Coisa de velho né? Bodas
de ouro, filhos que se formam, outros que encaminham a vida, amigos que se vão,
a respiração ofegante, a emoção incontida e as lágrimas no rosto ao ouvir
Puccini, as lembranças de momentos marcantes, de aventuras vividas.
Definitivamente não é fácil completar 45 anos de profissão.
Foi no dia 5 de maio de
1971 que eu me apresentei para o trabalho na velha redação do jornal “O Estado
de S.Paulo”, na rua Major Quedinho, para ser duble de recepcionista de
noticiário e rádio-escuta. No dia anterior, eu estava sentado em um banco
(havia bancos naquela época) na praça D.José Gaspar. Experimentava a horrível
sensação de um desiludido estudante de Física, diante de um futuro incerto, com
dinheiro suficiente para um maço de Hollywood sem filtro e um café coado.
Sob a sombra da imponente
biblioteca Mário de Andrade, me apareceu um anjo negro chamado Olavo. Amigo de
família, que eu conhecia de vista. Não sabia o que fazia para ganhar a vida.
Mas, que transpirava a dignidade daqueles que vivem do trabalho.
Olavo era meio bruxo.
Sempre achei isso. Sentou-se ao meu lado com uma atitude terna e me provocou: “O
que acontece? Você está triste”.
Debulhei um rosário de
lamentações. Nunca entendi porque me abri tanto para alguém que afinal não era
tão íntimo. Que eu só conhecia de vista. Mas, foi...
“Você precisa de um
emprego. Sabe datilografar?”
Claro.
“Mas, você é bom mesmo
numa máquina de escrever?”
Em um minuto eu estava
diante do chefe das Comunicações do poderoso Estadão, Alaur Martins. No momento
seguinte estava diante de uma máquina de escrever.
Nunca mais sai. As
máquinas de escrever tornaram-se peças de museu. E eu também. Acho que o
jornalismo mudou muito nestes 45 anos. Alguns dos modelos nos quais eu me
inspirei deixaram a lida e foram desta para a melhor: Cláudio e Perseu Abramo,
por exemplo. Ramão Gomes Portão, Otávio Pena Branca Ribeiro. Outros saíram da
redação: Tão Gomes Pinto (mestre, mentor e amigo), Sílvio Lancellotti (meu
irmão querido), Armando Salém. Outros ainda estão na lida: Mino Carta (farol de
várias gerações), Clóvis Rossi (parceiro e condutor). A lista é interminável e
eu vou parar por aqui.
Vou terminar com a
milésima repetição da mensagem que me mandou a amada Anna Muggiati, quando eu
sai da revista Manchete, no final de 1997. “Existe um paraíso especial para os
jornalistas. É uma redação onde eles trabalham apenas com as pessoas de quem
gostam e em quem confiam. Tenho certeza que vou te encontrar no meu paraíso”.
Seu Olavo fez um bem danado ao jornalismo!!!!
ResponderExcluirQuerido Nunzio, ao ler esse texto me pus a imaginar o número de pessoas que também foram beneficiadas por esse momento decisivo. Sou um desses e ainda hoje me lembro com extrema clareza das muitas lições que me deu, graças à sua didática ao mesmo tempo apaixonada e furiosa, nos idos de 2004/2005. Sem falar no presente maravilhoso que foi conhecer, por seu intermédio, o grande mestre, nosso saudoso e amado Vincenzo Scarpellini. Sou muito grato a ti, meu caro.
ResponderExcluirDemorou dois anos para eu receber esta mensagem, caro Nunzio. enquanto não te reencontro no paraíso dos jornalistas, fico aqui na California vivendo minha segunda carreira, a de chef : ), e colecionando receitas para nosso encontro na redação ideal. Auguri! Bacci mille!
ResponderExcluirDemorou dois anos para eu receber esta mensagem, caro Nunzio. enquanto não te reencontro no paraíso dos jornalistas, fico aqui na California vivendo minha segunda carreira, a de chef : ), e colecionando receitas para nosso encontro na redação ideal. Auguri! Bacci mille!
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