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Luís de Camões: escrivão de Vasco da Gama |
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Tomas A.Gonzaga: ouvidor em Vila Rica |
Cumpriu-se ontem a efeméride da Inconfidência Mineira, na
data em que Joaquim José da Silva Xavier subiu ao patíbulo, 225 anos certo¿, e
cumpre-se hoje a do achamento do Brasil, por Pedro Álvares Cabral, 517 anos,
com certeza.
O Joaquim José, chamado Tiradentes, virou figura mitológica
apenas no primeiro período getulista. O culto patriótico do movimento, aliás,
ganhou mesmo popularidade graças ao Estado Novo.
De fato, trata-se, os gaúchos que me perdoem, do mais
importante movimento político em terras brasileiras. É bem verdade que o cabeça
do movimento, Cláudio Manuel da Costa, era pupilo de Sebastião Carvalho, o
Marques de Pombal, que naquele momento histórico experimentava grande
ostracismo na corte de D.Maria I.
Thomas Antônio Gonzaga também. Aliás, os dois principais
trabalhos literários do movimento são de autoria dele: as Cartas Chilenas e o
monumental poema Marília de Dirceu.
Aliás, o romance dele com Maria Doroteia Joaquina de Seixas
Brandão, representado no poema, é nas palavras de Manoel Bandeira, basilar no
arcadismo lusitano.
O livro foi publicado em Lisboa no mesmo ano em que Thomas
partiu para o exílio em Moçambique.
Há relatos confiáveis de que, anos mais tarde, Maria
Doroteia, já casada com um oficial do exército colonial português, encontrou-se
com Thomas em Angola. O poeta, sonhador, terminou seus dias casado com a filha
de um escravocrata, de quem cuidava dos negócios, em Maputo. Triste fim. Seria
melhor o patíbulo.
Bem. Engana-se quem acha que a população no Rio de Janeiro
consternou-se com a execução do Tiradentes. Na verdade, os portugueses que
habitavam e comandavam a colônia, preferiam mesmo viver sob jugo de Portugal. E
mais. Em pagar um quinto de tudo que fosse produzido na colônia para a
metrópole.
Quanto a Cabral. Trata-se de um fracassado assumido. Saiu
de Lisboa no dia 9 de março, sem nunca antes ter navegado, com uma frota enorme
de navios de guerra, com destino às Índias.
Não era uma expedição de descobrimento, muito menos de
relações comerciais. Cabral assumiu a posição de Vasco da Gama, considerado
naquele momento, tíbio pelo rei D.Sebastião, o mesmo que negou recursos para
Colombo descobrir a América.
Cabral perdeu-se nas calmarias africanas e não fosse o
continente americano estaria navegando até hoje em busca de um porto seguro.
Achou o Brasil, mandou seu escrivão Pero Vaz de Caminha
escrever uma carta ao rei, comunicando o ocorrido, mandou Gaspar de Lemos de
volta a Lisboa com a correspondência. E sem maiores consequências, seguiu
viagem.
Sabe-se que na passagem do Cabo da Boa Esperança, metade de
sua frota soçobrou e que seu escrivão pereceu. A carta desapareceu. Cabral voltou
a Portugal com apenas três das treze caravelas com que partira, sem grandes
resultados comerciais. O achamento do Brasil rendeu apenas duas expedições
subsequentes, estas sim de descobrimento, comandadas por Americo Vespúccio,
financiada por banqueiros florentinos, quase com certeza judeus, que não
queriam saber de um português no comando de qualquer expedição.
Cabral nunca mais voltou ao mar. Vasco da Gama, este sim o
grande herói português do período das navegações, foi resgatado.
Sem saber que um dia seria nome de um clube de futebol no
Rio, o almirante Vasco da Gama tinha como escrivão e amigo, ninguém menos que
Luís de Camões, o autor da epopeia que serviria de base para a língua
portuguesa, Os Lusíadas.
Em meio aos tempos conturbados em que vive a nação
luso-brasileira. Mais a brasileira do que a lusa. É bom lembrar que mesmo
diante de fracassos, como a Inconfidência Mineira e a busca de uma rota
alternativa para as Índias, sobraram obras de peso, relatos impressionantes,
como os de Camões e Thomas Antônio Gonzaga.