sexta-feira, 17 de junho de 2016

Contra o quê estamos lutando?


Morador de rua em São Paulo: situação perene ou precária

Confesso que tenho perdido algum tempo preocupado com a minha sanidade mental. Não é raro eu me confrontar com a perplexidade. Menos ainda entender que eu não tenho capacidade intelectual para “entender os novos tempos”. Nesta semana lidei com várias críticas a política da Prefeitura com moradores de rua.

Pois bem. Foi comum ouvir que os abrigos municipais impõem regras rígidas para abrigar a população de rua. Horários. Hábitos de higiene. Proibição de consumo de bebidas alcóolicas e de drogas. “Os abrigos da prefeitura não atendem as minhas necessidades”, foi o que ouvimos. “Os banheiros são sujos. Tratam-me como se eu fosse um número. Falta carinho”.    

A condição precária da vida destas pessoas evidentemente não justifica que os serviços oferecidos pela Prefeitura sejam desumanos, precários, etc... Mas, em sã consciência, será que uma noite com temperatura abaixo de 10 graus, sensação térmica de três graus, embaixo de um viaduto ou numa praça pública, com ratos, pombos e outros bichanos é melhor que o pior abrigo municipal?

Algumas frases veiculadas pela CBN:

Valderi Israel da Luz: “É. Tem que acordar cedo, a gente vai para lá e às vezes acabam te roubando”.

Morador não identificado: “O banheiro é sujo, as privadas estão muito entupidas. Não tem descarga e o banho é gelado. E também falta um pouco de organização na hora da janta. Alguns moradores de rua furam a fila”.

Pedro Vila Nova: “Os banheiros todos sujos. Os caras fumam maconha lá dentro. Minha droga é cachaça e cigarro”.

Reportagem de Luiz Fernando Toledo publicada no Estadão de hoje:

Claudemir Cassiano: “Sou livre. Não gosto de ter hora para entrar e sair, hora para comer, hora para tudo. Gosto de fazer minhas regras”.

Ana Paula dos Reis: “Não gosto de albergue. Eu me sinto mais em casa na rua. Já conheço as pessoas e posso usar droga à vontade”.

Reportagem da Folha (Agora) sobre sete mulheres que vivem em comunidade embaixo de um viaduto na Zona Sul:

Ângela dos Santos: “Os abrigos são sujos e somos tratados como animais. Temos que sair de lá as cinco horas (não é verdade!)”.  

Sou de um tempo em que as bandeiras da esquerda eram por salário e moradia digna. E que a população de rua, ou aquela que vivia em acampamentos, ocupações, etc, lutavam para sair desta condição. Não para se perenizar nela.
O PT no poder trabalhou muito para tirar 30 milhões de brasileiros da miséria. Lutou para garantir educação e saúde pública para todos. Trabalhou para o pleno emprego.

A Prefeitura ofereceu na última semana 12 mil vagas em abrigos municipais. Em nenhum destes dias houve falta de oferta. Na noite de quinta para sexta feira 350 vagas ficaram ociosas.

A Guarda Civil Metropolitana não faz rondas noturnas na cidade. Não aborda moradores de rua de noite. Tem ordens para não recolher pertences pessoais, nem nada que possa ser carregado pelos moradores de rua. Entretanto, barracos e abrigos perenes são proibidos.

Contra o quê estamos lutando?

Seis moradores de rua morreram na última semana. Eles fazem parte de uma soma de 12 a 15 que morrem todos os meses na cidade, independente da estação do ano. Pode fazer frio ou calor. Morrem de doenças crônicas hepáticas, de pneumonia, de tuberculose, doenças cardio-vasculares, em sua maioria. O frio agrava este quadro. Sem dúvida. Mas, ninguém morreu por falta de atendimento ou por intervenção da Guarda Civil Metropolitana ou de qualquer funcionário da Prefeitura. O próprio Instituto Médico Legal informou que nenhum dos óbitos se deu por hipotermia.

Querem nos acusar de higienismo porque o prefeito não quer permitir que prosperem acampamentos, ou favelas, na cidade. Ele trabalha duro para garantir moradia digna para a população, inclusive de rua.

Ontem anunciou que vai instalar quatro tendas (as mesmas usadas na campanha contra a dengue) para abrigar e tratar moradores de rua, sobretudo, nas noites frias que ainda virão com o inverno. Institucionalizou um protocolo com a Defensoria Pública definindo o comportamento aceitável dos agentes públicos. O que pode e o que não pode ser apreendido. Ampliou o programa Braços Abertos, praticamente dobrou, para atender a população que quer trabalho e moradia, como forma de lutar contra o vício do crack.

De novo, contra o quê estamos lutando? E pelo quê estamos lutando?



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