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Westfront 1918: a insanidade da guerra das trincheiras não serviu de lição |
De volta a um assunto
recorrente, a Grande Guerra, que completa 100 anos, matou mais de 10 milhões de
jovens, redesenhou a Europa e deixou uma ferida que infeccionaria com a Segunda
Guerra, mais potente e arrasadora, com o holocausto, a bomba atômica no Japão e
assim por diante.
O que mais impressiona nos
documentários e nos registros cinematográficos da Primeira Guerra é o
entusiasmo que movia toda uma geração para um conflito militar confuso, cujos
objetivos nunca ficaram muito claros e que, nem de longe, poderiam ser profetizados
em agosto de 1914, quando o exército alemão passou por Luxemburgo em direção à
Bélgica.
No livro clássico de
Erique Maria Remarche, Sem Novidade no
Front, fica patente a mobilização exacerbada promovida por professores para
que seus alunos deixassem as bancas escolares e se deslocassem para as
trincheiras. Era um fervor tremendo, sem que se entendesse afinal o que se
pretendia: certamente não era apenas uma guerra de retaliação pelo assassinato
de um arquiduque da casa dos Habsburgo, em Sarajevo, promovido por um grupo
anarquista sérvio.
É farta a documentação
hoje que atesta que tanto os generais alemães, como os franceses, se dedicaram
a preparação da guerra, pelo menos desde 1908. Animados pelos arroubos
nacionalistas de ambos os lados, os políticos deram vazão aos anseios dos
militares e quando acordaram estavam encalacrados em uma guerra que ninguém
sabia ao certo como começou e muito menos como ia acabar.
Remarche destrói o ânimo
belicista alemão e se tornaria um dos mais importantes livros pacifistas de
todos os tempos. Em 1930, Lewis Milleston levou o romance para o cinema. No
mesmo ano, George Pabst rodaria na Alemanha Westfront
1918: Vier Von der Infanterie. Antes em 1925, os americanos rodaram sob a
direção de King Vidor, o clássico The Big
Parade. Em 1933, os franceses fizeram Les
Croix de Bois, dirigido por Raymond Bernard. E em 1937, Jean Renoir
construiria uma obra prima chamada A
Grande Ilusão. Em 1939, Dalton Trumbo publicaria o clássico Johnny vai a Guerra, uma cacetada
definitiva no ânimo belicista.
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A Grande Ilusão: resgatado em Munique nos anos 50 |
Tanto o filme de Pabst
como o de Renoir sofreram tentativas da Gestapo de destruí-los. Foram salvos
porque os originais estavam escondidos em uma cinemateca obscura em Munique e
puderam ser restaurados na década de 50. Isso significa que havia uma
preocupação na máquina de propaganda nazista de esconder as feridas da primeira
guerra no ânimo alemão.
Esta tendência da
humanidade em repetir e minimizar os erros do passado parece uma constante na
história. Ainda mais quando a experiência é marcada pela dominação, pela
vergonha e pelo sadismo. Há quem diga que o estopim da Segunda Guerra foi aceso
na Conferência de Versailles, quando os alemães foram totalmente humilhados. E
que a insistência do presidente francês Clemanceau em manter francesas as províncias
da Alsácia e da Lorena, teria sido o gérmen da insatisfação. Outros dirão que a
Liga das Nações, nos moldes propostos pelo presidente americano Woodrow Wilson poderia
ter evitado o conflito.
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The Big Parade (1925): incursão yankee na Europa em 1918 |
Bobagem. O século XX
mostrou que o ânimo imperialista das potências econômicas precisa da guerra
como nós, cidadãos comuns, precisamos de oxigênio. Depois de Hiroshima, ainda
veio a Coréia, o Vietnam, Israel, os Balcãs, o Afeganistão e assim por diante.
O mundo está sempre ameaçado pelo passado sombrio das guerras que promoveu e
parece se esquecer de seus efeitos.
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