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Yuri Gagarin no Túmulo de Lênin: ele ainda repousa na Praça Vermelha em Moscou |
Minha filha Bianca é quem faz
o diagnóstico mais fulminante: “Pai, diz ela, você é um romântico incorrigível”.
Acho que ela tem razão,
sobretudo porque sou daqueles patetas que se emocionam com os feitos da
humanidade, com a importância de eventos históricos e detesto aquela expressão “é,
mas...”
Esta semana fiquei
impressionado com um docudrama russo que capturei na Netflix: “Gagarin First in
Space”. Produção de 2013, conta de forma muito criativa a espetacular corrida
espacial soviética nos anos 50 e faz um perfil básico de três heróis: Yuri
Alekseivitch Gagarin, Gherman Titov e Sergei Pavlovich Korolev.
O episódio mais marcante do
filme é a reconstrução do pouso de Gagarin, no dia 12 de abril de 1961, em uma
fazenda no Cazaquistão. Os engenheiros soviéticos erraram duas vezes a
trajetória final e o primeiro cosmonauta da história, que se ejetou sete mil
metros acima do solo, pousou de paraquedas em meio a uma plantação de girassóis,
para terror dos camponeses.
“Não fujam” – dizia ele. “Sou
soviético como vocês”.
Eu era um moleque metido uma
barbaridade, mas me lembro até hoje do impacto de nomes como Vostok, Sputinik e
os feitos impressionantes de Gagarin e de Gherman Titov, o segundo no espaço.
E, se há uma razão para
explicar porque os soviéticos perderam a corrida para a Lua para os americanos,
além da impressionante capacidade de investimento de Tio Sam, a morte prematura
do engenheiro Sergei Pavlovich Korolev, em 14 de janeiro de 1966, aos 59 anos,
pode explicar.
Korolev era o corpo e a alma
do programa espacial soviético. No filme ele trava uma discussão com um
marechal do exército vermelho, que se mostrava incomodado com o fato de Gagarin
ser um filho de um marceneiro, ou carpinteiro, e de uma camponesa. De ter passado
boa parte de sua infância em uma área ocupada pelos alemães na Segunda Guerra e
de ter uma personalidade refratária a decisões imperativas.
É impressionante a resposta
que ele dá: “Camarada, você não acha que já passou da hora de acabarmos com
estas bobagens stalinistas¿”
Ucraniano como Sergei Nikita
Kruschev, ele experimentou o cárcere nos anos 30, por seis anos, por razões
inexplicáveis, como todas, de Stalin. Foi resgatado depois da morte do “Tovarich”
e lhe foi confiada a missão quase impossível de colocar um satélite, um cão e
um homem no espaço. Ele fez isso.
Confesso que fiquei emocionado
com o relato do filme. Sobretudo a reação popular, o regime só divulgou a
informação quando Gagarin já orbitava a terra. Melhor foi o diálogo entre dois
manifestantes que caminhavam sem destino pelas ruas de Moscou:
“Para onde vamos¿” – perguntou
a menina.
“Acompanhar o pouso do nosso
cosmonauta” – respondeu o menino.
“Onde será¿”
“Na praça Vermelha, onde mais¿”
Com efeito, Yuri Alekseivitch
Gagarin está mesmo repousando na praça Vermelha, no célebre túmulo de Lenin e
dos grandes heróis soviéticos. Estranhamente ele foi vítima de um desastre de
um MIG-15, no dia 27 de março de 1968. Até hoje as investigações sobre o
acidente suscitam dúvidas. O que se diz é que o cosmonauta da paz ficou muito
deprimido anos depois do vôo histórico e se tornou um problema para o regime.
Mas, aí é o que eu chamo de “É.Mas...” Prefiro lembrar dele como o herói da
humanidade, o destemido aviador, humilde e competente.
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