quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A maior aventura humana









Yuri Gagarin no Túmulo de Lênin: ele ainda repousa na Praça Vermelha em Moscou
Minha filha Bianca é quem faz o diagnóstico mais fulminante: “Pai, diz ela, você é um romântico incorrigível”.

Acho que ela tem razão, sobretudo porque sou daqueles patetas que se emocionam com os feitos da humanidade, com a importância de eventos históricos e detesto aquela expressão “é, mas...”

Esta semana fiquei impressionado com um docudrama russo que capturei na Netflix: “Gagarin First in Space”. Produção de 2013, conta de forma muito criativa a espetacular corrida espacial soviética nos anos 50 e faz um perfil básico de três heróis: Yuri Alekseivitch Gagarin, Gherman Titov e Sergei Pavlovich Korolev.

O episódio mais marcante do filme é a reconstrução do pouso de Gagarin, no dia 12 de abril de 1961, em uma fazenda no Cazaquistão. Os engenheiros soviéticos erraram duas vezes a trajetória final e o primeiro cosmonauta da história, que se ejetou sete mil metros acima do solo, pousou de paraquedas em meio a uma plantação de girassóis, para terror dos camponeses.

“Não fujam” – dizia ele. “Sou soviético como vocês”.

Eu era um moleque metido uma barbaridade, mas me lembro até hoje do impacto de nomes como Vostok, Sputinik e os feitos impressionantes de Gagarin e de Gherman Titov, o segundo no espaço.

E, se há uma razão para explicar porque os soviéticos perderam a corrida para a Lua para os americanos, além da impressionante capacidade de investimento de Tio Sam, a morte prematura do engenheiro Sergei Pavlovich Korolev, em 14 de janeiro de 1966, aos 59 anos, pode explicar.

Korolev era o corpo e a alma do programa espacial soviético. No filme ele trava uma discussão com um marechal do exército vermelho, que se mostrava incomodado com o fato de Gagarin ser um filho de um marceneiro, ou carpinteiro, e de uma camponesa. De ter passado boa parte de sua infância em uma área ocupada pelos alemães na Segunda Guerra e de ter uma personalidade refratária a decisões imperativas.

É impressionante a resposta que ele dá: “Camarada, você não acha que já passou da hora de acabarmos com estas bobagens stalinistas¿”

Ucraniano como Sergei Nikita Kruschev, ele experimentou o cárcere nos anos 30, por seis anos, por razões inexplicáveis, como todas, de Stalin. Foi resgatado depois da morte do “Tovarich” e lhe foi confiada a missão quase impossível de colocar um satélite, um cão e um homem no espaço. Ele fez isso.

Confesso que fiquei emocionado com o relato do filme. Sobretudo a reação popular, o regime só divulgou a informação quando Gagarin já orbitava a terra. Melhor foi o diálogo entre dois manifestantes que caminhavam sem destino pelas ruas de Moscou:

“Para onde vamos¿” – perguntou a menina.

“Acompanhar o pouso do nosso cosmonauta” – respondeu o menino.

“Onde será¿”

“Na praça Vermelha, onde mais¿”


Com efeito, Yuri Alekseivitch Gagarin está mesmo repousando na praça Vermelha, no célebre túmulo de Lenin e dos grandes heróis soviéticos. Estranhamente ele foi vítima de um desastre de um MIG-15, no dia 27 de março de 1968. Até hoje as investigações sobre o acidente suscitam dúvidas. O que se diz é que o cosmonauta da paz ficou muito deprimido anos depois do vôo histórico e se tornou um problema para o regime. Mas, aí é o que eu chamo de “É.Mas...” Prefiro lembrar dele como o herói da humanidade, o destemido aviador, humilde e competente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário