sábado, 14 de julho de 2012

Um elefante incomoda muita gente...



Palácio Real em Madri: problemas cm elefantes na África e uma baita crise 




Final da Copa do Rei no velho Vicente Calderon, em Madrid. Estádio lotado. Atlético de Madri e Atlético de Bilbao fazem a final. Pouco antes do início do jogo, o serviço de som informa:

- Acaba de chegar ao estádio, Sua Majestade o rei D.Juan Carlos....

Ouvem-se alguns aplausos esparsos. Segue-se um segundo espantoso de silêncio e então primeiro discretamente e depois com uma força espantosa todos os torcedores começam a cantar a plenos pulmões:

- Um elefante incomoda muita gente. Dois elefantes incomodam muito mais.

Este raro fenômeno de bom humor castelhano, entretanto, não esconde uma realidade tremenda: a economia espanhola se dissolveu como Leite Glória, sem bater.

Claro que este não é um privilégio ibérico, Itália e Portugal também vivem seus problemas, tão sérios como. Nem se fale da Grécia e outros países da Europa.

Os resultados são visíveis: 27% de desemprego principalmente entre as classes mais jovens, comércio em crise, uma horda de pessoas perambulando pelas ruas pedindo uma “ajuda” para sobreviver.

Os espanhóis são orgulhosos. Mesmo com os efeitos devastadores da Guerra Civil, nos anos 30, celebraram sua imunidade no desastre que se seguiu, a Segunda Guerra Mundial. Com a unidade européia, tornaram-se arrogantes e voltaram a olhar o mundo de cima, como nos tempos de Felipe II e sua incrível armada.

Agora, estão por baixo. Implorando por empréstimos de organismos internacionais e à espera de clemência da toda-poderosa Ângela Merkel e do Banco Central alemão. E, como os outros países, estão obrigados a reduzir salários, aposentadorias e benefícios sociais conquistados ao longo do século XX, com muito sacrifício.

Coisas do capitalismo! A Alemanha ao longo dos séculos XIX e XX tentou pela ponta da espada, dos seus mosquetões e dos seus panzers tomar a Europa na marra. Desde Bismark que os tedescos tentam impor seu german-way-of-life ao velho continente. Tiveram vitórias efêmeras e derrotas acachapantes e longevas. Como diz o grande Luís Fernando Veríssimo, jamais poderiam imaginar que poderiam fazê-lo com a força tonitruante de seu Banco Central.
É. O charme da Belle Epoque e a constatação de que Berlim jamais seria Paris, o que custou uma guerra mundial, a primeira, foram para o ralo na medida que o euro obrigou toda a Europa a recitar e cantar o velho Barril de Chopp, aquela cançãozinha insuportável que se canta em qualquer cervejaria do mundo.

E nós os latino americanos com tudo isso? Em primeiro lugar, os europeus nos olham com uma ponta de inveja por termos conseguido a proeza de agregarmos à sociedade de consumo expressivas camadas miseráveis. Mérito sobretudo do governo dos presidentes Lula e Chávez. Depois porque afinal com as reservas brasileiras e venezuelanos, sobretudo, mais o gás boliviano e um restinho das mal geridas bases argentinas e mexicanas o nosso continente ganhou a tal autonomia na produção de petróleo.

É claro: energia mais mercado interno é igual a desenvolvimento. Simples assim. E isso tem um impacto mais forte quando traduzido em autonomia.

Pois é. O que os europeus enxergam é a grande oportunidade que se desfralda à nossa frente. Pela primeira vez em mais de 500 anos, podemos dar uma banana para nossos colonizadores.

É bem verdade que as idiossincrasias históricas e, sobretudo, as classes médias de nossos países ainda não se deram e, provavelmente, nem querem se dar conta disso. Sonham com o paraíso de Boca Raton e outras barbaridades consumistas.

Outro dia, voltava de Madrid, fazia uma conexão em Lisboa, e a confusão era grande no controle de passaportes. Um funcionário gritava várias vezes: Passaportes europeus para a direita, passaportes não europeus para a esquerda. Enquanto meia dúzia de pessoas se resolviam em dois guichês. Uma multidão de latino-americanos e africanos se aglomerava em quatro outros guichês. É fácil imaginar a confusão.

Na quarta vez que o dito funcionário repetiu o refrão, diria até com uma certa ponta de orgulho, como se estivesse a tripudiar sobre nosotros pobres infelizes da periferia do mundo, não me contive:

- Olha aí pessoal. Ele está explicando pela milionésima vez que quem tem passaporte alemão deve ficar do outro lado.

O aeroporto veio abaixo.




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