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Colin Firth e Emily Blunt: brilhantes como rea a tradição britânica de atores |
As vezes a surpresa vem por
acaso. Numa noite tensa a gente descobre um filme de título não inspirador “Meus
Anos Incríveis”. Na verdade o filme se chama “Arthur Newman”. Com um par de
atores britânicos que para dizer o mínimo estão arrebentando a boca do balão:
Emily Blunt e Colin Firth. A tv a cabo, principalmente estes pacotes gratuitos
tipo Telecine Play, tem a vantagem de permitir arrependimentos e até
adiamentos.
O roteiro de Beck Johnston é
bastante animador: um cara que pretende largar a vida anônima de alto executivo
do Federal Express em Orlando-Flórida, onde segundo ele mesmo dirigia um andar,
as lembranças ou lambanças de um casamento que se desfez; um filho que o
considerava um chato renomado; a namorada bancária cuja maior tarefa na vida
era conferir os extratos dos depositantes. Para tanto, ele engedra o sonho
recorrente de qualquer mortal, ganhar uma segunda chance. Matar, literalmente,
a existência atual e abraçar outra, novinha em folha, ou no mínimo com pouco
uso.
Não se trata digamos de uma
sacada nova. Antonioni fez isso em Profissão Repórter, com Jack Nicholson e Maria
Schneider; Pirandello escreveu o maravilhoso As Duas Vidas de Matias Pascal,
que Mastroianni e Monicelli fizeram para a TV italiana.
Firth tem se revelado um
ator brilhante. É bem verdade que tem filmado demais. Blunt é simplesmente
divina. Honra a tradição britânica de atrizes competentes e desgraçadamente
belas e sensuais.
As primeiras linhas de sua
personalidade são interessantíssimas. Ela vai presa por roubar um carro de um
caso eventual e se livra porque ameaça contar a esposa dele o que havia ocorrido.
Como se não bastasse toma uma overdose de um xarope a base de morfina e vai
parar em um hospital. Nosso herói, por sua vez, havia acabado de encenar a
própria morte numa praia, havia arrumado documentos falsos com o nome de Arthur
J. Newman e flanava livre, leve e solto, a bordo de um SL 280 conversível.
O roteiro neste momento
transforma o filme num road-movie clássico. Ele busca o sonho de ser professor
de golfe em uma academia na Carolina do Norte, acho, e ela o acompanha, até
porque não tem coisa melhor a fazer. O embate do caretão chato e da descolada
mundana é pincelado ainda com a transgressão conjunta de viverem personagens
reais que encontram pelo caminho. Encenam a lua de mel de um casal de idosos
que havia acabado de se casar e saído de férias, invadindo a casa vazia dos
dois. Depois a relação de um fotógrafo e de uma modelo e assim por diante.
Neste momento, a capacidade
interpretativa dos dois atores chega a ser impressionante. Mas, a medida que a
história se desenvolve Johnston se vê numa encalacrada. Como chegar ao final. A
narrativa é tão boa que eu confesso passei a temer pela conclusão.
Antonioni matou o jornalista
que havia assumido a personalidade do traficante, apenas porque o novo
personagem era jurado de morte. Pirandello condena Pascal a viver no anonimato
em uma biblioteca provinciana do Veneto. A solução de Johnston é um desastre.
Moralista e absurda. Não vou contar. Mas, pensem... Não pensem nada. Vejam o
filme e me contem depois.
Bravo! SL
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