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Matteo Renzi, 39 anos: um sopro de idéias para chacoalhar a velha política |
O professor Giorgio
Romano, coordenador do curso de relações internacionais da Universidade Federal
do ABC, publicou notável artigo na Folha de hoje (05.06), em que finalmente se
enxerga uma luz alternativa no final do túnel, o que evitaria fazer com que o
século XXI repetisse as mesmas tragédias do século XX.
“A crise econômica e seu
desdobramento social provocaram resultados eleitorais muito flutuantes nos
diversos países europeus. Aumenta a desconfiança em relação aos partidos
tradicionais e à política no geral. Parte deste descontentamento é capitalizado
por partidos da extrema direita, nacionalistas, ou antissistema. Outra parte,
menor, pela esquerda radical”.
Romano acredita, e diz
isso no seu texto, que a Itália – sempre ela a inovar para um lado e para o
outro – apresenta agora uma nova liderança popular e pró-européia, capaz de
higienizar e ventilar o corroído Partido Comunista Italiano, que agora se chama
Partido Democrata e absorveu as chamadas forças da esquerda católica.
A novidade se chama Matteo
Renzi, ex-prefeito de Florença, de 39 anos, o mais jovem primeiro ministro da
história da Itália. Desde a candidatura do professor Romano Prodi, na última
década do século XX, a esquerda italiana não se sentia tão viva.
O Partido Democrata sob o
comando de Renzi conquistou 40,8% dos votos nas eleições europeias e levou a
Itália ao menos absenteísmo de sua história. Nas eleições municipais, das 243
cidades com mais de 15 mil habitantes, que passaram por escrutínio entre os
meses de maio e junho, a centro-esquerda avançou de 128 para 167
municipalidades.
O segredo de Matteo Renzi
é vender com um estilo informal e descontraído que as coisas podem melhorar
para os italianos a partir da retomada dos investimentos públicos. E para se
libertar dos grilhões teutônicos do liberalismo exacerbado da primeira ministra
Angela Merkel, o italiano defende uma flexibilização do Pacto da Estabilidade.
Ou, em bom português, excluir do limite do déficit público de 3% do PIB (limite
acordado entre os países da união europeia), todos os investimentos públicos
ligados diretamente a geração de renda e emprego, mais os gastos com educação,
pesquisa e desenvolvimento.
Epa! O professor Giorgio
Romano tem razão. Temos uma novidade aí. Depois da desgraça imposta pelo magnata
Sílvio Berlusconi, pelo furacão monetarista que praticamente destruiu a
economia dos países europeus, sobretudo os periféricos, este jovem toscano
aparece e tem a audácia de propor uma solução inovadora: capaz de manter a
unidade europeia e ao mesmo tempo garantir empregos e renda para os
trabalhadores de Portugal, Espanha, Itália, Grécia, Turquia, entre outros
países varridos pela hegemonia franco-prussiana.
Quem
é Matteo Renzi¿
O atual
primeiro ministro italiano tem obsessão pela expressão “rottamatore”, algo como
reciclar a sucata ou trocar alguma coisa muito velha por algo mais novo, com o
reaproveitamento de alguns pedaços. Tem manifestado insistentemente a
necessidade de dar vez a uma nova geração política. E de acabar com o sistema
vigente, desacreditado e manchado pela corrupção, pelo imobilismo e pelo
fisiologismo.
Renzi fala
da Itália, mas poderia estar falando do mundo. Seus traços de juventude e de
impetuosidade lembram um pouco Rafael Correa, o presidente do Equador, ou
Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo. E é claro, como os dois políticos latino-americanos,
ele enfrenta o mal humor de parcelas da classe média, o reacionarismo de
setores mais conservadores e, sobretudo, dos donos do poder, à esquerda ou à
direita, empedernidos defensores do mais descarado “gattopardismo”.
A seu
favor, conta é claro, o Partido Democrata e a mobilização dos trabalhadores
italianos, encantados com o discurso de mudanças. Farto dos políticos
tradicionais e de suas soluções, o mais organizado movimento trabalhista da
Europa, enxerga nele a possibilidade de se livrar dos acordos estapafúrdios e
as concessões ao liberalismo econômico.
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