segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Esta bobagem tremenda de fazer rankings


Cidadão Kane e Um corpo que cai: quem é melhor? Brincadeira! 




Tenho reiterado que esta mania de comparar e ranquear talentos e aptidões é uma imbecilidade. Por exemplo: quem é o atleta do século XX? Escolha Pelé ou Mohammed Ali. Outro exemplo: qual escritor marcou mais indelevelmente a literatura latino-americana no século passado? Gabriel Garcia Marques ou Jorge Luís Borges?
Recentemente, alguém teve a brilhante ideia de questionar alguns críticos sobre as mais importantes produções cinematográficas em todos os tempos. E, surpresa geral, o campeoníssimo Cidadão Kane de Orson Wells foi desbancado por Um Corpo que Cai de Alfred Hitchcock.
Ai,ai,ai,ai,ai. Podemos presumir que depois de 70 anos consecutivos no topo da lista, o clássico de Wells foi superado pelo drama psicológico-policial de sir Alfred? Que bobagem!
Ainda bem que o genial diretor inglês, cabotino e vaidoso, já foi para o paraíso ou para o inferno. Até porque não considerava O Corpo seu melhor trabalho. Pessoalmente, embora tenha uma reverência a toda a sua produção cinematográfica, o meu preferido é Janela Indiscreta. Quanto a história de Charles Foster Kane, ainda reputo como um dos melhores trabalhos já feitos em celuloide.
Nesta bobagem de listas etc, sempre faz muito sucesso a divulgação dos melhores westerns e dos melhores filmes de guerra, ou ainda das melhores comédias, e assim por diante.
E os absurdos são impressionantes. Pois vejamos: numa lista de dez dos mais marcantes e bem sucedidos cowboys, John Ford teria pelo menos três filmes: No Tempo das Diligências, Rastros de Ódio e O Homem que Matou o Facínora. Sérgio Leone é obrigatório com Era uma vez no Oeste. Não podemos esquecer de Os Sete Magníficos, Da Terra nascem os Bravos, Matar ou Morrer e ainda A Árvore dos Enforcados. Pois bem, como comparar estas verdadeiras obras de arte e eleger uma como a melhor de todas?
No segmento filmes de guerra, dificilmente alguém deixaria de citar o genial e caótico trabalho de Francis Ford Coppola, Apocalipse Now. Coppola usou tudo que tinha direito, quebrou um mundaréu de gente, mas fez um filme irretorquível. Mas, o que dizer de filmes anteriores a Segunda Guerra Mundial, que tinham recursos limitadíssimos. Me refiro a  trabalhos como A Grande Ilusão, de Jean Renoir, Sem Novidade no Front, de Lewis Milestone, ou Anjos do Inferno, de Howard Hughes.
Há ainda as versões dos derrotados como o japonês Yamato ou os alemães Stalingrado e O Barco. Os documentais: Tora!Tora!Tora!, O Mais Longo dos Dias, Uma Ponte Longe Demais ou A Queda. Claro, não posso esquecer o genial trabalho de David Lean, A Ponte do Rio Kwai. Ou o tonitroante Canhões de Navarrone, ou ainda a versão de Kubrick para o Vietnam em Nascido para Matar.
Por favor, fiquem à vontade e podem acrescentar suas preferências pessoais. Mas, dizer que este é melhor que aquele ou ranqueá-los é perder tempo.
Um de meus diretores prediletos, o austríaco Billy Wilder, por exemplo, costuma frequentar as listas dos melhores com dois dos seus mais marcantes trabalhos: Quanto mais quente Melhor (sempre considerada a melhor comédia de todos os tempos) e Crepúsculo dos Deuses. São dois filmes completamente diferentes e absurdamente geniais. Eu ainda acrescentaria A Montanha dos Sete Abutres. Outro gênio, Fritz Lang, está imortalizado por sua obra prima, Metrópolis, mas, seguramente não dá para desprezar sua incursão pelo cinema noir americano no início dos anos 50, com Blue Gardenia, por exemplo.
Voltando ao futebol, dez entre dez apreciadores do esporte bretão, dirão que a melhor seleção brasileira de todos os tempos é a de 1982. Aquela da Espanha. Respeito. Mas, ainda considero a de 1958, a mais efetiva, mais compacta, etc... Avaliação subjetiva? É claro. Como comparar, por exemplo, Falcão com Didi, Zico com Pelé, Toninho Cerezzo com Zito, Garrincha com Eder?
Considero Ulysses, de James Joyce, seguramente um dos maiores livros já escritos em todos os tempos. E de quebra aviso que jamais abri ou folheei um trabalho do Paulo Coelho. Mas, não dá para esquecer de Zola, de Umberto Eco, de Lampedusa, de Fernando Pessoa, de Saramago, de Hemingway e tantos outros.
Mais importante do que ficar fazendo rankings e perder tempo com esta bobagem, talvez valesse mais a pena revisitar todas estas obras. Há muitos Charles Foster Kanes por ai e, seguramente, ainda se tenta mudar tudo para que as coisas continuem do mesmo jeito que sempre foram. Finalmente, sempre surgirá um menino pretensamente melhor que Pelé ou Ali.

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