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D.Giovanni, cena final: o fantasma atacou a mesa de iluminação no primeiro ato |
(saiu no Brasil 247)
Um novo e surpreendente
personagem apareceu pelos corredores do Theatro Municipal de São Paulo: o
fantasma da ópera. Ao contrário do clássico mascarado que vive nos porões do
famoso prédio de Paris, este tem motivações mais torpes. Pode ser uma viúva de
gestões passadas, ou de produtoras passadas, de tempos não tão gloriosos, mas
seguramente obscuros.
O fato é que na segunda
récita de Aída, no mês de agosto, duas horas antes do pano subir, numa tarde
fria de domingo, a direção do teatro constatou que os cabos de um dos
elevadores de cena estavam rompidos. Foi
uma confusão danada, mas a equipe de diretores e registas do teatro conseguiu
improvisar a montagem de forma a levar o drama da escrava etíope apaixonada
pelo general egípcio sem que a plateia percebesse o ocorrido.
A direção do Theatro,
entretanto, chamou a polícia. Registrou a ocorrência e solicitou providências à
Prefeitura no sentido de policiar as coxias e os bastidores do palco.
Coerente com os novos
tempos, o fantasma da ópera de São Paulo se comunica pela internet. Um perfil
fack do facebook, pela manhã , anunciava que naquela tarde, os produtores de
Aída “iriam se afogar nas areias do deserto”. Foi por pouco mesmo.
Domingo passado, dia 15,
na terceira récita do D.Giovanni, de Mozart, e na terça 17, na metade do
primeiro ato, caiu a fonte de energia da mesa de iluminação. O espetáculo foi
interrompido por 15 minutos. A danação do mais ilustre conquistador de Sevilha
consumou-se com atraso, mas com brilho.
Curiosamente, três minutos
depois do ocorrido, o fantasma informava o ocorrido, muito antes da constatação
dos próprios técnicos.
Há algo de muito podre nas
coxias do Municipal. A dupla John Neschling e José Luís Herência enfrenta uma
reação pequena, mas desesperada, de gente inconformada com o padrão de
qualidade e excelência exigidos pela nova gestão. Pior, estão fazendo renascer
o mais xenófobo dos sentimentos, aquele de reação aos músicos estrangeiros.
Como se a qualidade artística tivesse pátria ou se qualificasse pelo local de
nascimento. Uma bobagem monumental.
Se já tinha dado polícia
desde a montagem de Aída, a história agora se complicou. O tal perfil fack está
sendo monitorado pela polícia especializada em crimes digitais. Uma análise
primária permitiu aos delegados perceber que além de mau gosto, os autores
avançaram pelo perigoso terreno da calúnia e da difamação. E isso dá cadeia!
Depois do ocorrido em
D.Giovanni, a Secretaria da Cultura solicitou a Controladoria Geral do
Município a instauração de uma sindicância para apurar o eventual envolvimento
de funcionários do teatro. O controlador Mário Vinicius Spinelli, trazido da
CGU de Brasília, pretende durante a investigação analisar meticulosamente os
contratos com as produtoras de tempos passados. E o eventual envolvimento do fantasma com
estas empresas, que aliás, por longos oito anos fizeram o que quiseram no
teatro e na programação musical da cidade.
O cenário agora é outro.
Naschling pretende fazer um concurso para completar as estantes vazias na
orquestra do teatro até o final do ano. Pretende juntar os corais Lírico e
Paulistano. Quer transformar o Municipal em um teatro de ópera, com pelo menos
10 montagens por ano, uma em cada mês. Não há lugar para amadorismo, para
deuses cangaceiros.
Depois da montagem de
Aída, o Municipal abriga agora o D.Giovanni, com o mesmo sucesso. A temporada
segue com Jupyra e Cavalleria Rusticana, Ouro do Reno (em forma de concerto) e,
finalmente, La Boheme. Cantores de talento, músicos esforçados e técnicos
aplicados. O fantasma, por sua vez, vai se encontrar com a polícia e com os
auditores da Prefeitura.
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