terça-feira, 6 de outubro de 2015

Mais um fim do mundo à vista


Seita americana diz que o mundo acaba amanhã: previsão é de um grande choque



Uma seita cristã americana refez os cálculos e chegou à conclusão de que o mundo, como o conhecemos, acaba amanhã. Quarta-feira dia 7.

A previsão anterior, 21 de maio de 2011, evidentemente não se concretizou. Mas, o líder da seita, Chris McCann, agora garante que não tem jeito mesmo. “O mundo se irá para sempre. Será aniquilido. E destruído pelo fogo”.

Há uma certa lógica nisso. Afinal, da outra  vez que o Todo-Poderoso se indignou com a humanidade, liquidou com tudo, ou quase tudo, na base de chuvas torrenciais que provocaram uma inundação total e aniquiladora. Desta vez, para que não pairem dúvidas, o melhor mesmo e torrar toda a humanidade e o planeta junto.

No passado, uma visionária missionária do Meio-Oeste americano também teve uma visão do fim do mundo. Obrigou a comunidade a cavar uma fortaleza nas montanhas, forrar tudo com chumbo. Ah! Sim, nessa visão o mundo acabava por força de uma reação nuclear. Na data aprazada, encheram o refúgio com comida até a tampa e levaram todos para dentro. Passados sete dias, os primeiros voluntários saíram para conferir os estragos provocados pela ira do Senhor. E, surpresa, constataram  que não havia acontecido nada.

Eu mesmo certa vez fui alvo de uma visionária. Uma tarde comum, quente, estava eu fechando a edição de IstoÉ, quando me avisaram que uma senhora fazia questão absoluta de falar comigo e só comigo. Arrumei uma sala e fui recebê-la, sem ter a menor idéia do que se tratava.

A senhora sem nenhum constrangimento, nem preparação logo me fuzilou com a sentença:

- Olha o mundo vai acabar no dia 23 de maio. Uma nave siriana vai pousar na Paulista e destruir todos os humanos. Não vai sobrar ninguém para contar a história.

Não havia ciclovia na Paulista e portanto os sirianos (para quem não sabe, habitantes da estrela Sirius) teriam todas as facilidade em estacionar a sua poderosa nave destruidora.

A convicção da mulher foi tanta que só me restou a pergunta:

- E o que a senhora espera que eu faça?

Nada. Mas, eu vim aqui porque o senhor foi escolhido entre os 50 humanos que sobreviverão à catástrofe.

- Puxa! Quanta honra. E por que eu?

A mulher gaguejou um pouco mas seguiu: “O senhor é muito conceituado no outro mundo”.

- Pois bem e como a senhora imagina resgatar estas 50 pessoas?

- No fundo do Lago Titicaca na fronteira entre o Peru e a Bolívia está submersa uma nave espacial, que foi colocada pelos sirianos quando estiveram aqui pela primeira vez, cujo objetivo é justamente dar continuidade a humanidade.

Claro que a pergunta que emergiu imediatamente na minha cabeça foi: “E como a senhora sabe disso?”

Não sei até agora porque eu perguntei, mas a resposta foi dramática.

- Eles falaram para mim.

- Eles? Quem? Os sirianos? A senhora fala com os sirianos?

Depois de ouvir as respostas afirmativas que eu temia, balancei a cabeça e disse para ela que sem os meus filhos eu não iria. Ela me pareceu inconformada.

- Mas, o senhor é fundamental no ressurgimento da humanidade.

- A senhora tem certeza que está falando com a pessoa certa? Eu não sou fundamental para coisa nenhuma. Não tenho nenhum prestígio e nunca vi um siriano nem em sonhos.

A mulher finalmente se deu conta que eu não acreditava na história dela e que, ainda que acreditasse, não iria pagar o mico de mergulhar no Lago Titicaca atrás de uma nave perdida e largada lá pelos sirianos há mais de dois mil anos. Acompanhei-a até a saída. E ela se despediu avisando que me ligaria uns dias antes de iniciar a jornada para a Cordilheira dos Andes.

Mas, nem todas as experiências míticas sobre o fim do mundo tiveram uma solução parecida com essa. Certa vez mandei a Kiki (que saudades!) entrevistar uma médium baiana que prestava serviços para o CENIPA, o órgão da FAB que investiga acidente aéreos.

Quando ela voltou, a médium veio junto, teria tremendas revelações a nos fazer.

Convidamos ela para almoçar no restaurante da revista Manchete, no Rio, onde eu era editor executivo.

- Olha eu queria dizer para vocês que tudo isso aqui vai ruir. Esta empresa vai acabar. Vai dar um calote genial em todo mundo. Seus donos vão fugir para os Estados Unidos.

Confesso que engasguei com aquela maldita feijoada koecher que o Jaquito fazia questão de servir as quartas-feira. Uma coisa insuportável.

- A senhora se deu ao trabalho de vir de Salvador aqui para nos dizer isso? Nós estamos carecas de saber que é isso mesmo o que vai acontecer.

O meu jeito peninsular as vezes não ajuda muito. Mesmo assim, a mulher me olhou com carinho, nem no fundo dos meus olhos, e sentenciou.

- Você não quer. Mas, vai voltar para Brasília. E ainda vai ficar um bom tempo lá. De quebra ainda vai ganhar mais um filho. Na verdade uma filha.


Foram 15 anos e a Nina de quebra. O mundo não acabou. A Manchete sim. Entre curvas, perspectivas e não-perspectivas, minha vida só mudaria mesmo em 2013.

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