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O portentoso segundo ato de Aída: a marcha triunfal de Radamés |
Depois de 60 dias bastante
intensos, finalmente chegou o dia da estréia de Aída, no Theatro Municipal. Nem
preciso dizer que sinto uma profusão de sentimentos que variam de orgulho,
preocupação, ansiedade e assim por diante. Confio muito no maestro Neschling e
sei que ele fará o melhor. É a primeira produção lírica do Theatro em 18 anos.
Aída é uma ópera peculiar.
O maestro Verdi já havia se recolhido a sua fazenda e cuidava apenas de grãos e
galinhas ao lado de sua companheira Giuseppina, aparentemente sem dar muito
trato a uma proposta do Teatro de Ópera do Cairo para escrever uma grande ópera
para comemorar a inauguração do Canal de Suez. Depois de D.Carlos e La Forza
del Destino, o maestro já com mais de 80 anos imaginava descansar a pena.
Ainda assim, Verdi pediu
para Antônio Ghislanzoni escrever o libreto a partir de uma sinopse de seu
amigo Camille du Locle. Mas, deixou tudo guardado numa gaveta.
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La Stolze: furacão na vida de Verdi |
Foi então que um tufão
entrou em sua vida. Uma soprano alemão chamada Tereza Stolze, no auge de seus
20 anos, foi a Milão encenar Lohengrin, de Richard Wagner, e fez questão de
visitar o maestro em sua fazenda. Verdi se encantou com a moça e decidiu abrir
a gaveta.
Meu pai e meu avô, ambos
apaixonados por Verdi, costumavam ressalvar que a produção do maestro se
dividia em dois grupos: em um onde estariam as óperas mais inspiradas estão
Aída, Falstaff, Rigoletto, MacBeth e Otelo. Stolze teria inspirado não só a
escrava etíope, como também a infeliz Desdemona. Daí é fácil imaginar o impacto
que ela provocou.
Aída é colorida, vibrante,
inspirada. São quatro atos, divididos em duas cenas cada. Os dois primeiros são
bastante pirotécnicos com massas corais, bales, árias portentosas e vigorosas.
Os dois últimos são mais inspirados delicados, exigem mais da orquestra e dos
cantores. Destaques importantes: a primeira ária do tenor Se quel guerrier io fosse e da soprano Ritorna Vincitor. A minha parte preferida é o dueto do terceiro
ato, Pur ti riveggo, mia dolce Aida.
E evidentemente o dueto final no quarto ato O
terra, addio; addio, valle di pianti.
Em termos de gravações
fonográficas, Pavarotti, Bjoerling, Bergonzi, Gigli, di Stephano, todos se saíram
muito bem no papel de Radamés. E todas as grandes divas do século XX estiveram
no papel da escrava etíope. Mas, para mim a versão definitiva é do maestro
Georg Solti com a ópera de Roma, tendo o tenor canadense Jon Vickers e a
soprano americana Leontyne Price nos papéis principais.
O ano promete muito ainda.
Depois de Aída, será a vez de D.Giovanni de Mozart, o Ouro do Reno, primeira
ópera da tetralogia wagneriana, Jupyra e Cavalleria Rusticana numa só noite e a
clássica La Boheme, de Giaccomo Puccini.
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