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A retirada de Dunquerque: a verdadeira, não a cinematográfica |
O general prussiano Carl von Clausewitz, morto
em Breslávia, na Polônia, em 1831, é um personagem obrigatório para quem quer
entender a guerra franco-prussiana de 1870 e os dois conflitos mundiais do
século XX.
Clausewitz escreveu um livro
chamado “Da Guerra” e nele definiu a doutrina da guerra relâmpago, empreendida
de forma tão rápida que os inimigos não teriam tempo nem de trocar os pijamas,
ou as camisolas.
Foi baseado na doutrina
Clausewitz que o general Helmuth von Moltke, o jovem Moltke, convenceu o Kaiser
Guilherme II que a Primeira Guerra Mundial estaria resolvida antes do final da
primavera de 1914. Não contavam com a resistência do rei Alberto da Bélgica, o
que atrasou a invasão da França e quase permitiu que os russos chegassem a
Berlim.
Também se esqueceram que a
Bélgica era um protetorado inglês e a não concordância dos belgas em permitir
que os alemães passassem por seu território para chegar a França era um ato de
guerra, o que trouxe a Força Expedicionária Britânica para o conflito.
Resultado: a tortura das trincheiras e um embate militar travado que durou
quase cinco anos.
Quando Winston Churchill se
apresentou para o rei George VI, em maio de 1940, no Palácio de Buckinghan, ele
não era nem de longe o tipo de político que a casa real gostaria de lidar.
Estava acostumada com a pasmaceira de Neville Chamberlain e os conservadores
ainda achavam que havia um certo exagero na análise do belicismo alemão.
Churchill foi cirúrgico. Abriu
um mapa e mostrou ao rei que os alemães isolariam cerca de 340 mil soldados
britânicos, franceses e belgas numa praia chamada Dunquerque e que depois
disso, o arquipélago estaria completamente desprotegido. Até a gagueira do rei
parou.
A operação de retirada foi uma
das páginas mais dramáticas da segunda guerra. Cálculos otimistas davam conta
de tirar 30 ou na melhor das hipóteses 40 mil soldados. Churchill montou um
gabinete de coalisão com os trabalhistas, seu vice foi Clement Attlee. Fez um
apelo a Nação. Toda e qualquer embarcação, cargueira ou de lazer, deveria se
apresentar em Dunquerque.
As condições eram totalmente
adversas. O calado da praia era muito pequeno. Destroiers e navios cargueiros
não conseguiam se aproximar. Para piorar cerca de 50 mil soldados estavam
feridos e tinham dificuldade de locomoção.
No memorável discurso de posse
no parlamento inglês, Churchill faz uma forte referência a operação. Lembrou
que não se ganham guerras com evacuações. Mas, celebrou o seu sucesso.
Dunquerque, obviamente é uma
referência na Segunda Guerra, mas o cinema nunca retratou o episódio. A única
vez que vi alguma coisa a respeito, foi numa série documental da BBC.
Christopher Nolan está perfeitamente equipado para contar esta história. Mais
ainda se mostrar que existe uma praia destas no interior de cada um de nós.
Alguns tem o privilégio de ter um comandante como Winston Spencer Churchill,
outros não. Esta é a diferença.
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