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Duas cenas de Lohengrin: acima o anúncio da chegada do Rei, com o coro na posição de comentarista; abaixo a cena de duelo entre Frederico Telramund e Lohengrin. |
Sem entrar na discussão
burra que contrapõe o maestro Giuseppe Verdi e o maestro Richard Wagner, dois
gênios absolutos da ópera e do drama lírico, é forçoso reconhecer, entretanto,
que o gênio alemão tem um grau de exigência que transcende aos libretos propostos.
Nada em Wagner é linear. O vilão nem sempre é vilão, como em O Holandês Voador,
nem o herói é tão herói como em Tannhauser. Nem vou descer as minúcias da
tetralogia, onde definitivamente nada é o que parece.
Wagner é um contador de
histórias, cheias de conteúdo simbólico, e onde a orquestra e a consequente
música por ela executada fazem parte definitiva da trama. Mesmo quando ele
ainda ensaiava o que mais tarde seria o leitmotiv, como neste Lohengrin, que estreou
no Theatro Municipal ontem, quinta, dia
8.
O comando preciso de John
Neschling com os concursos de Yannis Kounellis (cenografia) e Henning Brockaus
(direção de cena) culminaram com um Wagner soberbo. Puro. Sem afetamentos. E
permitiram aos cantores, o tenor croata Tomislav Muzek, a soprano suíça, Marion
Ammann, a mezzo Marianne Cornetti e ao baixo barítono islandês, Tómas Tómasson,
brilharem unicamente pela beleza de suas vozes e pela capacidade de dar vida
aos personagens que interpretavam.
Neschling por sua vez não
deu trégua à orquestra. Exigiu as minúcias absolutas, sobretudo nos prelúdios
do primeiro e terceiro ato e nos longos interlúdios orquestrais. E a brava
Orquestra Sinfônica Municipal respondeu a altura. Soou com brilho e com
musicalidade. O Coro Lírico Municipal foi muito bem preparado pelo maestro
Bruno Facio, desde fevereiro, e serviu maravilhosamente ao papel duplo que lhe
coube: o de comentarista das ações que se desenvolviam na trama e o de
personagem na mesma trama.
Yannis Kounellis, o
cenógrafo, é um dos fundadores do movimento Arte Povera, que prosperou na
Itália, sobretudo nos anos 60, valendo-se de elementos muito simples e casuais para
compor uma cenografia. Brockaus é discípulo da escola de Bertold Brecht,
entusiasta do teatro mínimo. Sua concepção de Parsifal fez muito sucesso na
Europa.
Lohengrin não é uma ópera
fácil de ser encenada. Ela anda perigosamente no limite do kitsch e do mal
gosto. Não é o caso. Em nenhum momento os diretores da versão paulistana
perderam o controle da montagem. E a narrativa foi tão eficiente que houve um
frisson no teatro quando da revelação do cavaleiro encantado.
Wagner já tinha concluído
o seu Lohengrin quando teve de fugir para a Suiça depois de se envolver na
revolução liberal de 1848. Aos 37 anos, arrancou até o último florim de Liszt
para lhe entregar os manuscritos, que afinal serviram de base para a estréia em
28 de agosto de 1850, em Weimar. O compositor permanecia em Zurique e orientou
o célebre maestro e professor húngaro por farta correspondência.
Foi a última das
composições de Wagner ainda no modelo italiano de números. Com duetos, trios,
quartetos, árias e coros. A partir daí ele mergulharia na tetralogia, no
Tristão e Isolda, Mestres Cantores de Nuremberg e Parsifal. Todas consagradas
ao drama lírico.
Este Lohengrin certamente fará história no Theatro Municipal de São Paulo. É uma das mais competentes montagens da gestão Neschling.
O segundo elenco
desta versão paulistana do Lohengrin de Richard Wagner conta com o concurso do
jovem tenor russo Viktor Antipenko, da soprano americana Natalie Bergeron, da
mezzo islandesa Johana Rusanen e do
baixo barítono alemão, Johmi Steinberg. A regência é do jovem maestro Eduardo
Strauzzer, assistente de Neschling.
Primeiro elenco,
dias 11, 15, 17 e 20;
Segundo elenco,
dias 10, 13 e 18.
Aos domingos as 18
horas e nos outros dias as 20 horas.
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