Tenho a satisfação de apresentar para vocês uma crônica maravilhosamente escrita por meu amigo e irmão, Eduardo Carvalho, meu causídico para causas pernambucanas. Sport de coração, apaixonado pelas letras. Divirtam-se.
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Stalingrado inverno de 42: a guerra perdida retomada pelo Exército Vermelho |
Eduardo Romero Marques de Carvalho
Rubem Braga coordenou a composição de um belo livro de contos
russos traduzidos para o português. Vivia-se a 2ª Grande Guerra, e ele foi ao
front. Foi ser correspondente.
A edição “de Ouro” é simples. Uma brochura simpática,
baixinha e gordinha, com grandes almas e corações agasalhados em papel jornal.
Dentre os tradutores: Machado de Assis, o próprio Braga, José Lins do Rego,
Joel Silveira, Aníbal Machado, João Cabral, Vinicius.
Cada qual com a sua Lisavéta, de longos cabelos negros, e
diadema, olhar de esperanças, e colo generoso, dançando folk em roda cigana,
próximos à fogueira, no frio crepúsculo soviético. Amor, traição, sofrimento.
Angústia, vilania, decepção. O devir apontando ao nada.
Passeia-se naquelas folhas, por sentimentos universais,
jomardianamente (Ah!- tem-po- ra-is).
Quê tanto fizeram os russos? De onde vêm os seus pecados,
em purgatórios sem fim? Lembrei-me do livrinho enquanto descia a Ladeira da Sé,
acumulando saudades do Omalá, do Beco da Fome, Picanha do Rato... Tudo, muito calmo.
Tudo, muito rápido. Tudo estranhamente calmo e rápido.
“TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO”.
E, lá está a Rússia. Agora, submetida a Putin, à sua democracia-czarista,
seu parlamento comportado, a grande imprensa comprometida. “Tal e qual...” Etc.
Tudo Isso me trouxe aos ouvidos o canto do assum preto, em sua cega viagem da
agonia. O viver de lembranças embaçadas pelo crepúsculo que se adensa. Mais e
mais fracionadas, dia a dia, no cansaço de resgatá-las do passado, fazê-las
eterno. Presente, ante a absoluta escuridão do futuro. Até que o tudo venha revelar
a Verdade do Oco de uma passagem sem valia, mesquinha e cretina. Tudo Isso vai
selando a maçaranduba, e se esvaindo, enfim.
Já pelas bandas de cá, experimentamos inaudita sequência
das Noites das Panelas Silenciosas, de teflon. Outrora, patrioticamente
exasperadas, histriônicas. É, mais uma vez, o tal do Mi-a- mi, OH!!, not mi-a-
mi?. Eis a questão!
De longe, ouço “Bope-bepob- bebop. Eu quero ver a
confusão”. E recordo de um Ariano Suassuna, mudo e perplexo, porque “...não foi
à Disney, não!”. Então...me volta a Razão, trazendo a razão dessas tão enviesadas
linhas. No prefácio daquela coletânea, sabendo da Stalingrado destruída, certo
de que invasão de Moscou se faria em questão de tempo,
Rubem Braga encerra o seu texto assim: “Quê salva a
Rússia?”.
...que delícia de escrita!
ResponderExcluirBravo, Nunzio!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir...um portento você diria e eu o digo, imitando o mestre!!!
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