segunda-feira, 23 de julho de 2012

Onde estavas quando as luzes se apagaram?


Santiago do Chile: uma cidade moderna em uma moldura deslumbrante







Então. Nossos irmãos transandinos estão bem. Santiago, que no passado lembrava o cinza de Bruxelas, agora é uma cidade moderna, limpa e bem cuidada, limitada pela moldura mais bonita do mundo, a Cordilheira dos Andes. Comemoram os resultados do censo nacional: a redução da miséria, o pleno emprego, crescimento dos indicadores de IDH.

Enquanto isso, do outro lado da Cordilheira, os argentinos estão às voltas com circulação de dólares, dívidas públicas impagáveis e, inimaginável, problemas com violência urbana em Buenos Aires.

Encontrei um casal de amigos árabes em Santiago, a caminho da Polinésia Francesa, extremamente preocupado com os destinos da Síria. Na opinião deles, trata-se de uma conspiração que envolve os emires, o judaísmo internacional (é claro!) e, como não poderia deixar de ser, a CIA.

Enquanto tentam refrear o sentimento persecutório nas areias quentes de Bora-Bora, dei tratos aos meus botões, e entre um prato de almejas, locos e ostiones e um copo de um honestíssimo chardonnay bem gelado, passei a refletir sobre o estranho poder que estes emires desfilam pelo mundo. Ou são playboys assumidos ou são fundamentalistas radicais. Adoram investir em times de futebol, na fórmula um, iates, etc...

Crise? Passa ao largo dos petrodólares. Compromisso com um novo mundo? Estes senhores controlam a sua consciência com polpudas doações a Organizações Não Governamentais. São os financistas do chamado terceiro setor, sobretudo as ONGs ambientalistas, até porque, vamos combinar, o petróleo é a principal causa da decadência do planeta. O resto é lixo reciclável.

Certa vez recebi o encargo de entrevistar o então ministro Delfim Neto para repercutir um tremendo manifesto dos empresários, capitaneados pelo dr.Antônio Ermírio de Moraes, contra a dívida externa brasileira. O tzar da economia sempre foi bem humorado. Respondeu-me com uma ironia:

- Nunzio, onde você acha que o governo aplicou os recursos da dívida externa? Na Ferrovia do Aço, na Binacional de Itaipu, na Usina de Angra... E quem você acha que forneceu o cimento para estas ações? Será que eles aceitariam devolver o que ganharam?

É mesmo incrível o volume de empresários que apoiaram o movimento dos trabalhadores do ABC no final dos anos 70 e início dos anos 80. Depois de 2003, então, nem se fala. Todos liberais de carteirinha, alguns, então, de manifesta convicção socialista.

Muito se tem discutido a origem dos recursos que permitiram a Alemanha implantar o regime nazista. O mesmo vale para a Itália fascista. Certamente não foram os trabalhadores alemães e italianos que contribuíram para isso. Na América do Sul, os regimes assassinos foram financiados pela mesma fonte.

Em Missing, o grande filme de Costa Gravas sobre o golpe militar no Chile, um caminhão de soldados passa pela janela de um palácio onde a elite comemorava o golpe. São aplaudidos e o oficial se perfila em continência.

Depois de tantos anos, ainda sinto um frio na espinha quando vejo um carabineiro chileno. E fico ainda mais assustado quando ouço alguém dizer que muito pouca coisa mudou nos últimos 30 anos no país transandino.

Mudou sim. Mudou muito!

Para melhor. Muito melhor!

Só não pergunte: Onde estavas quando as luzes se apagaram????

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