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Os Medici: o poder da "gente nuova" e a oposição da aristocracia fiorentina |
Depois de ver os oito
capítulos da primeira temporada da série Medici-Masters of Florence, escrita
por Franz Spotnitz e Nicholas Mayer, sai com a absoluta convicção que os
autores beberam e beberam muito no clássico de Mário Puzo, O Poderoso Chefão.
Alguém dirá que é isso mesmo. Que as diferenças entre Giovanni de Medici
(interpretado por Dustin Hoffmann) e Vito Corleone estão relacionadas apenas ao
tempo histórico e a forma. Mas, na essência são mesmo idênticas.
Aos fatos. Ao contrário de
Veneza, Gênova e Milão onde a aristocracia jamais concedeu qualquer migalha de
poder, em Florença, no início do século XIV, abriu-se às margens do Arno uma
avenida de oportunidades para a chamada “gente nuova”.
Do que se trata¿ Gente que
veio do Interior da Toscana e da Itália, de outros países da Europa, com algum
capital e que foram atraídos pela possibilidade inimaginável de produzir e
comercializar produtos agrícolas, vinho e azeite principalmente, e tecido.
Foi com uma tecelagem de
algodão (italiano) e lã importada da Inglaterra, que Giovanni de Medici iniciou
o seu império econômico. Ganhou tanto dinheiro que abriu um banco e aumentou seu
poder quando conquistou a conta bancária da Igreja Católica, e passou a
suportar todos os depósitos de dízimos e impostos amealhados dos estados papais
de toda a Europa.
A série começa com o
envenenamento de Giovanni (cicuta líquida aspergida em suas parreiras) e a
assunção de Cosimo de Medici, seu primogênito. Um rapaz sonhador, que imaginava
ser artista e que queria distância dos negócios do pai, mas se tornou seu
sucessor e aprimorou os métodos, digamos políticos, da condução do poder da família.
Uma espécie de Michael Corleone.
O final da série, pelo ritmo
da narrativa, deixa claro que a segunda temporada vai tratar daquele que
elevará Florença a condição de capital do Renascimento, Lorenzo “O Magnifico”,
bisneto de Giovanni, filho de Piero, o primogênito de Cosimo. E aí é de se
supor que as semelhanças com a família Corleone vão desaparecer.
É curioso constatar que a
reação da aristocracia florentina aos Medici, evidentemente graças ao poder
político e econômico amealhado, se dissimula por uma oposição ao apoio da
família a novas formas de arte. Mais precisamente a escultura do jovem Davi,
feita por Donatello, que se pretendia símbolo da nova Florença. Outro ponto de
reação é sobre a visão arquitetônica da perspectiva, usada nos desenhos de
Bruneleschi, a soldo dos Medici, para construir a cúpula da Basílica de Santa
Maria de Fiore.
Qualquer semelhança
com os tempos atuais, seguramente não é mera coincidência. A série vale a pena,
por seus aspectos históricos, pela curiosa comparação entre os Medici e os
Corleone e pela extraordinária interpretação de Richard Madden (Cosimo) e Anabel
Sholey (Contessina). Também me chamou a atenção um personagem que claramente
não existiu, Marco Bello, uma espécie de Titus Pullus do Renascimento.
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