domingo, 16 de abril de 2017

Por falar em História


Vladimir Putin: nova versão de Guilherme II 






Mais do que os bilhões da propina das empreiteiras. Mais do que a constatação de que o tecido político brasileiro esgarçou, para dizer o mínimo, ou simplesmente desapareceu. O que me preocupa sobremaneira é como a história vai registrar estes dias doidos que este planeta vive. Sim, porque esta tragédia não é brasileira. É global.
O filósofo francês Alana Baidou na Ilustríssima de hoje compara o momento atual com o primeiro semestre de 1914, pouco antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial. Vladimir Putin desempenharia o papel que coube ao Kaiser Wilhelm II. Pode ser. Até porque um dos motivos daquele conflito – apenas um deles – era o fato de que os alemães e austríacos não se conformavam com a proeminência de Paris sobre Berlim e Viena.
Claro, o mundo é e foi mais sofisticado que isso. Não se pode esquecer as razões econômicas. Principalmente a eterna tentativa teutônica de dominar a Europa; o projeto de construção da ferrovia Berlim-Bagdá; o desejo de expansão colonial de alemães e austríacos e uma centena de outras razões.
Me chamou a atenção também uma nota, na verdade três, na coluna de Sônia Racy no Estadão: pais de alunos do colégio Santa Cruz, uma escola de elite ( e põe elite nisso) redigiram documento, que vazou em grupos de WhatsApp, com críticas a versão ideológica pró-esquerda de muitas aulas, em especial de História Geral e do Brasil. Teve resposta da escola e depois na tréplica até um recuo.
Em seu absurdamente competente livro, Sem Novidade no Front, Erich Maria Remarque revela que a doutrinação belicista alemã era fervorosa dentro das salas de aula. Defendia-se abertamente que os ingleses se constituíam em um povo bárbaro, por muitos anos dominado por uma mulher (a rainha Victoria) e que comiam carne crua. Os franceses, decadentes, incapazes de se defender militarmente, permitiam que o debate de idéias novas corrompesse a sociedade ocidental. E os russos e os sérvios, vistos como povos primitivos.
Milhares de jovens entre 16 e 20 anos abandonaram a banca escolar e se engajaram na propaganda oficial de que a guerra seria rápida, em nome da modernidade e da defesa dos valores civilizatórios. Foram mais de 10 milhões de mortos, quase cinco anos de batalhas, e o mundo nunca mais seria o mesmo.
No meu tempo de escola, aprendi que os Bandeirantes eram heróis que interiorizaram o desenvolvimento do Brasil. Que a Inconfidência Mineira foi um movimento de amplo apoio popular, desgraçadamente dominado por um tirano, o Visconde de Barbacena. Que a Independência do Brasil, longe de ser um acerto entre as elites comerciais portuguesas, foi um brado da nacionalidade brasileira. Que o imperador Pedro II era um bom velhinho. Que a abolição da escravatura permitiu a vinda dos imigrantes. E, por ai vai....
Fiz o ensino médio bem no meio do Ame-o ou Deixe-o. Do AI-5 e da 477. Mas, aí a coisa virou.
Felizmente.
Mesmo na banca de uma escola pública, tive o apoio de professores extraordinários que passaram a me orientar na busca de outra versão da história. A maturidade fez o resto.
O que querem estes pais preocupados com a doutrinação nas escolas¿ Que seus filhos sejam uns autômatos, alienados, robóticos¿

Aí estaremos mesmo encrencados.

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