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Camille Saint-Saëns: admirador confesso de Franz Liszt |
Gioacchino Rossini, o
grande mestre do bel-canto italiano, perguntado disse certa vez: “Existem
apenas dois tipos de música, a boa e a má”. Definição simplista, sem dúvida, e
que nos dias de hoje levaria uma centena de críticos musicais à loucura.
Afinal, sem adjetivos possíveis o que mais se poderia escrever?
Lembrei-me desta definição
por conta de um comentário que ouvi na Rádio Cultura, momentos antes da
transmissão da 3ª. Sinfonia de Camille Saint-Saëns, executada pela OSESP. Um
atilado e sempre competente comentarista referiu-se ao compositor francês como
um apaixonado por Liszt, mas que especificamente nesta peça tinha composto uma
sinfonia conservadora, reacionária mesmo.
Que diabos significa uma
sinfonia reacionária?
A terceira de Saint-Saëns
chamada “Órgão” porque abusa dos efeitos deste instrumento no terceiro
movimento é a chamada sinfonia cavalo de batalha para regentes. Não há quem não
se emocione com a sua execução, com os temas bastante repetidos com uma
orquestração peculiar e o ritmo bem marcante.
Não consta que Saint-Saëns
fosse um reacionário. Mas, ainda que fôsse, como definir a interferência do seu
pensamento na sua produção musical. Bem, talvez o reacionário seja eu, vai
saber?
Mas, fico me perguntando:
alguém consegue ver um homem solitário, de convivência insuportável,
invariavelmente alcoolizado, quando ouve as sinfonias de Beethoven? Sim, porque
embora genial, talvez o maior de todos, o gênio de Bonn era assim mesmo. Dá
para perceber o virtuosismo em Paganini ou em Liszt, mas será que dá para perceber
que o italiano era depressivo e o húngaro um conquistador contumaz, que
alimentava o ego arrebentando corações aristocráticos da Europa?
Insuportável por
insuportável, ninguém tolerava o gênio de Richard Wagner, genioso e genial, de
trato difícil, com um ego que faria o deus Wotan ruborizar. Pior, há quem
associe a sua música genial ao nacional socialismo alemão. Até bem pouco tempo,
não sei se ainda vigora, o maestro Zubin Mehta lutou muito contra isso, era
proibido à Filarmônica de Israel executar qualquer acorde wagneriano.
O que dizer da
timidez/insegurança de Bruckner ou do conservadorismo de Brahms.
Admito que a personalidade
dos compositores também fica impressa no pentagrama. Mas, daí a considerar uma
sinfonia reacionária. De duas uma, ou o comentarista se excedeu no adjetivo ou
eu faltei a alguma aula. Como um som pode ser reacionário?
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