quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Cosanostra a Fiorentina



Os Medici: o poder da "gente nuova" e a oposição da aristocracia fiorentina


Depois de ver os oito capítulos da primeira temporada da série Medici-Masters of Florence, escrita por Franz Spotnitz e Nicholas Mayer, sai com a absoluta convicção que os autores beberam e beberam muito no clássico de Mário Puzo, O Poderoso Chefão. Alguém dirá que é isso mesmo. Que as diferenças entre Giovanni de Medici (interpretado por Dustin Hoffmann) e Vito Corleone estão relacionadas apenas ao tempo histórico e a forma. Mas, na essência são mesmo idênticas.

Aos fatos. Ao contrário de Veneza, Gênova e Milão onde a aristocracia jamais concedeu qualquer migalha de poder, em Florença, no início do século XIV, abriu-se às margens do Arno uma avenida de oportunidades para a chamada “gente nuova”.

Do que se trata¿ Gente que veio do Interior da Toscana e da Itália, de outros países da Europa, com algum capital e que foram atraídos pela possibilidade inimaginável de produzir e comercializar produtos agrícolas, vinho e azeite principalmente, e tecido.

Foi com uma tecelagem de algodão (italiano) e lã importada da Inglaterra, que Giovanni de Medici iniciou o seu império econômico. Ganhou tanto dinheiro que abriu um banco e aumentou seu poder quando conquistou a conta bancária da Igreja Católica, e passou a suportar todos os depósitos de dízimos e impostos amealhados dos estados papais de toda a Europa.

A série começa com o envenenamento de Giovanni (cicuta líquida aspergida em suas parreiras) e a assunção de Cosimo de Medici, seu primogênito. Um rapaz sonhador, que imaginava ser artista e que queria distância dos negócios do pai, mas se tornou seu sucessor e aprimorou os métodos, digamos políticos, da condução do poder da família. Uma espécie de Michael Corleone.

O final da série, pelo ritmo da narrativa, deixa claro que a segunda temporada vai tratar daquele que elevará Florença a condição de capital do Renascimento, Lorenzo “O Magnifico”, bisneto de Giovanni, filho de Piero, o primogênito de Cosimo. E aí é de se supor que as semelhanças com a família Corleone vão desaparecer.

É curioso constatar que a reação da aristocracia florentina aos Medici, evidentemente graças ao poder político e econômico amealhado, se dissimula por uma oposição ao apoio da família a novas formas de arte. Mais precisamente a escultura do jovem Davi, feita por Donatello, que se pretendia símbolo da nova Florença. Outro ponto de reação é sobre a visão arquitetônica da perspectiva, usada nos desenhos de Bruneleschi, a soldo dos Medici, para construir a cúpula da Basílica de Santa Maria de Fiore.

Qualquer semelhança com os tempos atuais, seguramente não é mera coincidência. A série vale a pena, por seus aspectos históricos, pela curiosa comparação entre os Medici e os Corleone e pela extraordinária interpretação de Richard Madden (Cosimo) e Anabel Sholey (Contessina). Também me chamou a atenção um personagem que claramente não existiu, Marco Bello, uma espécie de Titus Pullus do Renascimento.       

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