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Queima de fogos na Brava: 2014 chegou sem água |
Salve 2014! 2013 se
despediu da forma que se desenvolveu, imprevisível. Aqui em Florianópolis por
volta das 20 horas despencou um pé d’água de respeito. E como de costume, não
faltaram raios e relâmpagos para atemorizar a todos. Pobres dos meus
anfitriões, Ítalo e Ivone, que perderam três computadores, o roteador da rede
de internet, de televisão a cabo e o alarme da pousada.
Claro que a Celesc, a
empresa de distribuição de energia, como sempre acontece, mandou avisar que não
tinha nada a ver com nada. O bicho vai pegar na segunda-feira, dia 6, porque o
festival de raios praticamente deixou
toda a praia Brava sem água. Um deles fez o favor de destruir a bomba d’água
que abastece todos os condomínios. Dá para imaginar, juízes, desembargadores,
deputados, gente sofrida que pagou com o suor do rosto, seus apartamentos de
luxo na mais badalada praia da Ilha de Santa Catarina, comemorando o revellion
sem tomar banho¿
Em plena madrugada do dia
1º. , era grande o fluxo de caminhões-pipa. Mas, a esta altura a festa de 2014
já ia alta.
Foi divertido. Os fogos
estavam lindos. A praia apinhada de gente. Minha companheira, Rejane, como sempre, não
abriu mão de subir na cadeira na passagem, e de pular as setes ondas. É um
ritual meio sem sentido, mas bem divertido. Havíamos ceiado uma bela anchova
marisqueira, um dos meus modestos cuscuz caiçara, receita que herdei de minha
mãe, que aliás nos deixou neste ano que passou.
Meu irmão André ligou um
pouco antes. Disse que se sentia como em meio a um êxodo de tutsis, no Congo.
Tal era o volume de gente na Praia Grande, em São Paulo.
Nós aqui também não
estamos diferentes. Demorei mais de três horas quando cheguei no dia 28 para
percorrer os 40 quilômetros entre a velha ponte Hercílio Luz e a Praia Brava.
Aliás, as praias mais badaladas, tipo Daniela ou Barra da Lagoa, estão tão
lotadas que se estuda a distribuição de senhas. Número 35, quatro pessoas, pode
se instalar naquele guarda-sol junto das pedras. Número 36, seis pessoas, atrás
da barraca de bebidas.
Esta ilha já foi linda e
calma. Isso antes da invasão de argentinos, gaúchos, paulistas e paranaenses.
Nem a guerra da Tríplice Aliança reuniu um volume tão grande de depredadores.
Um terreno de 600 metros quadrados na Lagoa da Conceição está a venda por
parcos R$ 1,6 milhões de reais. Uma bobagem! Apartamentos com 150 metros
quadrados superam US$ 1 milhão.
Bem, como dizem os
catarinenses: “Se queres, queres, se não queres, dizzzzzzzzzz”.
Gosto daqui. Desta ilha
carrego grandes lembranças. Nem mesmo uma segunda-feira com Vento Sul é capaz
de me deprimir.
E também não me incomoda
tanto o volume de gente que vem para cá compartilhar este paraíso. Dia 6, o
pessoal começa a ir embora e a ilha volta para a tranquilidade dos ilhéus.
Neste meio tempo, todo mundo ganha um dinheirinho e a vida segue.
Mas, um engenheiro de
tráfego faria maravilhas por aqui. Todos os problemas se resumem ao controle
dos cruzamentos. Nada mais.
Por falar nisso, qual é a
lógica da tristemente famosa Serra do Cafezal¿ Se alguém souber, por favor não
me responda. É óbvio que a sua duplicação, a passos de cágado, deveria estar
pronta antes do verão. Agora dividi-la ao meio, com duas pistas que descem e se
transformam em uma e duas que sobem e igualmente se afunilam, é de uma
imbecilidade campeã. Não seria muito mais eficiente colocar uma fila indiana
nos dois sentidos nos 30 quilômetros da estrada¿
Desde tempos imemoriais
que eu digo e repito: a ligação do Sudeste com o Sul não pode ser feita apenas
pela Régis Bittencourt. Não há estrada que dê conta. São centenas de carretas
com dez eixos, mais o tráfego local, mais os turistas, mais os ônibus. Uma
insanidade! A região entre Juquitiba e Miracatu é ambientalmente preservada.
Mas, nada impede que se faça uma ligação, pelo menos entre Sorocaba e
Jacupiranga ou até Curitiba mesmo.
Neste primeiro dia do ano,
aqui em Florianópolis, a chuva veio inclemente. Todo mundo já saiu das praias,
ficou horas no congestionamento, mas já voltou para seus hotéis, casas,
pousadas e assemelhados. Consigo ouvir o som da água batendo nas folhas e com algum
esforço o quebra-mar da Brava.
Outro dia, meu chefe disse
que se ele é um D.Quixote, eu sou o Sancho Pança. E que vamos juntos nessa até
o fim. Não me incomoda o papel de armeiro do cavaleiro louco de La Mancha. Mas,
prefiro outra visão: a do sonhador rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola
Redonda. E nesta loucura, prefiro mesmo o papel do mago Merlin.
2013 foi duro. Difícil.
Cheio de barreiras que pareciam intransponíveis. Marcado pela ansiedade e pela
incompreensão. Mas, mesmo sabendo como seria, eu jamais deixaria de vive-lo com
a mesma intensidade, no papel do rechonchudo armeiro espanhol ou no do velho mago sonhador inglês.
Feliz 2014 para todos.
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