domingo, 1 de julho de 2012

A avalanche dos evangélicos



O Paraíso de Moisés: a base da visão creacionista do mundo.



Os dados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE esta semana são estarrecedores. Nada menos do que 22% dos brasileiros se disseram adeptos de seitas evangélicas: 30% deste total na Assembléia de Deus; 5% na Congregação Cristã no Brasil e 4% na Igreja Universal do Reino de Deus. Em 1980, 7% dos brasileiros se diziam pertencer ao Povo do Evangelho. Do jeito que vão as coisas, em 30 anos, os evangélicos chegaram a 50% da população.

O que isso representa em termos de retrocesso comportamental é um absurdo de proporções inimagináveis. A começar pelo fato de que estas seitas levam a Bíblia ao pé da letra. Isso quer dizer, por exemplo, que o genial livro de Moisés, A Gênese, o primeiro do Pentateuco, deve se sobrepor a toda a ciência. Ou seja, o mundo nasceu de Adão e Eva e toda aquela história maravilhosa do Éden.

O creacionismo não prospera nem entre os judeus, para quem, aliás, o livro foi escrito. Tragicamente, na mente dos pregadores evangélicos Darwin, Charles Darwin, é a própria reencarnação do demônio. E a partir desta tese maluca de que o mundo se resolve no Velho e no Novo Testamento, toda a conquista científica e a evolução comportamental da humanidade vão para o ralo, direto para as profundezas do nada.

Se em termos científicos o retrocesso é patente, em termos comportamentais chega a ser insólito. Evangélicos, por exemplo, não aceitam a homossexualidade. Para eles trata-se de um desvio dos cânones divinos, uma doença. É bem verdade que mesmo a Igreja Católica Apostólica Romana ainda se enrola na questão do aborto e, sobretudo, na indissolubilidade do matrimônio. Mas, não se pode negar que Roma avançou e muito não só nas relações sociais como políticas depois do Vaticano II.

Não se trata aqui de discutir Lutero, Calvino ou outros pensadores que discordaram do pensamento romano. Ou ainda das religiões ancestrais como o judaísmo, o budismo, o islamismo ou o bramanismo. Estamos diante de uma onda de retrocesso, uma meia-sola da fé, que prega a teologia da prosperidade e a individualidade. Uma maneira cruel de abstrair os fiéis da modernidade. No Brasil, ainda há um tempero gravíssimo, uma dose tremenda de conformidade diante dos desígnios de Deus.

Uma coisa é certa, sem uma utopia para buscar, sem imaginar um paraíso coletivo, igualitário, onde a felicidade é uma conquista social, a juventude brasileira parece presa fácil do lero-lero ameaçador deste puritanismo de meia-tigela. Na dúvida, preferem inibir o senso crítico e sequer se dão conta que mergulham desde já na mais terrível de todas as formas de dominação: a culpa.



   

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