai parar em um hospital. Nosso herói, por sua vez, havia acabado de encenar a própria morte numa praia, havia arrumado documentos falsos com o nome de Arthur J. Newman e flanava livre, leve e solto, a bordo de um SL 280 conversível.
O roteiro neste momento transforma o filme num road-movie clássico. Ele busca o sonho de ser professor de golfe em uma academia na Carolina do Norte, acho, e ela o acompanha, até porque não tem coisa melhor a fazer. O embate do caretão chato e da descolada mundana é pincelado ainda com a transgressão conjunta de viverem personagens reais que encontram pelo caminho. Encenam a lua de mel de um casal de idosos que havia acabado de se casar e saído de férias, invadindo a casa vazia dos dois. Depois a relação de um fotógrafo e de uma modelo e assim por diante.
Neste momento, a capacidade interpretativa dos dois atores chega a ser impressionante. Mas, a medida que a história se desenvolve Johnston se vê numa encalacrada. Como chegar ao final. A narrativa é tão boa que eu confesso passei a temer pela conclusão.

Antonioni matou o jornalista que havia assumido a personalidade do traficante, apenas porque o novo personagem era jurado de morte. Pirandello condena Pascal a viver no anonimato em uma biblioteca provinciana do Veneto. A solução de Johnston é um desastre. Moralista e absurda. Não vou contar. Mas, pensem... Não pensem nada. Vejam o filme e me contem depois.  

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