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Na manhã de hoje Alá abriu as portas do paraiso: adivinhem quem ele encontrou lá |
Tenho um grande amigo que se
pauta tanto por posições politicamente corretas que até a seleção de um singelo
picolé é avaliada sobre esta luz. Certa vez, revelava a ele minha paixão por
Ernest Hemingway. Dizia a ele que me fascinava o vulcão que habitava o seu
interior, a capacidade de unir o repórter ao escritor, a ficção a realidade, o
narcisismo e o sentimento de derrota que permeou toda a sua vida e culminou com
o suicídio.
Este amigo me olhou com
aquele ar superior, próprio de quem tem a posse de um sentimento de verdade e
sentenciou: mas este cara era um merda. Ele adorava boxe.
Confesso que fui atingido
por um raio. Não só porque nutro pela amigo um sentimento de profundo respeito,
mas porque eu também sou apaixonado pelo que chamam, ou chamavam, esporte dos
reis.
O que há de tão errado no
boxe¿
Hoje pela manhã recebi de
outro amigo querido a notícia de que Cassius Marcellus Clay Jr. ou Muhammad Ali
deixou este mundo.
Ali é certamente o maior
atleta do século. Está em uma galeria onde despontam Pelé, Emil Zatopek, George
Babe Ruth, Mark Spitz e Michael Jordan. Especificamente no ring, ele superou
mitos como Joe Louis, Rock Marciano, Jack La Motta, entre outros.
Seu estilo era
impressionante. Comportava-se como um bailarino. Lutava na ponta dos pés, com a
guarda na altura do ventre e não parava um minuto sobre o ringue, circundava o
contendor e vez por outro desferia seus potentes jabs, que segundo um estudo da
época, equivaliam ao deslocamento de um bloco monolítico de concreto.
Na primeira hesitação do
adversário, despejava seu repertório inteiro com uma velocidade espantosa e em
segundos colocava-o na lona.
Arrogante, convencido,
prepotente. Verdade. Mas, parecia humilde quando conversava sobre o esporte que
o consagraria. Certa vez, em São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera, apresentou-se
numa clínica para uma dezena de lutadores. No embate final enfrentaria o
campeão brasileiro dos pesos pesados, um capitão da PM de nome Luís Faustino.
Não era uma luta para valer.
Apenas exibição. Faustino estava com capacete protetor e nutria uma enorme admiração
por seu contendor. Trocaram jabs. Ali dançava em volta do brasileiro. Até que,
sem se controlar, o americano despejou uma série de golpes. Quebrou o braço
direito do seu oponente. Ficou mortificado sobre o ringue. Durante décadas
sustentou a família do PM.
Fora do ringue, Ali se
equiparou aos gigantes Martin Luther King Jr. e Malcolm X na luta pelos direitos civis nos
Estados Unidos. Confrontou o governo americano ao recusar convocação para
servir na Guerra do Vietnam. Valeu-se da sua condição de deus do esporte para
defender o seu povo e a liberdade.
Vai Ali, que Alá o receba no
Paraíso.
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