terça-feira, 18 de novembro de 2014

Uma lição do passado que nunca é aprendida


Westfront 1918: a insanidade da guerra das trincheiras não serviu de lição 



De volta a um assunto recorrente, a Grande Guerra, que completa 100 anos, matou mais de 10 milhões de jovens, redesenhou a Europa e deixou uma ferida que infeccionaria com a Segunda Guerra, mais potente e arrasadora, com o holocausto, a bomba atômica no Japão e assim por diante.

O que mais impressiona nos documentários e nos registros cinematográficos da Primeira Guerra é o entusiasmo que movia toda uma geração para um conflito militar confuso, cujos objetivos nunca ficaram muito claros e que, nem de longe, poderiam ser profetizados em agosto de 1914, quando o exército alemão passou por Luxemburgo em direção à Bélgica.

No livro clássico de Erique Maria Remarche, Sem Novidade no Front, fica patente a mobilização exacerbada promovida por professores para que seus alunos deixassem as bancas escolares e se deslocassem para as trincheiras. Era um fervor tremendo, sem que se entendesse afinal o que se pretendia: certamente não era apenas uma guerra de retaliação pelo assassinato de um arquiduque da casa dos Habsburgo, em Sarajevo, promovido por um grupo anarquista sérvio.

Remarche: Professores incentivavam seus alunos para a guerra

É farta a documentação hoje que atesta que tanto os generais alemães, como os franceses, se dedicaram a preparação da guerra, pelo menos desde 1908. Animados pelos arroubos nacionalistas de ambos os lados, os políticos deram vazão aos anseios dos militares e quando acordaram estavam encalacrados em uma guerra que ninguém sabia ao certo como começou e muito menos como ia acabar.

Remarche destrói o ânimo belicista alemão e se tornaria um dos mais importantes livros pacifistas de todos os tempos. Em 1930, Lewis Milleston levou o romance para o cinema. No mesmo ano, George Pabst rodaria na Alemanha Westfront 1918: Vier Von der Infanterie. Antes em 1925, os americanos rodaram sob a direção de King Vidor, o clássico The Big Parade. Em 1933, os franceses fizeram Les Croix de Bois, dirigido por Raymond Bernard. E em 1937, Jean Renoir construiria uma obra prima chamada A Grande Ilusão. Em 1939, Dalton Trumbo publicaria o clássico Johnny vai a Guerra, uma cacetada definitiva no ânimo belicista.

A Grande Ilusão: resgatado em Munique nos anos 50


Tanto o filme de Pabst como o de Renoir sofreram tentativas da Gestapo de destruí-los. Foram salvos porque os originais estavam escondidos em uma cinemateca obscura em Munique e puderam ser restaurados na década de 50. Isso significa que havia uma preocupação na máquina de propaganda nazista de esconder as feridas da primeira guerra no ânimo alemão.

Esta tendência da humanidade em repetir e minimizar os erros do passado parece uma constante na história. Ainda mais quando a experiência é marcada pela dominação, pela vergonha e pelo sadismo. Há quem diga que o estopim da Segunda Guerra foi aceso na Conferência de Versailles, quando os alemães foram totalmente humilhados. E que a insistência do presidente francês Clemanceau em manter francesas as províncias da Alsácia e da Lorena, teria sido o gérmen da insatisfação. Outros dirão que a Liga das Nações, nos moldes propostos pelo presidente americano Woodrow Wilson poderia ter evitado o conflito.

The Big Parade (1925): incursão yankee na Europa em 1918

Bobagem. O século XX mostrou que o ânimo imperialista das potências econômicas precisa da guerra como nós, cidadãos comuns, precisamos de oxigênio. Depois de Hiroshima, ainda veio a Coréia, o Vietnam, Israel, os Balcãs, o Afeganistão e assim por diante. O mundo está sempre ameaçado pelo passado sombrio das guerras que promoveu e parece se esquecer de seus efeitos.

Os militares alemães prometeram ao Kaiser uma guerra de 90 dias. Durou quatro anos. Os militares brasileiros prometeram devolver o Brasil a normalidade democrática em dois anos, demorou 25 anos. Os resultados são bastante visíveis.

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