Morador de rua em São Paulo: situação perene ou precária |
Confesso que tenho perdido
algum tempo preocupado com a minha sanidade mental. Não é raro eu me confrontar
com a perplexidade. Menos ainda entender que eu não tenho capacidade
intelectual para “entender os novos tempos”. Nesta semana lidei com várias
críticas a política da Prefeitura com moradores de rua.
Pois bem. Foi comum ouvir
que os abrigos municipais impõem regras rígidas para abrigar a população de
rua. Horários. Hábitos de higiene. Proibição de consumo de bebidas alcóolicas e
de drogas. “Os abrigos da prefeitura não atendem as minhas necessidades”, foi o
que ouvimos. “Os banheiros são sujos. Tratam-me como se eu fosse um número.
Falta carinho”.
A condição precária da
vida destas pessoas evidentemente não justifica que os serviços oferecidos pela
Prefeitura sejam desumanos, precários, etc... Mas, em sã consciência, será que
uma noite com temperatura abaixo de 10 graus, sensação térmica de três graus, embaixo
de um viaduto ou numa praça pública, com ratos, pombos e outros bichanos é melhor
que o pior abrigo municipal?
Algumas frases veiculadas
pela CBN:
Valderi Israel da Luz: “É.
Tem que acordar cedo, a gente vai para lá e às vezes acabam te roubando”.
Morador não identificado: “O
banheiro é sujo, as privadas estão muito entupidas. Não tem descarga e o banho
é gelado. E também falta um pouco de organização na hora da janta. Alguns
moradores de rua furam a fila”.
Pedro Vila Nova: “Os
banheiros todos sujos. Os caras fumam maconha lá dentro. Minha droga é cachaça
e cigarro”.
Reportagem de Luiz
Fernando Toledo publicada no Estadão de hoje:
Claudemir Cassiano: “Sou
livre. Não gosto de ter hora para entrar e sair, hora para comer, hora para
tudo. Gosto de fazer minhas regras”.
Ana Paula dos Reis: “Não
gosto de albergue. Eu me sinto mais em casa na rua. Já conheço as pessoas e
posso usar droga à vontade”.
Reportagem da Folha
(Agora) sobre sete mulheres que vivem em comunidade embaixo de um viaduto na
Zona Sul:
Ângela dos Santos: “Os
abrigos são sujos e somos tratados como animais. Temos que sair de lá as cinco
horas (não é verdade!)”.
Sou de um tempo em que as
bandeiras da esquerda eram por salário e moradia digna. E que a população de
rua, ou aquela que vivia em acampamentos, ocupações, etc, lutavam para sair
desta condição. Não para se perenizar nela.
O PT no poder trabalhou
muito para tirar 30 milhões de brasileiros da miséria. Lutou para garantir
educação e saúde pública para todos. Trabalhou para o pleno emprego.
A Prefeitura ofereceu na
última semana 12 mil vagas em abrigos municipais. Em nenhum destes dias houve
falta de oferta. Na noite de quinta para sexta feira 350 vagas ficaram ociosas.
A Guarda Civil
Metropolitana não faz rondas noturnas na cidade. Não aborda moradores de rua de
noite. Tem ordens para não recolher pertences pessoais, nem nada que possa ser
carregado pelos moradores de rua. Entretanto, barracos e abrigos perenes são
proibidos.
Contra o quê estamos
lutando?
Seis moradores de rua
morreram na última semana. Eles fazem parte de uma soma de 12 a 15 que morrem
todos os meses na cidade, independente da estação do ano. Pode fazer frio ou
calor. Morrem de doenças crônicas hepáticas, de pneumonia, de tuberculose,
doenças cardio-vasculares, em sua maioria. O frio agrava este quadro. Sem
dúvida. Mas, ninguém morreu por falta de atendimento ou por intervenção da
Guarda Civil Metropolitana ou de qualquer funcionário da Prefeitura. O próprio
Instituto Médico Legal informou que nenhum dos óbitos se deu por hipotermia.
Querem nos acusar de
higienismo porque o prefeito não quer permitir que prosperem acampamentos, ou
favelas, na cidade. Ele trabalha duro para garantir moradia digna para a
população, inclusive de rua.
Ontem anunciou que vai
instalar quatro tendas (as mesmas usadas na campanha contra a dengue) para
abrigar e tratar moradores de rua, sobretudo, nas noites frias que ainda virão
com o inverno. Institucionalizou um protocolo com a Defensoria Pública
definindo o comportamento aceitável dos agentes públicos. O que pode e o que
não pode ser apreendido. Ampliou o programa Braços Abertos, praticamente
dobrou, para atender a população que quer trabalho e moradia, como forma de
lutar contra o vício do crack.
De novo, contra o quê estamos lutando? E pelo quê estamos lutando?
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