quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

De joelhos, na Sé Lusitana


A Catedral da Sé na Alfama, em Lisboa: aqui começou a tragédia de 1755





Me correu mesmo um frio na espinha. Pois estava eu a conversar com o Todo Poderoso, de joelhos na Igreja da Sé, em Lisboa, quando me dei conta das sombras daquele templo do século XII. Foi ali que meia Lisboa estava reunida para celebrar a grande missa do Dia de Todos os Santos, as nove horas de 1º de novembro de 1755, na colina da Alfama, quando a natureza decidiu cobrar aos portugueses, sei lá, talvez a malvadeza da indústria da escravidão, que, apesar da tragédia, não cessou.

Há quem diga que o conde de Oeiras, promovido a marques de Pombal; Sebastião José de Carvalho e Melo, um burocrata medíocre que se transformou em genial, imaginava coroar sua epopeia de recuperação da então capital do império, com um golpe mortal nessa indústria tenebrosa. Mas, não há em toda obra pombalina qualquer gesto nesta direção. Ainda que dele tenha nascido o espírito libertário que animou os espíritos de Cláudio e Thomas, eles também omissos em relação a esta questão.

Ontem, passei pela Igreja da Estrela, onde está enterrada D.Maria I, rainha insana, que destruiu o pombalismo e foi mais do que cruel com os libertários das Gerais.

Portugal, este jardim plantado à beira do Atlântico, de onde as armas e os barões assinalados, vocês sabem, tem uma história de vilão a resgatar. Colonizador implacável, sugou enquanto pode as riquezas de suas colônias e não deixou nenhuma melhoria, que justificasse qualquer saudade. Premiou-nos com a mais dura Inquisição, com a escravidão de negros e índios, com a arrogância da fé cristã (como se fosse compatível).

Sebastião José de Carvalho e Melo talvez tenha sido o maior estadista português de todos os tempos. E ele viveu no século XVIII. É dele a brilhante resposta ao covarde D.José I, escondido em Belém embaixo da cama real, a tremer diante dos terremotos, dos incêndios e das inundações que se seguiram. O que fazer¿ Primeiro enterrar os mortos. Depois, alimentar os vivos.


Mas, estou aqui, de joelhos diante do Criador, na Sé Lusitana, ao lado do Tejo, o rio-mar, e pelo portal secular vejo o frisson turístico do que é hoje uma das mais atraentes cidades europeias. Sim, porque afinal, os portugueses aprenderam a receber. E estão se mostrando experts nisso. Que bom! Esta nova geração de patrícios talvez desconheça o que seus antepassados fizeram. 

2 comentários:

  1. Italiano,
    tenho um amigo cujo nome é: John Piter de... Melo. Nosso técnico, todas as vezes em que John isolava um bola lá pras bandas da arquibancada, dizia: " Meu filho! Esse seu 'melo' é que estraga tudo.

    Mais um texto que nem esse e, por certo, ganharás a Chave da Porta da Cidade.

    Bj

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  2. Italiano,
    tenho um amigo cujo nome é: John Piter de... Melo. Nosso técnico, todas as vezes em que John isolava um bola lá pras bandas da arquibancada, dizia: " Meu filho! Esse seu 'melo' é que estraga tudo.

    Mais um texto que nem esse e, por certo, ganharás a Chave da Porta da Cidade.

    Bj

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