sábado, 9 de junho de 2012

Um terremoto que mudou a história



O apocalipse chegou aos portugueses: 1o. de novembro de 1755



No dia 1º de novembro de 1755, a população crente e pia de Lisboa, a capital do reino de Portugal, estava quase toda recolhida nas dezenas de igrejas da cidade para a missa do Dia de Todos os Santos. Eram 9 e 30 da manhã. Como se estivessem sincronizados, os sacerdotes haviam acabado de proferir a homilia, sempre dura voltada aos impiedosos e hereges, e iniciavam a preparação da eucaristia.

Eis que um terremoto de proporções inimagináveis assolou toda a cidade. A bela Lisboa transformou-se em três minutos em um amontoado de escombros. Matou quase todos os devotos nas igrejas. Alguns sobreviveram por sorte ou pela habilidade de escapar ao desmoronamento dos templos. Quinze minutos depois, entretanto, um outro tremor na mesma intensidade, acabou por destruir toda a cidade. Mais quinze minutos e um tsunami vindo pelo Tejo, fez um strike com os barcos que estavam no porto e invadiu a cidade pela praça do Comércio, com tal intensidade que as águas passaram fácil pela Cidade Baixa e chegaram onde hoje é o início da avenida Liberdade (que naquele tempo não existia).

Mas, a desgraça não parou por ai. Um incêndio de grandes proporções tomou os escombros e durou dias. Mais de 80 por cento da população foi praticamente dizimada. A descrição impressionante está no livro do escritor e jornalista americano Nicholas Shrady, The Last Day, traduzido e editado no Brasil pela Objetiva.

No meio de tanta desgraça, o reino de Portugal que vivia encravado no século XIV, com o Estado misturado com a Inquisição e o poder praticamente nas mãos dos jesuítas, assistiu ao proselitismo cristão de que a mão de Deus havia castigado a cidade por sua licenciosidade e por seus pecados. O rei, D.José I, temente e inseguro imaginava mudar a capital para Coimbra ou para a Cidade do Porto, enquanto abrigava a família real em tendas de pano em Belém.

O conde de Oeiras no auge do poder: o estado positivista 

Eis que surge do nada, a figura mirrada e desgastada de um político, na verdade uma espécie de primeiro ministro, que ninguém dava importância. Sebastião José de Carvalho e Melo, filho de um militar medíocre, dedicado a diplomacia e ao comércio exterior, com passagens por Londres, Paris e Madrid, em tempos de obscurantismo e absolutismo, havia conseguido a proeza de ler mais do que um livro na vida.

D.José literalmente sem ação confiou a Sebastião todas as ações para salvar o reino. E aí surgiu o estadista, o gênio político, o visionário.  O então conde de Oeiras, dobrou as mangas rendadas de sua camisa e a partir de um objetivismo raro lançou-se a missão de enfrentar a desgraça. Sua primeira ordem foi: “Enterrem os mortos e alimentem os vivos”.  

A situação era tão séria que não havia gente suficiente para enterrar os mortos e os corpos putrefatos provocavam epidemias, doenças e saques. Sebastião então, confrontou a santa madre pela primeira vez e ordenou que os corpos fossem lançados ao mar, como forma de apressar a limpeza da cidade.

A reconstrução de Lisboa, ainda que tenha sido uma obra maiúscula, foi o pretexto para Sebastião enfrentar o anacronismo de Portugal, separar a Igreja do Estado, abolir a escravatura (que só foi tolerada nas colônias)e acabar com a separação entre judeus novos e judeus convertidos.

O conde de Oeiras tornou-se um verdadeiro “príncipe” no sentido maquiaveliano. Assumiu o estado, perseguiu os inimigos, protegeu os apaniguados, acabou com a Inquisição, expulsou os jesuítas e inseriu Portugal no século XVIII.  Com a morte de D.José I, em fevereiro de 1777, ascendeu ao trono D.Maria I, que a história consagrou como Maria Louca.


Pombal: monumento vislumbra a cidade

Sebastião já com o título de Marques de Pombal foi torpemente perseguido. Destituído, processado, acabou em desgraça. Antes, articulou com seu amigo o Ouvidor Geral da Colônia, Cláudio Manuel da Costa, as bases do que seria a Inconfidência Mineira. Seu pupilo direto, Thomas Antônio Gonzaga foi enviado a Vila Rica, como reforço intelectual para o movimento que pretendia a independência da colônia.

Em menos de 30 anos, Sebastião criou o que se chama de Era Pombalina. Tinha simpatia pelos positivistas franceses e pela independência americana. Morreu em profunda solidão, abandonado por todos. Sobrou dele um impressionante monumento em Lisboa, onde ele vislumbra a Cidade Baixa, ao lado de um leão (símbolo de poder).

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